Pode acontecer a qualquer momento. De repente, alguém se vê frente a uma situação de emergência médica e não faz ideia de como ajudar. Na ânsia de prestar auxílio, é possível que acabe piorando o estado da vítima. Como no Brasil não há uma cultura de educação para primeiros socorros, poucas pessoas sabem o que devem ou não fazer. Como agir quando um bebê não está respirando? E se alguém tiver uma parada cardíaca bem no meio da rua? É preciso desenrolar a língua de uma vítima de ataque epiléptico?
Quem responde a essas dúvidas são os instrutores do Segundo Batalhão de Busca e Salvamento/Emergência Médica do Corpo de Bombeiros do DF, instituição que é referência internacional no assunto. A pedido do Correio, o sargento Cristiano Rodrigues Fernandes da Silva e o soldado Robson da Silva Daniel, um dos heróis de Brasília que ajudaram nos resgates do Haiti, simularam a situação mais grave com a qual um leigo pode se deparar. Passo a passo, eles ensinam como tentar manter viva uma pessoa que perdeu os sentidos e os batimentos cardíacos.
De acordo com o soldado Robson, o mais importante, nessas horas, é fazer o reconhecimento imediato da parada cardiorrespiratória e agir o mais rápido possível. Antes, porém, de colocar as mãos na vítima, deve-se ligar para o socorro. Chamar a ajuda profissional é o primeiro passo do atendimento, por mais grave que pareça a vítima. Isso vale para qualquer emergência ; de fraturas a enfartes. Telefonar para os bombeiros ou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) é, inclusive, a única coisa que a pessoa deve fazer quando a vítima está acordada e consciente. Independentemente do que aconteceu, o ideal é ficar ao lado, aguardando o resgate chegar, mas sem tocar um dedo no acidentado.
Nos casos de ataques epilépticos, por exemplo, muita gente corre para ;desenrolar; a língua da vítima. Esse, porém, é um dos mais comuns mitos dos primeiros socorros, de acordo com o sargento Cristiano Rodrigues Fernandes da Silva. A língua do epiléptico não enrola. A melhor ajuda é afastar todos os objetos próximos, para que a pessoa não se machuque durante os movimentos convulsivos, e colocar a vítima em posição lateral. Assim, ela não aspira secreções para os pulmões.
O mesmo vale para fraturas. Nada de tentar tirar o acidentado do local nem de querer retirá-lo de escombros ou ferragens. A ligação para a equipe de socorro é o mais importante. ;O leigo também precisa prestar atenção à segurança do ambiente, para que não se torne também uma vítima;, lembra o sargento Cristiano. Por mais que a vontade de ajudar seja grande, se o acidentado está numa rua movimentada, o socorrista leigo pode acabar sendo atropelado, por exemplo. Quem não sabe nadar também precisa segurar os impulsos antes de cair na água para evitar afogamentos.
Os instrutores do Batalhão de Emergência Médica explicam que não é comum leigos prestarem primeiros socorros. Porém, o número de atendimentos nos últimos seis meses mostram que acidentes e incidentes são mais comuns do que se pensa. Somente em relação a episódios cardíacos, foram 394. Problemas respiratórios, incluindo parada, provocaram 447 chamados, e os bombeiros foram acionados 823 vezes para atender vítimas de desmaios.
Se um leigo bem preparado souber ajudar enquanto aguarda a chegada das ambulâncias ; o tempo médio de espera no DF é de oito a 10 minutos ;, a vítima tem mais chances de viver. ;Quando acontece a parada cardiorrespiratória, cada minuto perdido diminui em 10% a chance de sobrevivência. Sem oxigenação, os neurônios morrem; por isso, é necessário iniciar de imediato a reanimação;, explica o soldado Robson da Silva Daniel. Ele lembra que, embora muitas pessoas pensem que os esforços prestados são em vão, o sucesso do tratamento da vítima depende primordialmente do primeiro atendimento. Veja, passo a passo, como proceder em casos de emergências médicas, lembrando que o primeiro passo, sempre, é telefonar para o Corpo de Bombeiros (193) ou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Ele lembra que, ao contrário do que sugerem os filmes, é praticamente impossível que, durante o procedimento de reanimação, a vítima acorde e já comece a se recuperar. Como, aparentemente, não há sinais de melhora, muitas pessoas podem pensar que os esforços prestados são em vão. Isso, porém, é um engano. O sucesso do tratamento clínico vai depender primordialmente do primeiro atendimento. Caso o acidentado não receba os primeiros socorros, os médicos terão muito pouco a fazer e, se a vítima sobreviver, poderá haver sequelas graves.
É importante ter noção exata dos procedimentos pois, de acordo com o soldado, ;se alguma ação falhar, as chances de sobrevivência caem drasticamente;. Não é preciso ter medo, porém, de provocar danos à vítima. Durante a tentativa de fazer o sangue circular, algumas pessoas temem quebrar as costelas do acidentado. Isso, de fato, pode acontecer. Mas, quando se trata de uma situação de vida ou morte, ossos quebrados são o que menos importa, lembra o instrutor do Corpo de Bombeiros.
Outra dica importante é manter a calma para não errar. Se duas pessoas souberem prestar os primeiros socorros, a chance de sobrevivência é maior. Como se trata de um procedimento cansativo ; cada movimento de compressão do esterno é semelhante a uma flexão ;, o revezamento é importante. Enquanto uma pessoa faz a circulação, outra dedica-se à ventilação da vítima. Veja, passo a passo, como proceder em casos de emergências médicas, lembrando que sempre o primeiro passo é telefonar para o Corpo de Bombeiros (193) ou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (192).
"Quando acontece a parada cardiorrespiratória, cada minuto perdido diminui em 10% a chance de sobrevivência. Sem oxigenação, os neurônios morrem; por isso, é necessário iniciar de imediato a reanimação"
Robson da Silva Daniel, soldado do CBDF
"O leigo também precisa prestar atenção à segurança do ambiente, para que não se torne também uma vítima"
Cristiano Rodrigues Fernandes da Silva, sargento do CBDF
Dicas
- Tente revezar a reanimação da vítima. Enquanto uma pessoa faz a ventilação, outra faz as compressões no peito. Troque de vez em quando, pois o procedimento é muito cansativo
- Por mais que a vítima pareça não reagir, não desista. A chance de ela acordar depois da reanimação é quase zero, mas isso não quer dizer que o esforço foi em vão. Pelo contrário, são os primeiros socorros que vão garantir a sobrevivência
- Pense bem antes de fazer a respiração boca a boca em alguém que não conhece. Ninguém é obrigado a prestar esse socorro, pois existe risco de contaminação ; incluvise, pelo HIV
- Ao se deparar com uma vítima de choque elétrico, não faça absolutamente nada enquanto não for desligada a energia
- Não use o desfibrilador se a vítima tiver menos de 8 anos ou pesar menos de 25kg. Também não use o aparelho com a pessoa próxima à água