postado em 12/02/2010 09:21
"Quando perdemos um bebê, o sentimento primário é a impotência. Sentimo-nos impotentes por não conseguirmos mudar o rumo dos acontecimentos. Imaginamos que o amor que sentíamos por aquele pequeno ser que se desenvolvia em nosso ventre não foi suficiente para o protegermos.Em seguida, vem a culpa, porque, de fato, necessitamos de um culpado. E quando não descobrimos um culpado, tornamo-nos, nós, a própria culpa. Neste momento, a mulher vivencia emoções que podem levá-la a um caminho sem regresso.
É urgente que seja compreendida, amada, dignificada num luto, porque mesmo não tendo um corpo físico, o bebê existiu e pulsou. Para aceitar a perda é necessário lembrar daquele bebê sem dor ou angústia, é preciso que a recordação seja um sentimento de saudade, compreensão para depois, finalmente, voltarmos a acreditar.
O acreditar é um conceito que se perde com interrupção involuntária da maternidade. Reavê-lo é uma das maiores lutas que as mulheres travam. Chegar aqui não é fácil, quase sempre é um caminho feito de forma solitária, cuja principal característica é o vazio, o silêncio.
Sem arriscar errar, digo que ninguém, a não ser quem vive esse drama na pele, entende ou tem a noção do que essa perda provoca. A regra é menosprezar. Para a sociedade, a mulher é uma exagerada, as pessoas não entendem porque choramos, não compreendem porque queremos estar sozinhas, não se interessam pela nossa apatia, acham um absoluto disparate não esquecermos o bebê.
[SAIBAMAIS]Eu vejo a perda gestacional como uma problema de saúde pública. É necessário criar e desenvolver estruturas de apoio, mas essencialmente de formação e informação."