postado em 22/02/2010 14:42
O motorista Flávio Werlei de Sousa, 38 anos, sofria com dor no nervo ciático desde 2007. O problema o incapacitou para o trabalho e fazia uma simples caminhada parecer uma maratona. Até obter o diagnóstico correto do mal, Flávio fez uma verdadeira peregrinação por ortopedistas, neurologistas e reumatologistas; chegou a ser submetido à cirurgia de varizes, que não amenizou em nada a agonia; e perdeu a conta da quantidade de medicamentos que tomou tentando se livrar do desconforto. ;A dor era horrível, irradiava pela perna esquerda. Não encontrava posição que aliviasse. Era uma tortura;, conta. ;Nem apontar o local que mais doía para os especialistas eu conseguia. Durante meses, tentei a fisioterapia e a acupuntura. Tudo em vão. Fiquei desesperado.;A dor ciática acomete homens e mulheres em todas as idades. No entanto, é mais comum dos 30 anos aos 40 anos, faixa etária na qual excessos, como sobrecarga de exercícios e de peso, são mais frequentes. Coordenador do departamento de coluna da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, o neurocirurgião Márcio Vinhal explica que o ciático é formado por três raízes nervosas básicas com origem na coluna lombo sacra. ;É o nervo mais longo do corpo humano, leva enervação para toda a musculatura dos membros inferiores, sendo responsável pela sensibilidade, flexibilidade e força da região lombar, nádegas, pernas e pés;, detalha.
Embora não existam estudos que comprovem a frequência da dor ciática na população brasileira, o especialista garante que ela é ;alta; e virou um motivo recorrente de afastamento do trabalho e de atividades rotineiras. Vinhal pondera que a ciatalgia é sintoma de algumas doenças. ;A hérnia de disco é a maior causadora desse tipo de dor, seguida da degeneração natural desses discos intervertebrais, cujas funções são evitar o atrito entre uma vértebra e outra e amortecer o impacto entre elas,;, revela. O comprometimento do ciático também pode ser resultado do escorregamento (deslocamento) da coluna e do encolhimento do canal vertebral, problemas que comprimem o nervo e, consequentemente, provocam a sensação dolorida. ;A boa notícia é que os males podem ser controlados. Apenas 10% dos pacientes com dor ciática precisam de tratamento. A cirurgia deve ser o último recurso, indicada quando as outras terapias falharam;, especifica.
Dirigindo ônibus em viagens interestaduais, Flávio Werley de Sousa passava toda a jornada de trabalho sentado, um fator de risco para a dor ciática. Esportistas que submetem o corpo a impactos de alta intensidade também estão mais expostos a traumas na inervação, fraturas na lombar e à própria hérnia de disco. O motorista tinha duas, além de artrose na coluna. ;Não conseguia mais dirigir. A dor também me tirou o sono. Minha vida estagnou. A cirurgia foi feita na segunda-feira de carnaval e já consigo caminhar sem sentir o incômodo. Comecei a fazer a fisioterapia para recuperar os movimentos;, conta.
A aposentada Lenita Guimarães Muniz, 62 anos, também é vítima da dor ciática. Assim como Flávio, antes de ter o diagnóstico de hérnia de disco entre as vértebras L4 e L5, ela peregrinou por diversos consultórios médicos. ;Minha dor irradiava pelas nádegas e pernas. Não tinha força para andar. Era como se eu não conseguisse comandar meu próprio corpo. Caí algumas vezes, fiquei de cama;, conta. Lenita encontrou na hidroterapia e na acupuntura duas grandes aliadas. ;Sem elas não estaria andando. A hidro fortalece o ciático e solta a musculatura. A acupuntura cuida do processo inflamatório e ameniza a dor. Elas estão incorporadas na minha rotina. Se fico uma semana sem fazer qualquer uma das duas, meu nervo retrai e o pesadelo volta;, resume.
Sintomas
O presidente do comitê de coluna da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), Sérgio Zylbersztejn, acrescenta que sequelas de fraturas na porção inferior da coluna, tumores que comprimem o nervo e doenças reumáticas também podem causar dor ciática. A ciatalgia se manifesta como queimação, fisgadas, dormência e falta de sensibilidade, ocorrendo no local da lesão ou em uma região que o nervo percorre. ;O segredo do tratamento depende da descoberta da causa. O médico deve pesquisar e indicar a origem da dor. Isso transcende a especialidade. O importante é procurar um profissional de confiança que se empenhe na busca;, aconselha. O diagnóstico demanda pesquisa clínica e exames, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada.
Confirmado o diagnóstico, é indicado o tratamento medicamentoso, sempre aliado a exercícios físicos direcionados e terapias que aliviam os sintomas, como a acupuntura. ;A hérnia de disco tem natureza genética. Fortalecer a musculatura de suporte da coluna é fundamental para todos, mas para quem tem tendência ao mal, ela é vital;, garante. Controlar o peso, ter boa postura, e não deixar os músculos preguiçosos postergam ou até evitam a manifestação do problema. A cirurgia controla os sintomas e alivia rapidamente a dor incapacitante, mas deve ser indicada em último caso. ;Menos de 5% dos pacientes que sofrem dor ciática em decorrência de hérnia de disco têm indicação cirúrgica. Muitos procedimentos são realizados sem necessidade;, confirma Zylbersztejn.
Atividade física é fundamental
Um tratamento fisioterapêutico que alia fisioterapia manual, com mesas de tração e descompressão do ciático e das estruturas posturais da coluna vertebral, além do trabalho de musculação ou pilates, tem trazido bons resultados no controle da dor originada no nervo ciático. ;Existe um tabu muito grande por parte de pacientes que sofrem com hérnia de disco em relação à atividade física. Muitos acreditam que ela é proibida. Estudos comprovam justamente o contrário. O sedentarismo é uma das principais causas de problemas no ciático e na coluna lombar;, explica Helder Montenegro, fisioterapeuta osteopata do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral, presente em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Fortaleza.
A proposta da equipe do fisioterapeuta consiste em um protocolo que reúne várias técnicas. Juntas, elas atuam na reconstrução músculo-articular da coluna vertebral. Segundo Montenegro, diante da comprovação médica que identifica o local da lesão no ciático, a primeira etapa do programa é a fisioterapia manual para soltar a musculatura, seguida do tratamento em mesas de tração. ;Elas promovem a força descompressiva no eixo da coluna, aumentando o espaço intervertebral, alongando os músculos e melhorando a mobilidade dos ligamentos. Em suma, aplacam a dor e permitem que a pessoa volte a se movimentar bem;, sintetiza.
Controlado o desconforto, o tratamento é complementado com musculação ou pilates, que proporcionam a manutenção dos benefícios da primeira etapa. ;Eles previnem novas crises. Bem orientados e direcionados, os exercícios produzem o efeito terapêutico desejado sem sobrecarregar as estruturas de risco. Temos resolvido 87% dos casos que chegam até o instituto;, aponta o fisioterapeuta.
A bancária Gorete Meneses, 48 anos, foi um deles. Ela revela que a dor no ciático a impedia de ficar sentada e que os médicos tinham indicado a cirurgia de hérnia de disco. ;Fiz o tratamento para tentar me livrar do procedimento cirúrgico. A dor está controlada, recuperei os movimentos e não abro mais mão do pilates, que revigorou minha estrutura física;, destaca.