postado em 20/06/2010 11:49
Alesund e Svolvaer (Noruega) ; Sean Connery ; vinte anos mais jovem ; surge na tela para ordenar o contra-ataque. Seu personagem sabe, não apenas o local, mas também a posição de tiro preparada pelo submarino inimigo. A cena, retirada do blockbuster dos anos 1990 Caçada ao outubro vermelho, de John McTiernan, ilustra a explicação da tecnologia que permite ouvir o fundo do mar. Mais que ouvir: usar os sons para determinar localização, intensidade e até procedimentos. Ações de um submarino, no caso do filme com Connery; vazamentos, no que diz respeito à extração de gás e petróleo em águas profundas.A técnica não é exatamente nova. Mas, assim como o som que a sustenta, ganhou amplificação depois do maior desastre ambiental na história da costa americana, no Golfo do México, em abril deste ano. Cada uma à sua maneira, duas empresas da Noruega ; país que potencializa o marketing de sustentar tecnologia de ponta na área ; mergulham o ouvido no mar para detectar imperfeições no intrincado mecanismo de perfuração, extração e distribuição.
Na Bjorge, o sistema Naxys Subsea Sensor Technology parte de uma ideia primária para uma execução sofisticada. Microfones embaixo d;água ; exatamente como os do submarino Outubro Vermelho ; ouvem todo e qualquer som, identificam padrões e alertam se algo estiver errado. Devidamente protegidos, eles são montados, em grupos de oito ou de 20 (dependendo do tipo de módulo), dentro de uma gaiola que emerge em pontos estratégicos bem próximos à instalação que se deseja inspecionar. O ALD (Acoustic Leak Detector), como o nome em inglês entrega, é capaz de detectar vazamentos em diâmetros minúsculos. Do tamanho da ponta de uma caneta Bic, por exemplo. Já o ALVD (Acoustic Leak and Vibration Detector), mais apurado, escuta vazamentos e também monitora vibrações.
;O áudio gera uma série de ondas no computador, e são as variações dessas ondas que nos dizem exatamente o que está ocorrendo. Uma mudança mínima no gráfico na tela não representa nada a um leigo, mas para a gente pode ser um sinal de que algo muito errado está prestes a acontecer;, explica Jens Abrahansen, diretor gerente da Bjorge.
Ultrassônicos
E como de nada adiantaria denunciar o crime sem apontar a direção, as tais variações nas ondas de áudio mencionadas por Abrahansen são capazes de indicar de onde vem o vazamento, bem como o tamanho do estrago. Mal comparando, funciona como a triangulação de sinais das torres de telefonia móvel, que permite uma localização semelhante à de um GPS ; as diferentes acústicas e as ;velocidades; delas possibilitam uma precisão quase que total, segundo prega o executivo.
Para completar o pacote de monitoramento, o sistema consegue identificar, apenas por meio dos sons captados, a saúde dos funcionamentos das válvulas ; até porque, como se viu no Golfo, nem só de vazamentos vivem os desastres ambientais. Se a válvula não fechou de maneira correta, ele denuncia. Se apresenta um comportamento irregular ou demorado, idem.
Quem também acredita que não é perda de tempo ouvir o óleo derramado, mas usando tecnologia distinta, é a ClampOn. No caso dela, a acústica é igualmente fundamental, mas o sistema, batizado de Sensores Ultrassônicos Inteligentes, é fixado diretamente no tubo ou na válvula. Com isso, é possível medir, em tempo real, um problema em uma linha de vazão, por exemplo. Como ocorre com os microfones da Bjorge, o sensor da ClampOn é ligado a uma espécie de controlador, fundamental para monitorar um eventual vazamento.
;E uma das principais vantagens é que um número ilimitado de sensores pode ser conectado a um único computador, para efetuar as medições;, anima-se Jarl Gill, gerente de vendas da empresa.
Outra vantagem ; essa Gill não mencionou ; é que os sensores da ClampOn estão no fundo do mar desde 1998, enquanto os microfones da Bjorge só começaram a ser despachados comercialmente em 2007.
"Uma mudança mínima no gráfico pode ser um sinal de que algo muito errado está prestes a acontecer"
Jens Abrahansen, Diretor da Bjorge
Jens Abrahansen, Diretor da Bjorge
Dois homens e uma boia salva-mares
Fiskebol (Noruega) ; No caso do vazamento de óleo em alto-mar, o objetivo da identificação precoce, como argumentam os fabricantes de monitores de detecção, é um só: correr para evitar um estrago pior. Mas o que fazer quando o estrago já foi, como a lambança no Golfo do México?
O princípio, não coincidentemente, segue valendo: correr mais uma vez. Isso porque, a depender das condições do clima, a mancha de óleo que agride o meio ambiente pode se espalhar muito rapidamente. A Norlense, uma das empresas norueguesas consideradas experts na contenção de resíduos ; tanto no mar quanto na costa ;, recebeu um grupo de jornalistas brasileiros especializados para demonstrar como funciona seu sistema de boias, projetado para abraçar a mancha de óleo em alto-mar o mais rápido possível.
Para a operação, mobilizou um helicóptero e a guarda-costeira norueguesa próximos à praia, na pequena cidade de Fiskebol, de apenas 5 mil habitantes, no norte do país. Enrolada em uma espécie de carretel gigante, a boia é lançada ao mar rapidamente. E o mais importante ; orgulha-se Trond Hansen, gerente de vendas da empresa ;, o procedimento requer apenas dois homens: um na costa, operando a instalação onde fica o rolo, e outro no mar, com o barco que ajuda a puxar o equipamento. Resultado: em menos de 15 minutos, 400 metros de boia, com uma parede de 2,5 metros de profundidade, se esticam no mar ; um dos maiores equipamentos disponíveis no mundo hoje. O tamanho da lâmina que afunda com a ajuda de correntes ; é sempre importante lembrar ; não precisa passar de dois metros porque como o óleo tem densidade menor do que a da água, quase toda a sua totalidade fica mesmo na superfície.
A Norlense e a sua superboia operam no Brasil. A companhia norueguesa é responsável por oito projetos para a Petrobras (1) e nos próximos dois anos 15 embarcações com capacidade de contenção de óleo (combinada ou exclusiva) estarão a caminho do país. ;A Petrobras convocou o contato no Brasil e enviou um alerta para percorrer as empresas que tratam de prevenção e contenção depois do que houve no Golfo do México;, destacou Trond Hansen. ;E eles estão certos, porque, em países como a Nigéria, o grau de prevenção e proteção é zero;, lamentou. Além de vender o peixe (e peixe é a especialidade dos noruegueses), o executivo da Norlense pode ter razão: artigo publicado na semana passada pelo New York Times denuncia que o mar da Nigéria viu, todos os anos, no último meio século, uma catástrofe como a do Golfo do México, mas sem que a empresa estatal do país reportasse os frequentes acidentes. (AB)
1 - Aqui também
No início da manhã de 7 de junho, a Petrobras identificou um vazamento de 1.500 litros de óleo na Bacia de Campos a 160km da costa de Macaé. Mesmo com um volume considerado pequeno, o incidente mobilizou quatro embarcações especializadas em recolhimento. Entre a ocorrência e o controle do vazamento, o intervalo de tempo foi de seis horas.
* O repórter viajou a convite do Consulado da Noruega
O projeto que a BP não viu
Alesund (Noruega) ; O desastre do Golfo do México, comparado na segunda-feira pelo presidente dos EUA, Barack Obama, ao ataque terrorista ao World Trade Center, provocou, além de uma catástrofe ambiental de cerca de 100 milhões de litros de óleo no mar, uma série de pequenos e grandes efeitos colaterais. O mais curioso deles, provavelmente, veio de uma empresa com forte atuação na Noruega, a STX. A divisão de design da STX Europe estava com o projeto concluído de uma embarcação de contenção e intervenção que seria apresentado à British Petroleum (BP) na semana do acidente.
;Por razões óbvias, decidimos que não seria o melhor momento para mostrar o projeto;, disse um dos vice-presidentes da empresa Erik Haakonsholm. ;É uma embarcação de ponta, com soluções realmente inovadoras, mas que a BP ainda não pôde ver, é claro.; De acordo com o chefe do design, caso seja encomendada pela British Petroleum antes de agosto, ela provavelmente estará pronta até o fim de 2012. (AB)