Paloma Oliveto
postado em 20/03/2010 07:00
Os sedentários não podem mais usar a falta de tempo como desculpa. Uma pesquisa canadense publicada no periódico internacional Journal of Physiology sustenta que se exercitar durante poucos minutos por dia, mas em ritmo intenso e com intervalos curtos, é tão eficaz quanto passar horas dentro de uma academia. Além de queimar calorias e manter o corpo tonificado, o programa desenvolvido e avaliado pelos pesquisadores da Universidade de McMaster mostrou-se uma boa opção no controle de doenças metabólicas, como o diabetes melito.Os voluntários que participaram do estudo foram submetidos a seis rápidas sessões de treino, durante 14 dias. Depois de duas semanas, os resultados que eles obtiveram foram os mesmos alcançados por quem estava se exercitando por mais de uma hora ao dia. Cinco anos atrás, o professor Martin Gibala, principal autor da pesquisa, já havia tido êxito ao testar os efeitos do treinamento curto e intenso. Mas, na ocasião, foram utilizadas bicicletas especiais, desenvolvidas em laboratório somente para a pesquisa. Os participantes pedalavam 30 segundos na frequência máxima que conseguiam alcançar, e descansavam por quatro minutos, repetindo o exercício entre quatro e seis vezes.
Agora, porém, Gibala quis verificar se os benefícios seriam iguais mesmo com um equipamento comum. No novo estudo, os voluntários se exercitaram em uma ergométrica normal, com uma carga que os deixava com frequência cardíaca acelerada. O treino durava de 20 a 25 minutos, incluindo os intervalos de 75 segundos depois de cada rodada de pedaladas. ;Esse estudo demonstrou que um modelo prático, com pouco volume de exercícios praticados em alta intensidade, estimula a capacidade de ação das mitocôndrias presentes no músculo, promovendo uma atividade metabólica maior. A falta de tempo é a barreira mais citada pelas pessoas para justificar o sedentarismo, então, achamos que o treino pode preencher essa lacuna;, justificou Gibala na apresentação do estudo.
A pedido do Correio, o professor Antonio Carlos da Silva, do Departamento de Fisiologia da Universidade de São Paulo e do Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício, analisou o trabalho de Gibala. Para ele, os benefícios musculares são, de fato, interessantes. Mas o especialista ressalta que o pesquisador não se debruçou sobre os efeitos cardiovasculares da prática. ;O trabalho é muito bom, publicado em uma das mais conceituadas revistas da área. Realmente, é válido o otimismo dos autores quanto aos benefícios musculares. Por outro lado, há necessidade de cautela, pois nada foi dito sobre os benefícios cardiovasculares. A grande meta dos exercícios aeróbios é a obtenção dos benefícios cardiovasculares centrais, ou seja, cardíacos e com efeitos redutores dos fatores de risco para doenças crônicodegenerativas;, avalia.
O professor destaca que o novo tipo de tratamento traz benefícios para os músculos em menos tempo de treino, com ;potenciais repercussões sobre a performance; de quem o pratica, sendo indicado para os que buscam esse objetivo no esporte. ;Geralmente, mas não exclusivamente, são pessoas mais envolvidas em atividades competitivas;, diz. ;É preciso ressaltar que os benefícios da atividade física para a saúde devem contemplar a força e a resistência muscular, a composição corporal, a flexibilidade e a capacidade aeróbia que, bem trabalhada, beneficia principalmente o sistema cardiovascular;, afirma. ;O protocolo apresentado na pesquisa pode colaborar de várias formas para obtenção desses objetivos, mas não é suficiente, isoladamente, para atender todas as necessidades;, sustenta.
Circuito
Já a professora de educação física Paula Carriço Torraca Lins, treinadora da Academia Contours, é defensora dos exercícios de intensidade, de curta duração ; especialidade da rede. Apesar de não conhecer o trabalho de Martin Gibala, ela trabalha com um circuito de 16 estações, que combinam exercícios aeróbios e de força muscular em 30 minutos, sem contar com os 10 necessários para o alongamento e o aquecimento do corpo.
De acordo com Paula, o interessante nesse tipo de treino é que não há intervalo entre um exercício e outro, o que aumenta a atividade metabólica e favorece a queima de gordura. ;As pessoas acham que 30 minutos não é nada, ainda tem quem não acredite nos efeitos, mas são 30 minutos bastante puxados;, conta. ;Nas academias tradicionais, as pessoas ficam uma hora e meia. Porém, os intervalos são grandes e, se quiser, o aluno pode descansar. O benefício do circuito é que você não para durante todo o treino;, diz.
A economiária Adriana Brasileiro Vanderlei, 37 anos, faz o circuito de 30 minutos seis dias por semana há um ano, depois que se submeteu a uma cirurgia de redução do estômago. Nesse período, ela perdeu 51kg e, graças às atividades físicas, não precisou fazer plástica para retirar o excesso de pele. ;Não caiu nada;, comemora. ;Toda última quarta-feira do mês, participo de reuniões com pessoas que fizeram a cirurgia. O médico diz que sirvo de estímulo para os outros pacientes, porque perdi mais de 90% de gordura e estou mantendo o corpo com exercícios;, diz.
Para quem pensa que é fácil, Adriana avisa: ;Eu achava que 30 minutos era muito pouco, mas posso te dizer que só entende que é bastante quem realmente faz o circuito;, conta. ;Você não para;, justifica. Apesar de satisfeita com o resultado ; só faltam 8kg para atingir a meta ;, ela ressalta que o maior benefício do emagrecimento e dos exercícios regulares é para a saúde. ;Antes da cirurgia, eu dormia com um aparelho, porque não conseguia respirar;, diz.
Adriana aderiu ao programa levada pela irmã, Ana Luísa, 39 anos, que já faz o circuito há quatro anos. Enquanto o objetivo da economiária é garantir firmeza muscular, o que levou a professora à academia foram os quilos a mais, adquiridos depois da terceira gravidez. ;Eu ganhei entre 4kg e 5kg. Era pouco, mas eu não conseguia perder de jeito nenhum, nem amamentando;, relata Ana Luísa. Além de emagrecer, ela definiu melhor o corpo e ganhou resistência para fazer algo que nunca imaginou realizar: participar de corridas. ;Eu não tinha ideia de que ia conseguir correr um dia e já faço provas de 5km;, diz, orgulhosa.
Outras novidades
O programa de atividades intensas em menos de meia hora não é a única novidade na área de pesquisas sobre a fisiologia do esporte. Veja quais outros trabalhos importantes sobre o tema foram publicados neste ano em periódicos especializados:
Estratégias para obesos
O aumento da obesidade entre crianças e adultos dos Estados Unidos, associado à preocupação com elevadas taxas de diabetes e doenças cardiovasculares, levou um grupo de pesquisadores da Universidade de Missouri a investigar estratégias de exercícios voltadas a pessoas que têm dificuldade para emagrecer. Eles descobriram que fazer atividades físicas durante o período mais temido pelos obesos ; quando começam a ganhar novamente os quilos perdidos ; ajuda, ainda assim, a proteger o organismo contra doenças metabólicas e riscos cardíacos. Durante a pesquisa, foi observado que as pessoas que não se exercitavam quando estavam engordando novamente tiveram muito mais problemas de saúde. Já as que continuaram fazendo atividades, ao contrário, melhoraram significativamente. O treino foi realizado cinco dias por semana, durante seis meses, sob supervisão médica. O estudo será publicado no próximo mês no Jornal de Fisiologia Aplicada.
Contra a ansiedade
Exercícios regulares reduzem em até 20% os sintomas de ansiedade, de acordo com um estudo da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, publicado neste mês no periódico especializado Arquivos de Medicina Interna. Os pesquisadores analisaram os resultados de 40 estudos clínicos envolvendo cerca de 3 mil pacientes com várias condições médicas. Eles descobriram que, em média, aqueles que se exercitavam periodicamente reportaram redução dos sintomas da ansiedade, que costumam surgir quando as pessoas estão doentes, comparando-se aos sedentários. Segundo a pesquisa, exercícios com mais de 30 minutos têm uma ação melhor na diminuição da ansiedade, e os efeitos costumam aparecer depois de três semanas.
Distúrbios mentais
A atividade física moderada na meia idade ou na velhice está associada à redução de risco de desenvolvimento das doenças degenerativas, segundo duas pesquisas publicadas no Jornal da Associação Médica Americana. De acordo com os pesquisadores, de diversas universidades dos Estados Unidos, seis meses de exercícios aeróbicos de alta intensidade também aumentam a capacidade cognitiva de quem já sofre da condição. A cada ano, 15% de pessoas com doenças degenerativas severas evoluem para a demência. Entre o restante da população, o índice cai para 2%. Os pesquisadores alertaram, porém, que é necessário fazer mais estudos para entender melhor a relação entre a prática aeróbica e os distúrbios mentais.