postado em 20/04/2010 07:00
A captura acidental de tartarugas marinhas está ameaçando a sobrevivência da espécie. O alerta vem de um estudo realizado entre 1990 e 2008 pela organização não governamental Conservação Internacional (CI) em parceria com universidades norte-americanas. O relatório, divulgado recentemente e intitulado Padrões globais da pesca acidental de tartarugas marinhas, mostra que o problema é causado por atividades pesqueiras comerciais que utilizam equipamentos como espinhéis, redes e anzóis, que acabam aprisionando outros animais que não são o alvo principal dos barcos.;O resultado da pesquisa aponta que aproximadamente 85 mil tartarugas marinhas foram capturadas acidentalmente nos últimos 20 anos;, diz Bryan Wallace, autor do estudo, em entrevista ao Correio. ;Com maior frequência, espécies como tubarões, albatrozes e golfinhos, além das tartarugas marinhas, são capturadas;, completa. Esses animais acabam morrendo por ferimentos graves causados pelos anzóis ou por afogamento. ;As redes de arrasto e espinhéis, por exemplo, impedem que uma tartaruga vá à superfície para respirar, resultando na sua morte.;
O relatório revelou que a região norte do Mar Adriático, no Mediterrâneo, lidera o ranking das localidades com maior taxa de pesca acidental com redes, enquanto, no Uruguai, está o maior índice de problemas devido ao uso das redes de arrasto. Entretanto, quando as taxas de captura acidental e o volume de pesca (independentemente do tipo de armadilha usada) são comparados, quatro regiões do globo surgem como áreas críticas: o Mediterrâneo, o leste do Pacífico, o sudoeste e o noroeste do Atlântico.
No Mediterrâneo, onde mais de 20 países realizam pescas de espécies como o atum-azul e o peixe-espada, a falta de controle integrado gerou uma das maiores concentrações de pesca com espinhel e redes de arrasto do mundo. Da mesma forma, no leste do Pacífico ; que vai da Baixa Califórnia até a Patagônia chilena ; a atividade pesqueira causou um colapso na população de algumas variedades de tartarugas marinhas, que têm na região importantes pontos de desova e procriação. A situação no sudoeste e no noroeste do Atlântico também preocupa bastante. As duas áreas abrigam as maiores populações de tartarugas-de-couro do mundo.
O estudo da Conservação Internacional aponta ainda que existem vastas regiões de oceano sobre as quais há poucas informações. Ou seja, o prejuízo ambiental pode ser maior do que o constatado até agora. ;Estamos apenas começando a descobrir a realidade da pesca acidental de tartarugas marinhas;, afirma Wallace. A análise da pesquisa revelou também importantes lacunas de dados em regiões onde existem áreas de pesca em pequena escala, especialmente na Ásia, no leste do Oceano Índico e no sudeste da Ásia. ;Essas regiões e áreas de pesca são prioridade para um maior monitoramento e esforço de divulgação de informações para que possamos preencher algumas lacunas;, explica o autor do relatório.
Costa brasileira
No Brasil, o problema se concentra no litoral entre Sergipe e Bahia, onde há mais pontos de desova das tartarugas. Guy Marcovaldi, oceanógrafo do Projeto Tamar, explica que a ameaça é fruto principalmente da pesca clandestina de lagosta. ;A prática nessa região do litoral utiliza redes de arrasto profundas. Elas são altamente perigosas para as tartarugas, que estão na área em busca de alimento e desovando nas praias.;
Diminuir essa mortalidade é o esforço empregado há 20 anos pelo Tamar. O primeiro passo foi preservar áreas de desova. Com isso, o número de animais que nascem e sobrevivem pode igualar essa mortalidade. Porém, não é regra, já que as taxas de animais capturados acidentalmente não são corretas. ;Esse é um problema mundial. O número de animais mortos por meio da atividade pesqueira pode passar de milhões, em vez dos milhares colocados no relatório da CI;, avalia Gilberto Sales, analista ambiental e coordenador do Programa Interação Tartarugas Marinhas e Pesca, do Tamar.
Como forma de combater a mortalidade da espécie, o estudo internacional sugere o estabelecimento de regiões de proteção marinha similares às criadas no leste do Pacífico tropical ; como a Bird;s Head, na Indonésia, e a Sulu Sulawesi, nas Filipinas e na Indonésia ; e na região dos Abrolhos, no Brasil. Outras ações são de esforços focados no monitoramento e na mitigação das atividades de pesca. ;Não há uma solução mágica, mas sim ações a longo prazo, que devem ser de esforço global. É preciso primeiro conhecer o fenômeno. Depois, conhecer como são as práticas pesqueiras, como elas são operadas e em quais regiões exatamente ocorrem;, analisa Sales.
O ambientalista explica que toda captura de tartarugas marinhas no país é acidental, pois não há interesse dos pescadores no animal. A solução é conscientizar essas pessoas a modificar os equipamentos, trocando os anzóis comuns por circulares, que não causam ferimentos graves, e inserindo dispositivos de exclusão de tartarugas (TEDs) nas redes de arrasto. ;Mesmo assim esses esforços não são suficientes para acabar com a pesca acidental;, afirma Sales. ;O ideal seriam esforços globais em conjunto, principalmente respeitando o período de reprodução desses animais;, comenta. Em relação a isso, o relatório da CI sugere fechamentos sazonais para controlar a atividade de pesca nas áreas de migração das tartarugas.
Confira a entrevista com o Dr. Bryan Wallace, autor do relatório
1. Segundo o relatório, sabemos pouco sobre a pesca acidental e que áreas necessitam uma ação urgente para evitar a extinção de animais ameaçadas de extinção. Onde estão essas áreas? Quais serão as ações de urgência, especificamente nestas áreas?
Devido às taxas de captura acessória particularmente elevado, nós identificamos a leste do Oceano Pacífico eo Mar Mediterrâneo, bem como no Atlântico Sudoeste e do Noroeste do Atlântico oceanos, como as regiões de prioridade de conservação urgentes.
As acções específicas a serem tomadas dependem da região e artes de pesca operacional. correções Gear - Turtle Excluder Devices, TEDs, nas redes de arrasto, e anzóis circulares e mudanças na isca palangres - poderia ajudar a reduzir as capturas acessórias de tartarugas marinhas. Além de correções de artes, as abordagens de gestão que pode ajudar a reduzir as capturas acessórias e promover a pesca sustentável são valiosos, como as quotas de captura de ações, áreas marinhas protegidas, e encerramento de zonas de tempo. Mas os gestores devem envolver os pescadores a chegar com o conjunto mais adequado de ações para manter a viabilidade da pesca e reduzir as capturas acessórias.
2. O que acontece após a captura acidental de tartarugas? Será que os pescadores tomar advatange deles depois que eles estão mortos? Do conjunto dos pescadores os que sobreviveram livre?
Isso depende da região e da pesca. Na maioria dos lugares, as tartarugas são liberadas vivo, se possível, ou descartados se estivesse morto. No entanto, a maneira em que as tartarugas são tratados, uma vez que são encontrados nas artes de pesca é muito importante. Observadores e / ou pescadores devem ser treinados em métodos de segurança liberação tartarugas das artes e de volta à água. Em alguns casos, os pescadores podem manter uma tartaruga preso em sua engrenagem para alimentar, mas isso não acontece em todos os lugares.
3. Qual é a principal causa de morte das tartarugas capturadas acidentalmente?
Isso depende da velocidade, mas basicamente todas as interacções entre tartaruga e as artes que impede que uma tartaruga de vir à superfície para respirar por um período mais longo do que eles são capazes de prender a respiração debaixo d;água resultará no afogamento de tartarugas. Se a tartaruga está emaranhada em uma rede ou uma linha, ou presos em uma rede de arrasto e incapaz de subir para tomar ar, este vai matar a tartaruga. Também, as lesões de tartarugas de ser viciado severamente, engolindo um gancho, a remoção inadequada dos ganchos que causa muitos danos aos tecidos moles podem ser fatais.
4. As estratégias sugeridas no relatório da CI já foram enviadas? Para quem?
As estratégias acima mencionadas e no nosso comunicado de imprensa estão em vigor em diferentes áreas ao redor do mundo, em alguns casos envolvendo CI apoio ou de trabalho.
5. Sobre a mudança sustenaible das zonas de pesca: a CI recomenda períodos de defeso para controlar a pesca em áreas onde as tartarugas migram. Qual período que seria?
Isso depende de qual espécie de tartaruga, onde no mundo, e se tal medida é necessária. Em alguns casos em uma população de tartarugas em perigo crítico de extinção, as capturas acessórias bycatch é demais, então o encerramento de zonas de tempo pode ser necessário. Um exemplo pode ser no leste do Pacífico para leatherbacks ou carey. Para ambas as espécies, a pesca na proximidade de zonas de nidificação pode ser proibido durante as épocas de nidificação, e áreas de alimentação pode ser protegido enquanto as tartarugas estão lá.
6. Qual das estratégias propostas dificilmente seria aceita? Por quê?
Pescadores são muitas vezes relutantes em implementar mudanças de como os peixes, porque eles estão acostumados com a pesca de uma determinada maneira, e não quero perder o peixe ou dinheiro. Portanto, se acções de gestão são forçadas sobre eles sem seu envolvimento, eles provavelmente vão resistir a essas ações. Trabalhando em conjunto com os pescadores é a chave para se certificar de que as ações de gestão pode ser bem sucedida.
7. Qual é o próximo passo dos pesquisadores para o problema exposto no relatório?
Acho que o próximo passo seria a melhor compreender os impactos específicos ao nível da população de captura acidental em regiões específicas e em particular das pescas de modo que necessário, estratégias de conservação específicas podem ser projetadas e implementadas.