Ciência e Saúde

Esperança para cegos

postado em 25/06/2010 09:02
Ao anunciar o sucesso da terapia à base de células-tronco na recuperação da visão de indivíduos que sofreram queimaduras oculares, os cientistas da Universidade de Modena, na Itália, provaram, mais uma vez, que essas estruturas têm um largo campo de aplicação na oftalmologia. O resultado da pesquisa, publicada na revista científica New England Journal of Medicine, junta-se a outras descobertas promissoras que podem beneficiar cegos e deficientes visuais. Só no Brasil, eles são 5 milhões, de acordo com um levantamento recente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

O estudo divulgado nesta semana foi fruto de dez anos de pesquisa, desenvolvida no Centro de Medicina Regenerativa Stefano Ferrari. Os 113 pacientes, recrutados entre 1998 e 2006, tinham idades entre 14 anos e 80 anos, sendo que 35,4% apresentavam deficiências moderadas; e 64,6% tinham lesões graves. A causa mais comum do problema oftalmológico dos participantes foram queimaduras. Dois pacientes sofreram uma infecção bacteriana e um deles perdeu a visão ao ser exposto à radiação. A maioria dos voluntários (87,5%) possuía queimaduras em apenas um dos olhos e 84% já haviam sido submetidos a cirurgias anteriores, sem sucesso.

Pesquisas com células-tronco ampliam cada vez mais as chances de recuperar a visão para deficientesO que a equipe da Universidade de Modena fez foi extrair células-tronco dos próprios pacientes, coletadas em partes ainda saudáveis do olho, cultivar as estruturas em laboratório e, depois, reimplantá-las. Depois de um ano do experimento, seis participantes abandonaram o estudo, baixando para 106 o número de pessoas acompanhados pela equipe. Ao fim do estudo, obteve-se sucesso total em 76,6% dos olhos operados, parcial em 13,1% e falhas em 10,3%. Um dos pacientes, de 80 anos, havia perdido a visão aos 18, em 1948.

Visão parcial
;A regeneração da córnea foi associada à melhoria dos sintomas (queimação, dor e fotofobia) em todos os pacientes considerados bem-sucedidos. A restauração da visão, porém, ocorreu apenas naqueles pacientes cujo estroma (tecido de sustentação) da córnea não estava danificado;, alertam os autores da pesquisa no artigo publicado no New England Journal of Medicine. Os voluntários com sérios danos oftalmológicos conseguiram, contudo, melhorar sua acuidade visual.

Em junho do ano passado, pesquisadores da Universidade de South Whales, na Austrália, anunciaram que três australianos recuperaram a visão, com a ajuda de células-tronco e lentes de contato. No experimento, foi retirado 1mm da córnea de cada um dos voluntários. Os cientistas, então, enxertaram o tecido em lentes de contato, onde as células-tronco foram cultivadas. Duas semanas depois, as lentes foram removidas, e as novas células fixaram-se à córnea. Embora a visão não tenha sido completamente recuperada, dois pacientes voltaram a enxergar letras grandes, e o terceiro conseguiu visualizar linhas desenhadas em um papel.

Daqui a dois anos, as células-tronco serão testadas para curar a cegueira decorrente da degeneração macular relacionada à idade, uma das principais causas de perda de visão entre idosos. O projeto de pesquisa, que envolve cientistas de várias universidades britânicas, prevê o uso de células embrionárias, mais flexíveis que as estruturas do próprio paciente. Um dos participantes do grupo, o Hospital Oftalmológico de Moordfields, em Londres, já realizou testes, com sucesso, de transplantes de células-tronco adultas em pacientes com degeneração ocular. No Brasil, há uma pesquisa em curso, na Universidade de São Paulo, para combater a retinose pigmentar, doença que surge ainda na infância, com células-tronco. (PO)

Outros avanços

Cientistas suíços do Instituto Friedrich Miescher e franceses do Instituto da Vista conseguiram, usando uma técnica de terapia genética, devolver a visão a ratos que sofriam de retinite pigmentosa, doença hereditária que hoje é incurável.

A retinite pigmentosa se traduz numa degeneração progressiva dos fotorreceptores, células do olho que transformam a luz em impulsos nervosos, em seguida tratados pela retina e enviados ao cérebro por fibras nervosas. A doença provoca, primeiro, a degeneração dos fotorreceptores responsáveis pela visão noturna ; células conhecidas como bastonetes ; e depois os responsáveis pela visão diurna ; os cones. Mas enquanto a doença destrói os bastonetes, os cones sobrevivem no organismo, até mesmo depois da cegueira.

Os cientistas desenvolveram uma terapia genética para reativar os cones. Eles introduziram nos ratos afetados pela retinite pigmentosa uma proteína capaz de conferir aos cones uma nova sensibilidade à luz e voltar a estimular as vias de transmissão de informação visual. Conseguiram intervir em um momento no qual os cones conservam certas propriedades elétricas e suas conexões com os neurônios da retina que transmitem normalmente informação visual ao cérebro.

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