postado em 26/05/2010 09:15
A chave para o tratamento de rios e lagos contaminados por metais pesados pode estar na própria natureza. Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Lavras (Ufla) está identificando uma série de plantas que podem acusar a existência de elementos tóxicos que comprometem a qualidade da água. São os chamados bioindicadores. Além disso, o estudo tem se dedicado ao conhecimento de algumas espécies que têm o poder de remover os contaminantes do ambiente aquático, processo mais conhecido como fitorremediação.Uma das primeiras plantas analisadas pela equipe, conhecida como orelhinha-de-onça (Salvinia auriculata), era vista como invasora nas proximidades da Usina Hidrelétrica do Funil, situada próxima aos municípios mineiros de Perdões e Lavras. No entanto, as análises da universidade mostraram que ela pode, na verdade, ajudar a limpar o local.
A atividade industrial, a mineração e a própria agricultura têm sido os principais fatores responsáveis pelo depósito de elementos tóxicos, entre eles os metais pesados, em ambientes aquáticos ou terrestres. ;Muitas coisas utilizadas no dia a dia resultam em elementos tóxicos, seja na sua produção ou durante a utilização;, explica o professor da Ufla e coordenador da pesquisa, Evaristo Mauro de Castro.
Dependendo do elemento que contamina o corpo d;água, uma mesma espécie de planta pode atuar como bioindicadora ou como fitorremediadora. Isso vai depender do grau de tolerância que a espécie possui para cada elemento. ;Outro fator que afeta a seleção da espécie é o ambiente, ou seja, se é terrestre ou aquático;, destaca Fabrício José Pereira, doutorando em fisiologia vegetal pela Ufla. Além da orelhinha-de-onça, plantas aquáticas como a taboa (Typha angustifolia e Typha domingensis), o aguapé (Eichhornia crassipes), a alface-d;água (Pistia stratiotes) e a cruz-de-malta (Ludwigia octovalvis) têm apresentado excelentes resultados como fitorremediadoras. ;Todas essas espécies ocorrem em Minas Gerais e em outras regiões do Brasil, e são particularmente abundantes no Pantanal;, enfatiza Fabrício.
Bastante comum nas regiões cobertas por reservatórios como Furnas e Funil, no sul de Minas, e em regiões como a do Vale do Rio Doce, a orelhinha-de-onça foi considerada uma espécie invasora e daninha por muito tempo. ;Isso devido ao grande crescimento populacional e à alta tolerância a diferentes condições ambientais;, afirma Castro. Entretanto, é justamente a capacidade de suportar adversidades que torna a espécie uma removedora de metais pesados em potencial.
Segundo os cientistas envolvidos na pesquisa ; que também contou com o trabalho da engenheira sanitarista e ambiental Graziele Wolff ; a S. auriculata demonstra importantes propriedades para monitorar e limpar ambientes contaminados por zinco. ;Essa espécie apresentou capacidade para acumular zinco proporcionalmente ao aumento dessa substância na solução, sendo capaz de manter a produção de biomassa (massa seca da planta produzida durante o seu crescimento) até determinada concentração. Já em concentrações mais altas, ela demonstra redução na biomassa;, explica Castro. Isso significa que, enquanto a quantidade de metal for reduzida, ela pode ser usada para purificar o ambiente. Caso a poluição por zinco chegue a níveis mais altos, ela dará o alerta.
Uso ainda restrito
Na avaliação da doutora em citologia e genética Agnes Barbério, da Universidade de Taubaté (Unitau), a fitorremediação é uma técnica ainda pouco difundida no Brasil, porém bastante utilizada em países da Europa e nos Estados Unidos. ;As plantas fitorremediadoras requerem alguns requisitos, como raízes profundas e bem desenvolvidas na capacidade de absorção, crescimento acelerado e metabolismo capaz de resistir ao poluente que se deseja eliminar;, explica. De acordo com ela, em alguns momentos, essas espécies precisam sofrer modificações genéticas para se tornarem fitorremediadoras. ;Entre os poluentes frequentemente alvos estão os metais pesados, os pesticidas, os herbicidas, entre outros;, afirma.
Embora as técnicas utilizadas pareçam não apresentar nenhum contraponto negativo, segundo a especialista, vale ressaltar que algumas plantas usadas para despoluir precisam ser corretamente descartadas. ;Caso contrário, acabam contaminando o solo e a água subterrânea.;
Na região do Vale do Paraíba, situada entre o eixo Rio de Janeiro-São Paulo, a cebola (Allium cepa) e o coração-roxo (Tradescantia pallida) são utilizados em alguns municípios para monitorar a qualidade da água e do ar, respectivamente, por meio de um núcleo de pesquisa coordenado por Agnes.
A especialista defende que o monitoramento da água e do ar é imprescindível, principalmente pelo fato de a água ser um recurso finito. ;São mecanismos que nos permitem diagnosticar rapidamente a situação ambiental em determinada área de estudo. Isso também é importante para que nossos alunos e jovens pesquisadores se preocupem com a questão ambiental e se tornem defensores da saúde do planeta;, aponta.