postado em 05/04/2010 07:00
Erva-cidreira de arbusto, alecrim-pimenta e cavalinha. As propriedades terapêuticas, profiláticas e paliativas existentes em plantas como essas, utilizadas há séculos pela medicina popular, acabaram conquistando também o meio agrícola. Um estudo desenvolvido pela pesquisadora Sandra Cristina Vigo na Universidade Estadual Paulista (Unesp) provou que a indução da resistência de hortaliças com o uso de tinturas ; obtidas a partir de plantas medicinais ; pode ser uma alternativa viável e natural para o controle de algumas pragas. São plantas defendendo e curando outras plantas. Depois do procedimento, a pesquisadora constatou menores valores de progresso do crestamento bacteriano, doença causada pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. Phaseoli, no feijão-vagem. O mal, favorecido por altas temperaturas e umidade, chega a provocar danos de até 80% na plantação, quando não controlados a tempo.Manchas escuras vão comprometendo toda a estrutura da planta, desde as sementes, impedindo até mesmo o processo da fotossíntese ; no qual a espécie sintetiza compostos orgânicos a partir da presença de luz, água e gás carbônico. Segundo Sandra Vigo, ainda são escassos os recursos existentes para o controle da doença bacteriana. ;Por esse motivo, a prevenção é importante, pois uma vez na plantação, o mal é de difícil controle;, destaca a especialista, que atualmente dá aulas na Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira, em Luís Eduardo Magalhães (BA). O estudo desenvolvido por ela na Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp acabou conquistando o Prêmio Summa Phytopathologica, outorgado pela Associação Paulista de Fitopatologia. A distinção foi dada em reconhecimento ao melhor artigo científico publicado no ano passado.
Durante o experimento, foram utilizadas amostras de feijão-vagem devidamente armazenadas em vasos com capacidade de 5 litros, cada. Todas as plantas, segundo a pesquisadora, se encontravam em fase inicial de desenvolvimento. De acordo com ela, as amostras foram pulverizadas com tinturas obtidas a partir de plantas medicinais em diferentes épocas (veja infografia). As espécies escolhidas pela pesquisadora já haviam apresentado excelentes resultados no tratamento de males diversos nos seres humanos. ;Depois de pulverizá-las com a solução, inoculei a própria bactéria causadora da doença nas hortaliças analisadas. Os testes feitos com tinturas obtidas em cinco plantas diferentes apontaram menores valores de progresso do mal, sob condições de casa de vegetação. Ou seja, houve uma possível indução de resistência das plantas à ação da bactéria;, explica, destacando a tintura obtida a partir da planta fitoterápica Lippia. alba, popularmente conhecida como erva-cidreira de arbusto.
Análises feitas após o uso de óleos essenciais ; obtidos a partir de um procedimento mais conhecido como arrasto de vapor ; não apresentaram diferença significativa com relação ao progresso da doença ou à indução da resistência. Conforme a especialista, as tinturas usadas foram obtidas por meio de macerados de folhas de plantas em álcool. No processo, a substância vegetal é deixada em contato com o líquido extrator, em temperatura ambiente, até que todos os princípios ativos se desprendam. ;O período de maceração vai depender do material a ser utilizado. Depois desse procedimento, as tinturas são cuidadosamente decantadas, filtradas e envasadas em vidros selecionados, esterilizados em condições excelentes de uso;, explica
A química domina
Para o orientador da pesquisa e professor da FCA, Antônio Carlos Maringoni, alguns pesquisadores brasileiros já haviam seguido essa linha de estudo anteriormente. Porém, os resultados ainda são incipientes. De acordo com ele, o uso de produtos que induzem quimicamente a resistência das plantas ainda é bem mais comum no país. ;Os benefícios da técnica proposta por Sandra Vigo são grandes, tanto para as plantas quanto para o meio ambiente, que agradece o não uso de produtos tóxicos. São extratos que tiveram usos na medicina popular já anteriormente comprovados;, afirma. Porém, segundo Maringoni, cada caso é um caso. ;A tintura que induziu a resistência no feijão-vagem pode não ser eficaz em outras espécies. Por isso, são necessários estudos específicos;, observa.
Ouça entrevista com Sandra Vigo
Horta também pode ser protegida
Manter uma horta em casa não é mais privilégio daqueles que moram nas cidades de interior ou possuem grandes espaços ociosos. Hoje, até mesmo quem habita os menores ambientes consegue destinar um cantinho para o cultivo de hortaliças, legumes e ervas fresquinhas, prontos para serem usados a qualquer momento. Porém, não basta apenas criatividade, é preciso também se cercar de cuidados para que as espécies cultivadas não sejam atacadas por pragas. Segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater), é possível combater determinados males de forma barata e caseira, sem o uso de produtos químicos. O objetivo é preservar a qualidade dos alimentos.
De acordo com a coordenadora do programa de agroecologia da Emater, a engenheira agrônoma Eusângela Antônia Costa, são vários os tipos de pragas que podem prejudicar as hortaliças. Entre as mais comuns, conforme a especialista, estão as lagartas ; que perfuram as folhas para se alimentar ; e os insetos minadores, que abrem canais fazendo com que as folhas sequem e caiam. ;Pequenos besouros conhecidos como vaquinhas também são comuns, além de formigas que cortam as folhas e carregam os pedaços para seus ninhos;, afirma. Para a especialista, entre as formas mais eficazes de combate ao problema está a criação de ambientes favoráveis para o surgimento dos inimigos naturais ; organismos que eliminam ou parasitam as pragas de maneira natural, como joaninhas, vespinhas parasitoides e aranhas.
Para estimular o surgimento desses inimigos naturais, o agricultor deve tornar o ambiente favorável à sobrevivência e reprodução. ;Assim, deve ser conservada a vegetação espontânea em volta das hortas;, diz. Além disso, o indivíduo pode plantar barreiras vivas com cana, capim-napiê, banana ou café, que servirão de abrigo para esses agentes. A produção caseira de ;caldas; que tratam as plantas infectadas também é tida como excelente opção. Uma delas, a de arruda, por exemplo, é ideal para o controle de ácaros e pequenas lagartas. ;Uma calda preparada com alho, pimenta e sabão atua como um repelente de pragas eficaz. Já aquela que é obtida do tomateiro serve para o controle de pulgões;, explica a coordenadora, lembrando que a Emater-DF ministra vários cursos que ensinam a comunidade a lidar com vários desses males.