postado em 06/07/2010 10:47
Filmes em terceira dimensão já são sucesso em Hollywood e estão cada dia mais populares nos cinemas de todo o país. A sensação de profundidade, criada pela ilusão de ótica, torna a imagem mais viva, atraente e realista, e encanta os olhos de quem assiste. A tecnologia já está disponível também para televisores e, em breve, chegará aos videogames. Emissoras de televisão estudam a possibilidade de transmissão em 3D ainda para este ano. Mas os médicos alertam para alguns riscos da exposição contínua a essas imagens. ;Durante uma projeção, são enviadas imagens diferentes para cada um dos olhos e o cérebro é obrigado a sobrepô-las, dando essa sensação de profundidade e a impressão de que os objetos estão saindo da tela;, explica a presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia, Célia Roester.De acordo com a especialista, devido ao esforço feito pelo cérebro por um tempo prolongado, as pessoas podem ter tonturas, náuseas, alteração do equilíbrio e dores de cabeça. Outro sintoma comum é o desconforto visual. ;Quando ficam muito tempo sem piscar, mantendo o foco visual em um mesmo ponto, podem ter os olhos ressecados;, diz. Foi o que aconteceu com Eduardo Cruz, 28 anos. ;Nas três vezes que fui ao cinema ver filmes 3D senti dores de cabeça e dor nos olhos;, conta. A filha, Maria Clara, 4, e a namorada do estudante, Lana Carvalho, 23, sentiram os mesmos sintomas. ;Depois de tentar filmes e salas de cinema diferentes e mesmo assim sentir sempre o mesmo desconforto, não arrisco mais;, relata a servidora pública.
Eles contam que as dores persistiam durante todo o filme e passavam assim que retiravam os óculos e saíam da sala de projeção. Os efeitos colaterais são mais comuns em quem tem alguma predisposição, como epilepsia, enxaqueca(1) e labirintopatias. No caso de portadores de epilepsia(2), Roester recomenda consultar e seguir as orientações de um neurologista antes de assistir a alguma transmissão em 3D, já que o estímulo luminoso repetitivo e muito próximo, por tempo prolongado, pode causar convulsões. ;E quem sofre de enxaqueca pode ter crises desencadeadas, até com náuseas e vômitos, devido à fotofobia e à disfunção labiríntica, presentes na maioria dos casos;, completa a especialista.
Conflito sensorial
As pessoas que sofrem de alguma labirintopatia(3) são mais sensíveis a determinados efeitos visuais e podem apresentar tontura, mal estar e enjoo. ;Isso ocorre devido ao conflito entre as informações sensoriais da visão e do labirinto. Quando está assistindo as imagens em 3D, o sistema visual faz com que o paciente se sinta naquele ambiente virtual. O labirinto, entretanto, está ;parado; e não detecta a movimentação que a visão está informando;, explica o especialista em otorrinolaringologia Fernando Ganança. Ele alerta: ;Aqueles que apresentarem intolerância devem procurar ajuda médica especializada para investigar a possibilidade de algum problema visual, labiríntico ou neurológico. No caso de alterações labirínticas, existe um treinamento com exposição repetitiva a estímulos visuais para que haja adaptação do paciente e a possibilidade de voltar a se expor a essas imagens, sem incômodos;.
O perigo maior, porém, está relacionado aos televisores. Não existem estudos que apresentem os efeitos neurológicos e oftalmológicos do uso prolongado e frequente desses aparelhos. Lançada no último mês, a primeira televisão com tecnologia 3D vendida no Brasil veio com um aviso sobre a possibilidade de indução de crises epilépticas, acidente vascular cerebral, tonturas, desorientação e fadiga ocular. Especialista em oftalmologia e professor da Universidade Federal da Paraíba, Osvaldo Travassos diz que, em tese, a observação em 3D não é prejudicial aos olhos ; o que deve ser levado em conta é o tempo de exposição, que não deve ultrapassar quatro horas. Roesler também recomenda cuidado especial com as crianças. ;Os estímulos são sentidos com mais força pelo cérebro infantil e elas podem apresentar distúrbios do sono importantes após uma exposição prolongada;, afirma.
Para Travassos, a tecnologia atual empregada na projeção e nos óculos 3D não oferece riscos para a visão e contribui muito para um entretenimento ilusório beirando o realismo. ;Mas é muito importante que os cinemas cuidem bem dos óculos, que eles sejam entregues esterilizados e em embalagens herméticas, para evitar contágio de doenças, como a conjuntivite, entre os usuários;, destaca.
Quase impossível
Para a visão estereoscópica (tridimensional) é necessário que o cérebro receba imagens de cada olho com boa acuidade visual, em ângulos ligeiramente díspares e simultaneamente, para que ocorra a fusão, processo denominado acomodação visual. Se uma pessoa só enxerga por um dos olhos, ou um olho tem pouca visão, não terá a oportunidade de ver as imagens tridimensionais. É o que ocorre com a jornalista Andressa Reze, 26: ;Enxergo só entre 20 e 30% no olho direito e isso dificulta minha visão de profundidade. Até vejo um pouco (imagens 3D), mas não do mesmo jeito que as outras pessoas;, conta. Há também pessoas que podem ter visão boa em cada olho, mas o cérebro só consegue interpretar a imagem de cada um deles isoladamente ; são casos mais raros, mas podem acontecer.
1 - Sofrimento
É um desequilíbrio químico no cérebro que leva a uma dor de cabeça latejante, com sensação de peso ou de pressão para fora. A dor da enxaqueca pode ocorrer em qualquer lugar da cabeça, inclusive na nuca e nos seios da face. A duração de uma crise pode variar de três horas até três dias, seguida de períodos variados sem dor.
2 - Sinais trocados
É uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou mesmo minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local (na chamada crise parcial) ou espalharem-se (crise generalizada).
3 - Desequilíbrio
São as afecções do labirinto (ouvido interno), responsável pelas funções de audição e equilíbrio. O termo labirintite, que é a infecção ou inflamação do labirinto, é usado de forma popular para denominar as labirintopatias.