postado em 20/02/2010 08:05
Na noite de 28 de setembro de 1969, uma bola de fogo cruzou o céu da Austrália. A terra tremeu quando uma chuva de meteoritos caiu na vila rural de Murchison. Os pedaços foram encontrados pelos moradores e depois recolhidos pela Agência Espacial Americana (Nasa). Em análises feitas em diversas partes do mundo, cientistas descobriram a existência de componentes químicos. Quarenta anos depois, os enigmas sobre a rocha brilhante continuam a ser desvendados. Em um novo estudo feito pelo Instituto de Química Ecológica em Nurembergue, na Alemanha, pesquisadores conseguiram identificar 14 mil arranjos de átomos diferentes, o que pode levar a milhares de moléculas à base de carbono e compostos orgânicos. O resultado pode ajudar a comunidade científica a entender a origem do Sistema Solar.
O meteorito tem a capacidade de carregar traços do Universo. Cálculos dos cientistas indicam que a rocha pode ser mais antiga que a Terra, formada há cerca de 4,5 bilhões de anos. ;A composição química do meteorito de Murchison permaneceu basicamente inalterada desde então e, por isso, ele pode ser visto como um verdadeiro fóssil do Sistema Solar, que possui 5 bilhões de anos aproximadamente. O estudo de suas composições pode nos revelar importantes informações sobre sua origem, formação e evolução;, comenta José Leonardo Ferreira, doutor em ciências espaciais pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília (UnB).
O novo estudo conseguiu identificar, além de 14 mil compostos moleculares, outros 70 aminoácidos. Para os pesquisadores, os diversos elementos químicos podem indicar que, durante sua formação, o Sistema Solar deveria ter uma diversidade molecular maior que a da Terra. Uma das teorias é que o meteorito pode ter passado por nuvens primordiais na formação dos planetas e tenha capturado alguns compostos orgânicos. Outra possibilidade é que ele possa ter se alterado ao entrar na atmosfera terrestre. ;A formação do meteorito pode ter sido resultado de reações com a nébula solar, da superfície com moléculas e íons interestelares ou mesmo sido formado com a pressão e a temperatura do espaço, alteração aquosa ou até mesmo radiação UV (ultravioleta);, disse ao Correio Philippe Schmitt-Kopplin, um dos autores da pesquisa.
Variedade
O meteorito já tinha sido estudado anteriormente em busca de componentes específicos, mas essa foi a primeira vez que a análise confirmou uma grande variedade de moléculas à base de carbono. A equipe de Schmitt-Kopplin identificou os compostos usando máquinas de alta resolução, inclusive um espectroscópio. Eles tiveram que amassar alguns miligramas do material para misturá-lo com solventes e fazer as análises.
Por ter sido recolhido logo após a queda, o meteorito de Murchison teve os riscos de contaminação na Terra limitados. Outras análises científicas sugerem que algumas moléculas precursoras da vida podem ter vindo do espaço, mas o cientista diz que ainda não é possível fazer essa relação. ;Os resultados não estão ligados a possibilidades biológicas, mas à simples descrição de um experimento de alta complexidade;, afirma Schmitt-Kopplin.
;Eu diria que esse é mais um trabalho complementar. Muitos outros estudos sobre o Murchison devem surgir;, acredita José Leonardo Ferreira. ;Nossos meteoritos fazem parte da história do Sistema Solar. Além de possibilitar a descoberta da origem de vários compostos químicos, encontrados nos planetas e em suas luas, esses estudos também poderão em um futuro próximo ajudar a revelar a origem das moléculas que compõem os carboidratos e proteínas constituintes do DNA e do RNA. Esses estudos de fato poderão contribuir para as pesquisas sobre a origem da vida na Terra;, completa o astrofísico brasileiro.
Três perguntas para
PHILIPPE SCHMITT-KOPPLIN
Que tipo de compostos orgânicos o senhor encontrou no meteorito de Murchison?
Nós conseguimos comprovar uma grande diversidade química no meteorito. Nós encontramos uma série homóloga de moléculas que continham carbono, hidrogênio, nitrogênio, enxofre e oxigênio preenchendo o espaço nas composições elementares. Nós procuramos apenas por compostos ionizantes. Nós hipotetizamos uma formação de dois passos, com compostos formados por um tipo de molécula CHNO em uma primeira fase e de CHNOS em um segundo passo, provavelmente por interação com a fase mineral.
Essas descobertas podem indicar traços de vida fora da Terra?
Não necessariamente. Nós conseguimos ver uma série de moléculas mostrando uma síntese de formas abióticas, e não biológicas. Nosso estudo tem uma abordagem química analítica e não astrobiológica.
Como essas moléculas orgânicas do meteorito podem ter sido formadas?
A literatura científica tem hipóteses em relação a isso. Pode ter sido resultado de reações com a nébula solar ou todos esses componentes podem ter sido formados com a pressão e a temperatura do espaço, alteração aquosa ou até mesmo radiação UV. E isso é apenas a base da complexidade.
Tubo de ensaio
(fatos científicos que marcaram a semana)
AP/ABC, Scott Garfield-File
; DOMINGO, 14
Lição errada na tevê
Assistir a seriados médicos na tevê pode não ser o melhor caminho para aprender o que fazer quando alguém tem uma convulsão. Um estudo apresentado pela Academia Norte-americana de Neurologia mostrou que, em 50% das cenas que simulam esse tipo de crise, os atores que interpretam médicos e enfermeiros agem de maneira errada. O dado preocupou os autores da pesquisa. ;Os seriados são um método potencialmente poderoso de educação do público sobre primeiros socorros. Por isso, pessoas com epilepsia deveriam fazer um lobby junto à indústria televisiva para que fossem mostrados os procedimentos corretos;, disse o autor principal do levantamento, Andrew Moeller. Para o estudo, os médicos analisaram todos os episódios das séries de maior audiência nos Estados Unidos e que também fazem sucesso por aqui: Grey; s Anatomy (foto), House, Private Practice e ER.
; SEGUNDA-FEIRA, 15
Botox contra enxaqueca
Um estudo preliminar publicado na revista especializada norte-americana Archives of Dermatology mostrou que a injeção de botox pode ser mais que uma arma contra as rugas. Quando aplicada com objetivos cosméticos, a substância também atua na redução de crises de enxaqueca. Foram estudados 18 pacientes com idade média de 50,9 anos que já haviam ou pretendiam usar o botox com finalidade estética e que relatavam sentir fortes dores de cabeça. Três meses depois do tratamento, 13 voluntários afirmaram que a enxaqueca melhorou. Para os cientistas, a experiência é um indicativo de que o botox pode agir bloqueando os receptores de dor do sistema nervoso.
; TERÇA-FEIRA, 16
A morte de Tutancâmon
O jovem e lendário faraó Tutancâmon, que teria morrido misteriosamente há mais de 3 mil anos, faleceu, na verdade, de malária combinada com uma infecção óssea, segundo estudo divulgado nos Estados Unidos. A equipe de pesquisadores, liderada por Zahi Hawass, responsável pelas antiguidades egípcias do Museu do Cairo, utilizou vários métodos científicos, incluindo radiologia e análise de DNA para chegar à conclusão. ;Esses resultados permitem pensar que uma circulação sanguínea insuficiente dos tecidos ósseos, que debilitou e destruiu parte da ossatura, combinada com malária, foi a causa mais provável da morte de Tutancâmon;, disse Hawass, cujo trabalho foi divulgado no jornal da Associação Médica Norte-americana.
Nasa/Divulgação
; QUARTA-FEIRA, 17
Primeiras imagens do Wise
A Nasa divulgou as primeiras quatro imagens feitas pelo supertelescópio espacial Wise, que começou a escanear o universo com luz infravermelha no mês passado. As fotos mostram um cometa, uma estrela, a Galáxia Andrômeda e um grupo distante de centenas de galáxias. Os registros do Wise vão ajudar nas missões dos astronautas, ao localizar corpos celestes que possam ser importantes para a pesquisa. Uma das imagens exibe a beleza de um cometa chamado Siding Srping (foto). O rabo do cometa, que se estende por mais de 16 milhões de quilômetros, foi o que mais chamou a atenção dos cientistas.
; QUINTA-FEIRA, 18
Yvo de Boer deixa a ONU
O holandês Yvo de Boer anunciou sua demissão do posto de autoridade máxima das Nações Unidas para as mudanças climáticas. Secretário executivo do Painel das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) desde setembro de 2006, De Boer disse que, a partir de 1; de julho, não será mais o ocupante do cargo, e que começará a trabalhar para um grupo de consultoria KPMG e a colaborar para várias universidades. Sua decisão chegou dois meses depois da cúpula de Copenhague, realizada de 7 a 19 de dezembro de 2009, vista como uma decepção e mesmo como um fracasso por muitos de seus participantes.
"Foi uma decisão difícil, mas acredito que era tempo de assumir um novo desafio, trabalhando com clima e sustentabilidade no setor privado e na universidade"
Yvo de Boer, em comunicado à imprensa
Yvo de Boer, em comunicado à imprensa
; SEXTA-FEIRA, 19
"Arquivos X" liberados
O site da BBC informou que o Ministério da Defesa e os Arquivos Nacionais da Grã-Bretanha liberaram mais de 6 mil páginas de documentos que incluem relatos de aparições de Ovnis (objetos voadores não identificados) entre 1994 e 2000. Um deles mostra a suposta aparição de objetos que sobrevoavam o Chelsea, clube de futebol de Londres, e a residência de um ex-ministro do Interior, Michael Howard. Os relatos detalham a aparência dos objetos ; de vários formatos e tamanhos ; e incluem desenhos feitos por testemunhas. Durante um mês, os documentos estarão livres para download, no endereço http://ufos.nationalarchives.gov.uk.