Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Respiração artificial

Cientistas norte-americanos conseguem criar, com a ajuda de células-tronco, pulmão de rato que funcionou como um órgão natural. Em outro estudo, pesquisadores de Harvard desenvolvem equipamento que substitui os alvéolos

Pela primeira vez na história, um animal respirou graças a um pulmão desenvolvido com a ajuda de células-tronco. O feito foi obtido por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Yale, em Connecticut, nos Estados Unidos. Os especialistas criaram em laboratório um tecido pulmonar que foi implantado em ratos e substituiu com êxito o órgão natural. O estudo foi publicado ontem na edição on line da revista especializada Science.

;Nós mostramos que é possível usar a engenharia genética para criar um pulmão que pode desempenhar perfeitamente sua função mais importante: a troca de gases;, disse ao site do periódico científico Laura Niklason, uma das autoras do estudo. ;Esse é um primeiro passo na regeneração de pulmões inteiros para animais maiores e, eventualmente, para humanos;, acrescentou.

Na pesquisa, a equipe da universidade retirou do pulmão de um rato as células que poderiam causar rejeição. Depois, na ;casca; que sobrou, foram injetadas células-tronco específicas dos pulmões, levando o material para um biorreator, espécie de incubadora. ;O que descobrimos, para nossa grande surpresa, foi que as células em geral ;pousaram; na sua localização anatômica correta. Achamos que isso significa que a matriz descelularizada tem uma espécie de CEP (que orienta as células-tronco);, comparou a cientista.

Depois de pronto, o pulmão artificial foi implantado no rato e funcionou praticamente como um pulmão normal por até duas horas. Durante esse período, os cientistas chegaram a acreditar que o órgão criado com células-tronco funcionaria perfeitamente. Porém coágulos começaram a se formar, indicando o mau funcionamento do órgão.

Laura afirmou à Science que agora os cientistas têm um desafio que ainda deve tomar cerca de 20 a 25 anos de estudos até que a tecnologia seja aplicada com sucesso em seres humanos. Para isso, os pesquisadores terão de provavelmente identificar células-tronco adultas que possam reconstituir o tecido pulmonar sem provocar a reação do sistema imunológico, maior problema que ameaça a recuperação de pacientes que passam por um transplante.

Chip
Outro estudo divulgado pela Science e que traz esperanças às pessoas que sofrem de problemas pulmonares foi desenvolvido por uma equipe da Universidade de Harvard, também nos Estados Unidos. A pesquisa, publicada na edição impressa de hoje da revista, desenvolveu um dispositivo do tamanho de uma ervilha que funciona como os alvéolos (sacos de ar do pulmão, que transferem oxigênio para o sangue por meio de uma membrana).

[SAIBAMAIS]O equipamento tem três partes ; células pulmonares, membrana permeável e um pequeno vaso sanguíneo ou células capilares. Tudo fica montado num microchip. Em um teste, o grupo colocou uma bactéria no alvéolo, e provou que células sanguíneas poderiam invadi-lo para combater a infecção, como numa reação imunológica normal. No entanto os cientistas, liderados por Donald Ingber, ainda não conseguiram promover trocas gasosas, função essencial dos alvéolos e do pulmão como um todo.

Os dois estudos mostram o avanço das pesquisas que buscam desenvolver tecidos artificiais, que combinam materiais sintéticos e células humanas para funcionarem como órgãos naturais. As pesquisas também buscam uma solução para problemas que a medicina ainda encontra grandes dificuldades de contornar. Segundo a Science, apenas entre 10% e 20% dos pacientes que passam por um transplante de pulmão apresentam uma sobrevida superior a 10 anos. Esse índice nos casos de transplantes de coração é de 50%.