Ciência e Saúde

Pesquisa feita nos Estados Unidos indica que o amor é cego

postado em 28/03/2010 12:11

Que a paixão e o amor deixam as pessoas sorrindo à toa e meio aéreas todo mundo sabe. Mas cientistas da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, descobriram que esse estado de graça pode ir muito além: o amor torna o cérebro humano incapaz de prestar atenção em pessoas bonitas. Sim, a paixão é mesmo capaz de ;cegar;, deixando os olhos do apaixonado insensíveis aos encantos de terceiros.

Clique para ampliarPara chegar a essa conclusão, os pesquisadores mediram a atenção de 113 homens e mulheres que foram expostos a várias fotos de pessoas, algumas reconhecidamente bonitas, outras nem tanto. Antes de olhar para as fotos, porém, parte dos voluntários teve de escrever um pequeno texto falando sobre o amor que sentia por seu parceiro, enquanto os demais fizeram uma redação sobre a felicidade de uma maneira geral.

Em seguida, com os olhos sendo monitorados por uma câmera e um computador, os participantes foram expostos às imagens. Aqueles que haviam escrito sobre o quanto gostavam de seus companheiros tendiam a ignorar as imagens das pessoas mais bonitas. ;Seus olhos simplesmente não se fixavam sobre as fotos;, descreveu Maner no trabalho, ressaltando que essa rejeição só ocorreu com as imagens dos mais belos. Quando a foto era de uma pessoa de aparência comum, os apaixonados não desviavam o olhar.

Segundo os cientistas que trabalharam na experiência, essa reação ocorre porque, quando as pessoas pensam em amor, seu neocórtex (capa de neurônios que recobre os lóbulos frontais do cérebro) passa a repelir pessoas muito atraentes, que têm mais chances de fazer essas pessoas traírem seus parceiros. ;Pessoas atraentes do sexo oposto evocaram respostas de autoproteção automáticas nos participantes que mantinham relacionamentos heterossexuais com compromisso;, afirmou Maner. Outra observação foi que, entre os homens, esse mecanismo antitraição foi quatro vezes mais forte do que nas mulheres.

Para o psicólogo Aílton Amélio da Silva, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em relações amorosas, esse mecanismo detectado na pesquisa norte-americana é resultado do processo evolutivo e pode ter a função de ajudar os machos da espécie a se manterem monogâmicos. ;Há muitos benefícios evolutivos em uma relação monogâmica, e o organismo leva isso em conta.; Um deles seria a manutenção da prole. De acordo com o psicólogo, a tarefa do casal não é apenas procriar, mas também criar os filhos. ;A união do casal voltada somente para a procriação é coisa de quando o homem vivia da caça e da coleta de alimentos, e os descendentes demoravam cerca de 11 anos para se tornarem independentes. Com a evolução, a natureza criou mecanismos de manter o casal unido durante um bom tempo para cumprir a tarefa de manter essa prole.;

O pesquisador da USP explica também que o relacionamento amoroso depende de vários mecanismos que restringem a percepção humana. ;Ao dedicarmos nossa atenção a uma pessoa com a qual estamos envolvidos, a percepção a respeito das outras pessoas fica prejudicada, diminuída.; É o fato de o apaixonado superestimar o amado e, com isso, imaginar que não conseguirá outra pessoa melhor. Porém, se não fosse essa percepção, toda relação seria muito instável. ;A pessoa se envolveria com a outra e continuaria exposta a outros relacionamentos, pulando de galho em galho;, afirma Silva.

Ouça áudio do psicólogo Aílton Amélio da Silva, sobre nova pesquisa em relações entre homens e mulheres

Vida real
Saindo do laboratório e indo para a vida real, casais apaixonados endossam a conclusão dos cientistas. O microempresário Luiz Gustavo Prado, 30 anos, namora há dois a gestora comercial Kelly de Paula, 35. Para ele, se um homem estiver em um relacionamento com alguém que o completa, não há espaço para outra. ;Quando você encontra uma pessoa em que confia, respeita e ama, o foco é ela. Você busca construir algo junto. Não há espaço para mais ninguém se você se sente completo.;

O servidor público Guilherme Silva Milagres, 29 anos, se prepara para casar em julho com a psicóloga Janaína Gomes Oliveira, 25. Ele relata que há uma cobrança muito grande em cima dos homens para ser uma espécie de garanhão e que, por isso, muitos acabam traindo a companheira. ;Essa questão cultural aflige o homem. Ele pode não sentir vontade de trair, mas a pressão é tanta que acaba cedendo e, na maioria das vezes, se arrepende;, diz. ;No meu caso, construí uma afeto tão grande por Janaína que não existe interferência, nem dos amigos, com essa questão.;

Essa pressão relatada por Guilherme faz parte do aspecto social e cultural de uma sociedade. Ela funciona como uma interface entre o psiquismo e o lado bioquímico. Dessa forma, o cérebro produz substâncias químicas coerentes com as vivências e percepções da pessoa. Segundo o psicólogo do Instituto Paulista de Sexualidade Oswaldo Rodrigues Júnior, o que leva o cérebro dos apaixonados a prestar menos atenção em pessoas bonitas depende de outros mecanismos psicológicos. ;É o elemento humano que produz as condições químicas que se pode encontrar num cérebro em funcionamento;, define Rodrigues. Por isso, é possível encontrar pessoas em que o mecanismo descrito no estudo norte-americano não faça tanto efeito.

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