Muita gente acredita que, com amor, qualquer relacionamento dá certo. Pode até ser bom acreditar nisso, mas, ao contrário do que pensam os mais românticos, apenas o sentimento não é suficiente para construir uma relação sólida. Sem diálogo, qualquer casamento corre o risco de ir por água abaixo. A solução pode estar em um método nem tão novo, mas que ainda traz muito resultado: a terapia de casal. Com a mediação de um psicólogo, relacionamentos podem ser repensados e famílias, reconstruídas. Mas os especialistas alertam logo: apesar de eficaz, a técnica não faz milagres, e só funciona se o casal estiver realmente comprometido com a mudança de atitude. Segundo a psicóloga Marina Vasconcellos, a terapia é indicada para todos os casais que tenham problemas de comunicação. ;Muitas pessoas não conversam com o próprio parceiro, não falam o que estão pensando, quais são as suas expectativas. E também não dão abertura para que o outro faça isso;, afirma. ;Como um não fala o que espera do outro, há uma grande tendência em se frustrar com as atitudes do parceiro. É nessa hora que uma ajuda especializada pode ser bastante útil;, completa. A ausência de diálogo cria uma espécie de ciclo vicioso, que é destrutivo para o relacionamento. ;Muitas vezes, um dos membros do casal espera determinada atitude do outro, mas não diz. Quando o outro não age de acordo com essa expectativa, pelo simples fato de desconhecê-la, ele fica profundamente chateado;, conta Marina. ;Mas como corresponder a essa expectativa sem conhecê-la? Com o tempo, isso vai desgastando a relação e, por mais que as duas pessoas ainda se gostem, ela entra em crise;, completa. Ela conta que o fator mais importante para a terapia funcionar é a vontade do casal em mudar a situação. ;O terapeuta sozinho não é capaz de nada. Para que o tratamento tenha sucesso, é preciso que os dois queiram;, conta Marina. ;Há casais que ficam um mês, há outros que precisam de anos para se resolver. Isso depende de que tipo de problema eles têm, e o nível de complexidade dele. Quanto mais o casal demorar a procurar ajuda, mais demorado pode ser;, completa. Primeiro filho O casal Pedro e Joana*, ambos com 32 anos, vivia num relacionamento tranquilo. Há seis anos juntos, as brigas se limitavam às de qualquer casal comum. Quando chegou a primeira filha, a situação se inverteu. ;Quando o bebê nasce, você vê perdas, como a falta de tempo para sair, para se divertir e para cuidar de si mesmo. Os enormes ganhos que se tem quando nos tornamos pais demoram um pouco mais para ficar evidentes;, lembra a esposa. ;Foi aí que nossas diferenças começaram a ficar mais claras, e nosso relacionamento começou a ter problemas;, afirma. Os dois, que faziam terapia separadamente, passaram a frequentar sessões semanais juntos. ;Quando vem o primeiro filho, não nasce apenas uma criança, nascem um pai e uma mãe junto, e nós não estávamos conseguindo lidar com isso. Eu o pressionava, querendo mais comprometimento da parte dele, e ele ia se afastando cada vez mais;, relembra a mulher. ;Inicialmente, eu tinha um certo preconceito (com a terapia de casal), mas quando as questões começaram a ser colocadas e os primeiros resultados começaram a aparecer, eu percebi que era algo interessante;, completa Pedro. Depois de cinco meses de terapia, o casal recebeu alta, pois já tinha conseguido se acertar. ;Eu passei a enxergar melhor o lado da minha esposa;, afirma o marido. ;O ciclo vicioso se transformou em um ciclo virtuoso. Quanto mais eu deixava de pressioná-lo, mais ele ia se reaproximando. Hoje estamos bem;, comemora Joana. A psicóloga Maraci Sant;Ana, que também trabalha com terapia conjugal, explica que um erro muito comum é o casal acreditar que o terapeuta dará uma solução para o problema dos dois. ;Muitas vezes o casal termina por se separar, já que aquele relacionamento não tem mais condições de continuar. Nesses casos, a terapia pode ajudar os dois a terminarem sem ressentimentos;, afirma. ;O que determina o sucesso da terapia não é o casal conseguir continuar junto, mas chegar a um ponto em que os dois estejam felizes;, completa. Pedro concorda com Maraci e diz que encontrar a solução do problema é uma tarefa que cabe ao casal. ;O psicólogo apenas faz as perguntas certas e direciona a conversa. Quem tem de encontrar a solução é o casal;, afirma Pedro. Para Maraci, a vontade das duas partes é o que viabiliza a terapia. ;Não adianta o marido vir obrigado pela mulher, ou vice-versa. Os dois devem estar dispostos a se abrir e discutir o relacionamento. A falta de diálogo é tanta que chega um ponto em que os dois não conseguem conversar de forma alguma. Muitas vezes, um fala mais do que o outro, ou um dos dois tem dificuldade de se expressar. Quando eles conseguem ser honestos, acabam se surpreendendo com os pensamentos e as opiniões um do outro;, completa a psicóloga. O simples fato de haver um mediador na conversa ajuda o casal a melhorar o diálogo. ;No consultório, existem certas regras: você não pode gritar e partir para as ofensas. Isso impede que o casal comece a brigar e não consiga dialogar;, conta Maraci. Ela lembra ainda que a felicidade no casamento não impacta apenas na vida dos dois. ;O casal é a base da estrutura familiar. Assim, a vida dos filhos e de toda a família é influenciada por um casal que está em constante briga;, aponta. Jogos de poder A convivência nunca foi problema para Márcia*, 34 anos, e Rafael*, 36. Os dois moravam juntos havia um ano quando resolveram oficializar a união. Mesmo assim, o casamento trouxe problemas. ;Nós somos pessoas muito diferentes, e depois que nos casamos a relação mudou. Começaram a acontecer várias disputas de poder e de espaço dentro de casa;, relembra Márcia. ;O problema do nosso relacionamento eram as coisas não ditas, as expectativas que não falávamos e depois ficávamos chateados por não serem cumpridas. Com o casamento, essas expectativas aumentaram muito, e com elas, as brigas;, comenta. A partir da indicação de uma amiga, os dois procuraram um terapeuta de casal. O resultado, depois de quatro meses, foi uma melhora global no relacionamento. ;O simples fato de procurar ajuda já mostra que estamos tentando fazer algo para o relacionamento dar certo, e nos faz encará-lo de maneira diferente;, afirma Márcia. ;É uma oportunidade que temos de repensar que o importante é que gostamos um do outro e que vale a pena procurar uma forma de nos acertarmos;, conclui. Para o marido, os benefícios trazidos pela terapia vão muito além da relação conjugal. ;Eu fiquei surpreso com o nível de autoconhecimento a que chegamos durante as consultas. Por mais que você se conheça, esse processo muda a maneira com que você se vê, dentro e fora do relacionamento. Ter feito logo no início do casamento nos ajudou a construir uma relação mais sólida, e não deixá-la se desgastar tanto;, afirma Rafael. ;Eu recomendo para todo casal que precisa. É uma forma de encontro consigo mesmo e com o outro;, aconselha. * Os nomes dos pacientes são fictícios a pedido dos mesmos.
Mantendo o diálogo Confira algumas dicas para manter o diálogo com seu parceiro, evitando brigas e estresse
- ; Espere a hora certa, evite chamá-lo para conversar logo que ele chegar do trabalho ou quando estiver na presença de outras pessoas
- ; Não acuse o outro e prefira utilizar a primeira pessoa. Frases como ;eu não me sinto bem com essa situação; são bem mais eficazes do que ;você está fazendo isso;
- ; Crie momentos para conversar. Ter uma hora fixa para conversar, sem filhos ou amigos por perto, ajuda o casal a se abrir mais
- ; Não tenha medo de falar. Dizer o que está sentindo é sempre a melhor opção. Tentar ignorar os próprios sentimentos só gera mágoas e ressentimentos
- ; Seja educado. Muitas pessoas não tratam o parceiro da mesma forma como se relacionam com outras pessoas, o que é prejudicial para qualquer relacionamento
- ; Tenha tato. Um conteúdo pode ser apresentado de várias formas, por isso, na hora de conversar, fale de maneira a não magoar seu parceiro
Fonte: Psicóloga Marina Vasconcelos
Sinais de alerta Veja alguns dos fatores que levam os casais a procurar a ajuda de um especialista para resolver seus conflitos
- ; As desavenças nunca são resolvidas e sempre geram brigas
- ; O casal que antes se dava bem de repente começa a ter grandes discussões
- ; Desentendimentos surgem com frequência em relação à criação dos filhos
- ; Há diminuição do desejo sexual ou grandes diferenças no comportamento sexual
- ; Começa a haver dificuldade para conversar, mesmo assuntos triviais
- ; Suspeitas de traição, mesmo não confirmadas, geram desconfianças e crises
- ; Todas as decisões começam a ser tomadas por um dos parceiros sem que o outro seja consultado
- ; Um dos parceiros apresenta grande dificuldade de se desvincular da família de origem
- ; Problemas financeiros afligem o casal
- ; Estilos de vida muito diferentes (nível de instrução, objetivos e visões de mundo distintos) prejudicam o relacionamento
Fonte: Psicóloga Maraci Sant;Ana