Ciência e Saúde

Craniopuntura promove alívio "rápido e excepcional" em casos de dor, dizem especialistas

postado em 10/03/2010 08:10
Reconhecida pelo meio científico e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde a década de 1970, a acupuntura vem se aperfeiçoando e ganhando cada dia mais adeptos no mundo ocidental. A craniopuntura, considerada uma nova especialidade dentro da milenar terapia chinesa, tem provado que mesmo os recursos mais tradicionais da medicina oriental são passíveis de evoluções. A técnica, usada há apenas meio século, trabalha a inserção de agulhas no crânio e, segundo seus defensores, apresenta ótimos resultados no alívio da dor crônica, tratamento de danos neurológicos decorrentes de acidentes vasculares cerebrais, doenças degenerativas, hipertensão e até transtornos psicossomáticos.

Dirce controla a dor ciática com a craniopuntura: 40 anos com as agulhasO ginecologista Francisco Souza, especialista em acupuntura pelo Instituto Internacional de Acupuntura de Pequim, aplica a craniopuntura desde a década de 1980. Ele explica que, atualmente, os acupunturistas lançam mão da craniopuntura tradicional, desenvolvida por um neurocirurgião chinês e mais direcionada à área neurológica, e da de Yamamoto, aprimorada por um médico japonês. ;Yamamoto abriu o leque de tratamento da craniopuntura para problemas funcionais, como dores de cabeça, dores neuromusculares, inflamações e males decorrentes do estresse do dia a dia, como a insônia;, pontua.

A craniopuntura original trabalha pontos localizados em linhas identificadas como meridianos na cabeça. Pelo método de Yamamoto, essas delimitações não existem. ;Os dois métodos não são excludentes. Podemos usar ambos em uma mesma sessão;, pondera.

Além da emergência

Francisco Souza, conhecido como Chico Agulha, observa que os efeitos da craniopuntura são imediatos em relação à dor, bloqueada com a inserção das agulhas. Segundo ele, muitos pacientes chegam às clínicas sem conseguir se movimentar, totalmente travados. ;Depois de uma sessão, muitos saem andando. A craniopuntura é excelente em situações emergenciais, mas deve ser complementada, para o alívio não ser apenas momentâneo;, sustenta.

O médico afirma que estudos conduzidos em diversas partes do mundo buscam entender o mecanismo de bloqueio da dor. Alguns enfatizam que a estimulação feita pelas agulhas na cabeça, região tão próxima ao córtex cerebral, altera rapidamente o quadro da dor. Outra explicação estaria ligada à codificação do corpo inteiro, já que a medicina chinesa trabalha pontos que têm a codificação neurológica de todo o organismo. ;Além do alívio excepcional da dor, a craniopuntura tem se mostrado eficiente em problemas emocionais. Tenho tido resultados excelentes em pacientes com insônia, depressão e pânico. Muitos conseguem diminuir ou mesmo se livrar dos remédios;, alerta.

Pessoas com sequelas neurológicas também encontram alento na craniopuntura, que proporciona a recuperação de parte dos movimentos. O acupunturista Marcos Evandro de Brito Santos, coordenador da Escola Nacional de Acupuntura, explica que todo estímulo nervoso passa pelo cérebro. As agulhas inseridas em pontos da cabeça promovem o equilíbrio da pessoa. ;Elas sedam, tonificam, desbloqueiam ou fazem a energia do organismo circular. Por isso, temos conseguido destravar os movimentos de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral ou danos neurológicos;, enfatiza.

Segundo ele, quanto antes for feita a intervenção em casos de AVC, melhor para o paciente que busca a recuperação de membros afetados. ;Nos casos em que a pessoa não consegue recuperá-los, conseguimos ao menos relaxar a musculatura;, garante.

O pequeno Ângelo Duarte Medrado Neto, 8 anos, estava com o corpo completamente travado há cinco anos. Vítima de um quase afogamento, a criança sofreu danos cerebrais permanentes. ;A fisioterapia não conseguiu soltar os músculos e resolvemos recorrer à craniopuntura. Fiquei impressionada desde a primeira sessão. Tanto os braços quanto as pernas de Ângelo se soltaram. Antes, ele ficava deitado o tempo inteiro, o corpo estava muito rígido e as mãos ficavam feridas. Foi emocionante verificar o relaxamento da musculatura, vê-lo sentar depois de tantos anos;, conta Veridiana Medrado, mãe de Ângelo.

Ela revela que o filho tinha ainda muita febre e secreções no pulmão, problemas que também foram aliviados com a craniopuntura. ;A pupila, que era completamente dilatada, está bem melhor. Hoje, Ângelo já responde a alguns estímulos, passou a engolir melhor os alimentos e consegue balbuciar meu nome. Para complementar a craniopuntura, faço as massagens diárias recomendadas. Em relação ao estado que ele estava, a melhora é de 100%;, aponta.

A livreira Dirce Rodrigues Santana, 67 anos, resolveu a dor ciática com a craniopuntura. Adepta da técnica chinesa clássica há mais de 40 anos, ela diz que é importante que o paciente tenha disciplina no tratamento. ;É uma terapia, um processo. A primeira sessão de craniopuntura promove uma resposta imediata em relação à dor, ao retorno dos movimentos, mas é preciso tratar a raiz do mal. Sessões complementares são importantes e as mudanças de postura e hábitos são fundamentais;, considera.

; Palavra de especialista
Energia que dá vida


A história da acupuntura confunde-se com a história da própria medicina na China, que existe há mais de 5 mil anos. A escrita milenar chinesa permitiu a continuidade do conhecimento e, posteriormente, outros países orientais contribuíram para o desenvolvimento das técnicas dessa terapia. Os orientais partem do pressuposto que existe uma energia que permeia e dá vida a todo ser humano. Essa energia, conhecida como Qi, circula no corpo por meio de caminhos denominados meridianos. A inserção de agulhas em determinados pontos equilibra as forças opostas do Yin e do Yang. A acupuntura permite o estímulo preciso de regiões do corpo, promovendo a promoção, manutenção e recuperação da saúde, bem como a prevenção de doenças. A maior conquista da craniopuntura é a resposta rápida para pacientes com problemas no sistema nervoso central (SNC). As agulhas, na verdade, agridem o SNC, que se defende. É essa resposta que promove a reversão da limitação e o retorno do equilíbrio.

Aparecida Enomoto é médica, com especialização em acupuntura pela Universidade de Medicina Tradicional de Pequim

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação