postado em 22/06/2010 07:00
Morreu ontem, aos 74 anos, o virologista Hermann Gonçalves Schatzmayr, cientista brasileiro que dedicou quase meio século de intensos estudos ao combate de doenças como a dengue. O pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) era considerado um expoente da ciência, tendo acompanhado de perto a evolução da virologia no país. Schatzmayr estudou a pandemia de gripe de 1957 e 1958 no Rio de Janeiro, além de ter participado dos esforços de erradicação da varíola e do combate à poliomielite. O virologista ainda produziu estudos importantes sobre a dengue, sendo o responsável pelo isolamento dos vírus 1, 2 e 3 no Brasil. Segundo a Fiocruz, o especialista, casado com a também pesquisadora da Fiocruz Ortrud Monika Barth, morreu de falência múltipla dos órgãos. Ele deixa dois filhos, cinco netos e uma geração imensa de alunos e admiradores.
Ao longo de sua vida, o cientista pregou que os olhos da ciência deviam estar sempre voltados para os mais necessitados. ;Basta que os pesquisadores olhem pela janela e se deparem com a carência das comunidades que nos cercam para se certificarem do quanto nosso trabalho é importante;, disse certa vez. Carioca, Schatzmayr formou-se em medicina veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRJ) na década de 1950. Em 1960, entretanto, obteve uma bolsa no Instituto de Higiene da Universidade de Viena, na Áustria, instituição pela qual publicou os primeiros trabalhos científicos.
Já no Brasil, em 1961, passou a fazer parte da equipe do Laboratório de Poliomielite do Instituto Oswaldo Cruz. Na época, foi responsável por estudos que incluíam o isolamento e a identificação do vírus da pólio e o estudo de surtos. Também liderou a equipe responsável pela diluição e a distribuição da vacina Sabin, que acabara de ser adotada pelo Brasil e era importada na forma concentrada para o país. Ao longo de 30 anos, exerceu a função de coordenador da área de Virologia do Instituto Oswaldo Cruz e esteve à frente de projetos de pesquisas que se dedicavam ao estudo da poliomielite, da varíola, da rubéola e de outras doenças causadas por vírus. Por volta de da década de 1980, dedicou-se ao estudo do vírus da dengue, isolando pela primeira vez os tipos 1, 2 e 3 no país.
No ano passado, ele lançou o livro A virologia no estado do Rio de Janeiro ; uma visão global. A obra, publicada em parceria com o pesquisador Maulori Cabral, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apresenta uma perspectiva global e histórica desse tipo de pesquisa no estado. Ainda de acordo com a Fiocruz, Schatzmayr fez questão de que o livro fosse disponibilizado gratuitamente na internet.
O virologista da Universidade de Brasília (UnB) Fausto Stauffer Junqueira não chegou a trabalhar diretamente com o professor, mas chegou a desenvolver estudos no mesmo instituto. Ele se considera um profundo admirador da obra do virologista. ;Ele desenvolveu estudos brilhantes sobre a dengue, o vírus da pólio, entre vários outros. Todos eles muito importantes para toda a sociedade brasileira. Nós, virologistas, recebemos com imenso pesar a notícia de sua morte;, disse.