Ciência e Saúde

Fóssil encontrado aponta que animais evoluiram da água para a terra

Fóssil encontrado nos Estados Unidos ajuda cientistas a afirmar que os animais deixaram de viver predominantemente em meio aquático para habitar o solo firme há cerca de 300 milhões de anos

Paloma Oliveto
postado em 16/03/2010 09:12
Um crânio de 11,5cm encontrado próximo ao Aeroporto Internacional de Pitisburgh, no estado norte-americano da Pensilvânia, é a resposta para uma pergunta até então misteriosa para a paleontologia: afinal, quando a superfície da Terra começou a ser povoada? Há 300 milhões de anos, de acordo com uma nova espécie descoberta em 2004 e descrita na edição de ontem do periódico especializado Annals of Carnegie Museum, publicação do Museu de História Natural de Carnegie.

Os ossos pertenciam a um gênero de anfíbio carnívoro que migrou da água para a terra firme 20 milhões de anos antes do que se imaginava. Parecido com uma salamandra, o animal era da família dos tetrápodes, classe de vertebrados terrestres de quatro membros, e viveu no Período Pensilvaniano Tardio, 70 milhões de anos antes dos dinossauros existirem.

A nova espécie foi batizada de Fedexia striegeli, por ter sido encontrada num terreno pertencente à empresa de transporte internacional FeDex. Seu segundo nome é uma homenagem a Adam Striegel, que encontrou os ossos durante uma excursão geológica quando era aluno da Universidade de Pitisburgh. De acordo com os cientistas, que há seis anos se debruçam no estudo do crânio, o achado é um dos raríssimos fósseis dos primeiros anfíbios a habitar a Terra, sendo que a migração da água para o solo foi consequência das mudanças climáticas vivenciadas pelo planeta naquela época.

Diferentemente de outros anfíbios do Pensilvaniano Tardio, que saíam da água raramente, o Fedexia fazia parte de um grupo extinto chamado Trematopidae, que vivia na superfície terrestre e só entrava no ambiente aquático para se acasalar ou colocar ovos. O sucesso da existência do animal se deu graças à transição do clima da Terra.

No início do Pensilvaniano, as glaciações na região polar sul produziam constantes flutuações na temperatura do globo. O oeste da Pensilvânia, que, naquela época, era próximo à linha do Equador, estava sujeito a tempestades constantes, criando um ambiente favorável à formação de pântanos ; que mais tarde virariam grandes depósitos de carvão ; e à disseminação dos anfíbios. Por causa disso, o período também é conhecido como ;era dos anfíbios;.

Porém, quando o Fedexia começou a se desenvolver, uma grande quantidade da água que circulava no planeta virou geleiras polares. O nível do mar aumentou e uma porção considerável de terra submergiu. Vastas regiões do planeta ficaram secas e quentes, incluindo o oeste da Pensilvânia. Os pântanos e lagos secaram e muitas espécies de plantas foram extintas. Nesse momento, para se adaptar a um clima que passou de tropical para semiárido, a população de anfíbios mudou de predominantemente aquática para terrestre.

Na época, os anfíbios que passaram da água para a superfície se alastraram pelo globo e se tornaram mais abundantes e variados do que os que continuaram dentro dos lagos. ;A mudança climática criou alterações no ambiente físico. Essas alterações no habitat e na fonte de alimentação provocaram um estresse fisiológico na população de anfíbios que, consequentemente, passaram pela pressão da seleção das espécies e acabaram se adaptando;, disse ao Correio David Brezinski, coautor do estudo.

De acordo com outro autor da pesquisa, o paleontólogo David S. Berman, é possível que parentes próximos ao Fedexia já tenham ocupado a superfície da Terra poucos milhões de anos antes, vivendo, porém, em regiões com características geológicas que dificultam a fossilização. Porém, com a mudança climática, os anfíbios se alastraram pelo globo, passando a habitar áreas que favorecem o acúmulo de sedimentos, como o oeste do estado norte-americano.

Lacuna
;Depois de 5 milhões de anos do aparecimento dos anfíbios, temos uma lacuna de 30 milhões de anos no registro de fósseis, até o advento do Período Pensilvaniano;, disse Berman ao Correio. ;Esse espaço de tempo é chamado pelos paleontólogos de ;Romer;s Gap;, em referência a A. S. Romer, da Universidade de Harvard, que, sem dúvida, foi o mais proeminente paleontólogo de vertebrados da segunda metade do século 20. Ele passou grande parte de sua carreira tentando, sem sucesso, preencher esse espaço vazio;, conta o cientista. Segundo Berman, provavelmente, todas as grandes linhagens do Pensilvaniano e do período Permiano estão dentro desse gap. Não há explicação razoável para a falta de fósseis desse período, a não ser a ausência de registros geológicos de todos os tipos de sedimentos necessários para preservar seus restos;, afirma.

Já o crânio do Fedexia foi tão bem preservado que ele mantém a aparência tridimensional original. Nenhum esmagamento depois de sua morte ocorreu, de forma que todos os ossos estão nos devidos lugares, algo raro, quando se trata de fósseis com milhões de anos. Graças à perfeição do estado do fóssil, os paleontólogos conseguem ter uma ideia de como seria sua aparência. De acordo com Berman, ele seria como uma salamandra gigante, com meio metro de largura e o corpo coberto por escamas ásperas. A presença de caninos afiados é uma prova de que ele era carnívoro, embora não seja possível dizer exatamente o que comia ; provavelmente, insetos grandes ou anfíbios menores que ele.

Primeiros répteis
Esse período geológico ocorreu na sexta fase da Era Paleozoica e é caracterizado pelo aparecimento dos primeiros répteis e a disseminação das florestas tropicais úmidas.
Alguns cientistas o consideram um período independente; para outros, se trata de uma subdivisão do Período Carbonífero.
Nessa época, a geografia do mundo mudou bastante, com a formação gradual do supercontinente Pangeia.

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