Ciência e Saúde

Leia íntegra da entrevista com o biólogo Tiago Quaggio

postado em 12/02/2010 09:28
Como é o trabalho do ICMBIO ; RAN (Centro de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios) na preservação dos crocodilianos?
O RAN é um Centro especializado em conservação de répteis e anfíbios, está vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio/MMA. No que tange a crocodilianos, acreditamos que a melhor forma de garantir a conservação desses animais é através da preservação do seu habitat natural, a manutenção de rios, lagos e mangues é vital para a sobrevivência de jacarés e de toda a fauna e flora associadas à ambientes aquáticos, por isso trabalhamos junto com outros setores do ICMBio e do IBAMA no sentido de garantir a conservação desses ambientes, sendo a criação e implementação de unidades de conservação (Reservas Biológicas, Parques Nacionais, Reservas Extrativistas, etc) a estratégia mais eficiente. Disciplinar o uso dessas espécies também é importante, pois se trata de um grupo de animais que possui valor econômico, sendo a exploração ilegal e irracional uma [SAIBAMAIS]grande ameaça a sua sobrevivência. Atualmente o RAN, juntamente com pesquisadores renomados de universidades e centros de pesquisa de todo o Brasil, realiza pesquisas que visam o desenvolvimento de estratégias de manejo para jacarés, garantindo assim a sua conservação.

Dentre as seis espécies de jacarés que vivem no Brasil, quais são consideradas as mais ameaçadas? Por quê?
No Brasil ocorrem seis espécies de crocodilianos: Jacaré Açu (Melanosuchus niger) e Jacaretinga (Caiman crocodilus) podem ser encontrados nas bacias Amazônica e do Araguaia-Tocantins, o Jacaré do Pantanal (Caiman yacare), como o próprio nome sugere, é uma espécie da bacia do rio Paraguai, o Jacaré de papo amarelo (Caiman latirostris) ocorre nas bacias do São Francisco e Paraná, além de bacias costeiras do RN ao RS. Existem ainda duas espécies do gênero Paleosuchus, conhecidas popularmente pelo termo Jacaré Coroa, uma delas (Paleosuchus palpebrosus) pode ser encontrada em todo o Brasil, com exceção da região Sul, a outra (Paleosuchus trigonatus) é restrita a bacia Amazônica. Nenhuma dessas seis espécies se encontra atualmente na lista Brasileira de animais ameaçados de extinção, os crocodilianos são animais extremamente resistentes e adaptáveis a mudanças ambientais, o que lhes confere uma formidável capacidade de sobrevivência, no entanto a perda de habitat e a caça indiscriminada podem comprometer sua sobrevivência, nesse sentido o jacaré de papo amarelo é a espécie que mais sofre, pois sua área de distribuição geográfica coincide com as regiões mais densamente habitadas do país e, conseqüentemente, a perda de hábitat é grande para essa espécie.

A exploração de pele e carne de jacaré ainda é um problema hoje? Em que regiões é mais comum esse tipo de problema?
A exploração ilegal de crocodilianos ainda é uma realidade no Brasil, principalmente na região amazônica, onde muitas vezes esses animais são abatidos para obtenção de carne, a mesma é muitas vezes acondicionada junto com mantas de pirarucu para burlar a fiscalização, esse mercado ilícito abastece a própria região norte do Brasil, além de países vizinhos como a Colômbia. A principal estratégia para coibir a exploração ilegal de crocodilianos é investir em fiscalização e no manejo sustentável, por meio de um método que consiste em estudar as populações selvagens desses animais e estabelecer cotas de abate baseadas no tamanho dessas populações, além de considerar outros aspectos biológicos e ecológicos dessas espécies, o que resulta em uma atividade controlada e de baixo impacto ambiental, ao contrário da exploração irracional e ilegal. O RAN vem realizando estudos em algumas reservas extrativistas (RESEX) da Amazônia, visando verificar a viabilidade do manejo de jacarés nessas unidades de conservação de uso sustentável, atualmente a RESEX que se encontra em uma fase mais adiantada é a Reserva Extrativista do Lago do Cuniã, em Rondônia, onde já verificamos que existe potencial para manejo. É importante ressaltar que as populações que serão manejadas deverão estar sob monitoramento constante.

E a expansão urbana? Ela também tem prejudicado a continuidade de algumas espécies de jacaré?
No caso do jacaré de papo amarelo, cuja área de ocorrência coincide com os maiores centros urbanos do país, a expansão urbana e a destruição de sistemas fluviais e lacustres tem prejudicado a sua sobrevivência.

Onde esse problema é mais latente?

Nas regiões Sul, Nordeste e Sudeste do país, onde a colonização é mais antiga e não houve no passado a preocupação com a conservação de ambientes naturais.

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