postado em 15/02/2010 10:53
Vespas que escravizam determinadas espécies de aranhas, tornando-as um meio para o crescimento de suas larvas e fazendo-as construir teias resistentes para o armazenamento do casulo. O comportamento dominador de alguns insetos do gênero Hymenoepimecis, ao qual as vespas pertencem, pode parecer curioso para a maioria das pessoas, mas para os pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera parasitoides (Hympar), a prática faz parte de um longo processo evolutivo.
Estudo publicado por uma equipe brasileira no Jounal of Natural History registrou a existência de duas novas espécies de vespas de hábitos parasitoides, a Hymenoepimecis japi e Hymenoepimecis sooretama, capazes de transformar aranhas em verdadeiras escravas. Segundo o biólogo Jober Fernando Sobczak, um dos responsáveis pelo estudo, depois de atacar a aranha, a vespa adulta deposita um ovo em seu abdome. Para conseguir essa façanha, ela coloca um ferrão na boca do aracnídeo, paralisando-o por alguns segundos. Com o passar dos dias, o ovo se transforma em larva, que atravessa alguns estágios de desenvolvimento até secretar sobre a aranha uma substância ou composto químico ainda não identificado. ;Pode ser um neurotransmissor em potencial ou uma neurotoxina que altera o comportamento da aranha em relação à construção da teia. Isso porque a aranha passa a tecer uma estrutura de três a quatro raios e uma parte central onde ficará o casulo;, explica.
Estudos mais detalhados sobre a resistência da teia produzida ainda não foram realizados. ;Aparentemente, a estrutura é bem mais resistente ao peso do casulo e a fatores climáticos, como as chuvas;, enfatiza Sobczak. Também falta explicar melhor a verdadeira composição da substância que a larva injeta na aranha, com o objetivo de manipulá-la. ;O intuito é desvendar esse mistério nos próximos estudos. Sabemos que é possível a existência de propriedades farmacêuticas nessa substância, pois o composto se mostra bastante forte;, afirma.
Segundo o biólogo, algumas pessoas utilizam erroneamente o termo parasita para designar espécies que se beneficiam de outras para seu desenvolvimento. ;O termo correto é parasitoide, pois ao final do desenvolvimento da larva, o hospedeiro (no caso a aranha) é morto;, explica. Os hábitos parasitoides das vespas podem ser aplicados em aranhas machos e fêmeas. ;Porém, a fêmea é o hospedeiro preferido. Além de ter um tempo maior de vida, ela possui uma biomassa mais atraente que a do macho. Isso conta bastante para o desenvolvimento da larva. A vespa também dá preferência a aranhas de tamanhos medianos, pois o grau de dificuldade do ataque é menor;, explica.
Pesquisas realizadas anteriormente pelo mesmo grupo de cientistas já haviam atestado o mesmo comportamento dominador. Uma interação parecida foi descrita em 2007, entre a vespa Hymenoepimecis veranii e a aranha Araneus omnicolor ; as duas novas espécies de vespas estudadas são capazes de dominar os aracnídeos Leucage roseosignata e Manogea porracea. Além disso, os especialistas já haviam colhido informações mais gerais a respeito do voo, do ataque aos hospedeiros, da deposição e da eclosão do ovo, além do comportamento alimentar. A Reserva Florestal da Companhia Vale, em Sooretama (ES), e a Reserva Ecológica da Serra do Japi, em Jundiaí (SP), são as áreas escolhidas para a realização dos estudos.
Equilíbrio biológico
O gênero Hymenoepimecis inclui nove espécies, que ocorrem apenas na região neotropical. Segundo a coordenadora do Hympar, Angélica Maria Penteado, as vespas são grandes, de cor marrom-amarelada e com grandes ocelos (olhos primitivos). Além disso, segundo ela, costumam ser ativas durante a noite. ;No Brasil, ocorrem principalmente em ecossistemas naturais, como áreas de mata e de cerrado, principalmente em ambientes úmidos;, ensina. Conforme a especialista, depois que a larva cresce no abdome da aranha, alimentando-se do hospedeiro, ela tece um casulo de seda dourado dentro do qual se transforma em pupa (inseto na fase intermediária entre a larva e a fase adulta). ;Com isso, emerge uma vespa adulta, que sai do casulo abrindo um orifício por meio de suas mandíbulas. Por fim, a vespa parasitoide elimina o seu hospedeiro;, destaca.
Insetos classificados como parasitoides, de acordo com ela, são considerados inimigos naturais de algumas espécies. ;Entretanto, na maior parte das vezes, eles são importantes para manter o equilíbrio biológico;, enfatiza. Trabalhos de observação do comportamento dos animais envolvidos nessa interação, na opinião da coordenadora, são importantes, pois acrescentam conhecimentos biológicos a um grupo ainda pouco conhecido. A mudança comportamental induzida pela ação do parasitoide pode conduzir a novas pesquisas. Já os dados de comportamento podem esclarecer pontos obscuros sobre a origem evolutiva.
A especialista lembra ainda que a realização dos trabalhos em campo ; que se destinam à observação do comportamento e da interação entre as espécies ; só é possível se houver conhecimentos da taxonomia (ciência da identificação) dos grupos envolvidos. Segundo Angélica, além de ter sido descrito em um periódico especializado, o trabalho de identificação feito pelos pesquisadores se encontra depositado na coleção taxonômica do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Ufscar. <-- --> <--
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