postado em 07/06/2010 08:21
Cédulas de real, dólar ou euro falsificadas, assinaturas e documentos adulterados. Mecanismo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é a mais nova arma na luta contra esses e vários outros tipos de fraude. Por meio do método conhecido como espectrometria de massa, a técnica batizada de Easi-MS (do inglês, Easy Ambient Sonicspray Ionization Mass Spectometry) desvenda a formulação molecular de cada objeto analisado e é capaz, inclusive, de avaliar se determinados produtos, como azeite de oliva, uísque e medicamentos, são realmente puros.O método de análise química foi desenvolvido pela equipe do laboratório Thomson de Espectrometria de Massa, liderada pelo professor Marcos Eberlin, que contou com a ajuda de peritos profissionais e especialistas da Polícia Federal. O primeiro passo do processo de verificação é a ionização, que segundo uma das responsáveis pelo estudo, a pesquisadora Rosineide Simas, significa fazer com que as moléculas que compõem uma substância ganhem ou percam uma carga e se tornem um íon. Ela explica que a Easi é uma forma de ionização que, diferentemente de outras tecnologias, não necessita de alta voltagem ou alta temperatura. ;O funcionamento é simples. Um spray sônico passa por um tubo de 0,1 micra de diâmetro arrastado por nitrogênio ou ar comprimido. Essas microgotinhas atingem a superfície da amostra, como dinheiro, óleo, entre outros, dessorvem (removem) uma parte dela e a ionizam;, explica.
Em seguida, os cientistas colocam esses íons no espectrômetro de massas, que realiza a leitura e também fornece a composição química daquela amostra, o que os responsáveis pelo estudo chamam de impressão digital, ou seja, a identidade de cada amostra. Os resultados aparecem poucos minutos depois. ;No caso de óleos e biodiesel, por exemplo, uma gota de amostra em um pequeno pedaço de papel comum é o suficiente para determinarmos a sua composição. Também não foram detectados problemas quanto à poluição do meio ambiente, pois a técnica faz uso de um pequeno volume de solvente orgânico, além de ser considerada não destrutiva;, afirma Rosineide, lembrando que as amostras utilizadas durante os experimentos, como dinheiro, documentos(1), entre outras, permaneceram intactas. Assim, podem servir como prova material de possíveis processos criminais.
Novos equipamentos
Na prática, a técnica Easi vem sendo aplicada em parceria com instituições como a Polícia Federal e a Polícia Científica de São Paulo. ;Casos reais de falsificação de documentos, cédulas de dinheiro, perfumes e bebidas estão sendo solucionados com a colaboração do Easi. Por enquanto, essas amostras são trazidas até a Unicamp pelas instituições e as análises são feitas no equipamento do laboratório;, esclarece Priscila Micaroni Lalli, pesquisadora também envolvida na pesquisa.
A Polícia Federal, inclusive, está instalando um equipamento com a fonte Easi em Brasília. ;A ideia é que várias outras instituições possam adquirir equipamentos semelhantes ao nosso e realizar suas próprias análises. Já existe também um projeto de montagem de um aparelho miniaturizado e portátil com a fonte de Easi. O objetivo é que ele seja levado para análises em campo;, afirma.
O perito criminal da Polícia Federal Adriano Otávio Maldaner passou a acompanhar o trabalho desenvolvido na Unicamp há cerca de dois anos. ;A técnica da análise de papel é um dos grandes desafios no meio pericial e criminal. Além disso, é grande o volume de documentos, entre outros elementos, que precisam ser analisados. Dentro da Polícia Federal mesmo, há uma grande demanda nesse sentido;, conta. Na opinião do perito, a técnica proposta pela Unicamp é muito mais rápida do que a convencional. ;Além disso, ela é feita sobre o documento, com o mínimo de perda de material. Quando cortamos o material e fazemos a análise em outro equipamento, corremos o risco de perder boa parte dele;, diz.
1 - Tradicional
Segundo o pesquisador da Unicamp Boniek Vaz, os métodos convencionais utilizados por peritos e especialistas em documentoscopia (análise de documentos) são equipamentos compostos por luzes ultravioletas e infravermelhas. Eles possibilitam a identificação de criptografias ou símbolos da Casa da Moeda, por exemplo. ;Além disso, são usadas câmeras de alta resolução, microscópios, esterioscópicos, aparelhos de medição de peso e espessura, ampliadores ópticos e reagentes químicos. Todos eles também permitem a identificação de fraudes em notas falsas, visto que os autores do crime sempre deixam alguma pista ou não produzem cópias perfeitas das notas;, afirma.