Agência France-Presse
postado em 30/06/2010 17:16
PARIS - As formas de vida complexas, organismos pluricelulares, teriam surgido há 2,1 bilhões de anos, o que significa uma antecipação de 1,5 bilhão de anos no que havia sido documentado cientificamente até o momento, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira. A descoberta está na capa da revista científica britânica Nature, mesmo se, de acordo com especialistas, o estudo "traga mais questões do que respostas".As primeiras formas de vida que surgiram na Terra, há cerca de 3,5 bilhões de anos, eram unicelulares, seres vivos constituídos de apenas uma célula, como as bactérias.A origem da vida complexa multicelular não começou há mais de "600 milhões de anos atrás, mas sim há 2,1 bilhões de anos".
O cursor "se deslocou em 1,5 bilhão de anos", declarou à AFP Abderrazak El Albani (Universidade de Poitiers, França), principal autor do estudo. Com sua equipe internacional, ele descobriu no Gabão mais de 250 fósseis de entre sete milímetros e 12 centímetros de comprimento que podem revolucionar a história dos seres vivos.
Fósseis já haviam demonstrado uma explosão de formas de vida pluricelulares há 600 milhões de anos, mas sua aparição antes desse período era controversa, segundo o pesquisador. Até a recente descoberta, um fóssil, Grypania spiralis, com cerca de 1,6 bilhão de anos marcava o surgimento de vida mais complexa.
Os primeiros unicelulares e bactérias atuais são constituídos de uma célula sem núcleo, ou seja, sem membrana protetora do material genético - os "procariontes". As formas de vida complexas, dos insetos até os mamíferos, sem esquecer dos unicelulares como os paramécios, têm células chamadas "eucariontes", com cromossomos acomodados em um núcleo.
Com os fósseis encontrados no sítio de Franceville no Gabão, o início da existência dos eucariontes teria começado há 2,1 bilhões de anos e não há 1,6 bilhões como supunham com o Grypania spiralis. Com um tamanho muito grande para representar resíduos de simples unicelulares primitivos, os contornos dos fósseis evocam, segundo Albani, as formas de organismos vivos em suspensão na água ou perto do fundo do oceano.
"Interpretar realmente antigos fósseis é uma tarefa particularmente difícil", explicou Philip Donoghue (Universidade de Bristol, Grã-Bretanha) e Jonathan Antcliffe em um comentário publicado na Nature, prometendo "futuras discussões entre os paleontólogos".
"Esses fósseis de poucos centímetros, que os autores interpretam como representantes de organismos multicelulares", teriam surgido ainda em meio a "uma atmosfera de mistura tóxica (...) com um teor de oxigênio correspondente a alguns centésimos dos níveis atuais", contra-argumentaram os dois especialistas.
Sem colocar em dúvida a idade desses espécimes, eles notaram que a definição de uma vida pluricelular "pode incluir colônia de bactérias a mamíferos".
No seio das colônias bacterianas, uma forma de comunicação interna e de gestão organizada do crescimento do grupo foram constatadas, como pode ser observado nos estromatólitos (rochas) mais antigas que os fósseis encontrados no Gabão.
Segundo Albani, os espécimes descobertos não podem ter vindo de simples bactérias. O pesquisador pede ainda a preservação do sítio do Gabão, tentando transformá-lo em parte do "patrimônio mundial da humanidade".