Ciência e Saúde

Uso de materiais reciclados e de substâncias menos poluentes ganha espaço nas novas construções

Mostra Morar mais por menos, que começa em 22 de julho, em Brasília, dá várias opções de sustentabilidade para casas e apartamentos

postado em 16/07/2010 07:00
O fato de que o planeta não aguenta mais o atual ritmo de consumo e as exigências cada vez mais altas e urgentes do modo de vida da humanidade é uma preocupação crescente. Pensando nisso, a solução que os estudiosos têm defendido é o uso inteligente e comedido dos recursos naturais ; a chamada prática da sustentabilidade (1). Algumas dessas soluções poderão ser vistas na mostra ;Morar mais por menos;, que ocorre de 22 de julho a 29 de agosto, em Brasília, dispostas nos 40 ambientes criados por arquitetos e designers de interiores. Elas preveem, por exemplo, atitudes como reutilização de resíduos de obras, a substituição da madeira e o uso de adesivos sem solventes.

Um exemplo de quarto de criança: a cola do adesivo na parede é à base de água, sem solventeAntes escondido nas paredes, o PVC ; material de plástico durável e atóxico ; ocupa cada vez mais os espaços nobres dos ambientes em diversas formas. Além de barato, o material pode ser misturado à borracha e ganhar a cara da madeira, por exemplo. ;Por sua característica de durabilidade, o PVC é reaproveitado de outras obras. Fica muito bonito para revestir vigas de concreto;, pontua a arquiteta Ângela Borsoi, que utilizou o material para imitar a madeira ; e sua textura ; em um ambiente da mostra.

Embora o lixo produzido pelo consumo diário seja um problema nos aterros, os resíduos das obras são considerados tão prejudiciais quanto os do consumo. Toneladas de azulejos, pisos e revestimentos se transformam em entulhos com destino aos lixões. Segundo os arquitetos, o reaproveitamento desse material está em destaque também na composição de ambientes. ;Hoje, não é preciso mais quebrar o piso para trocá-lo. Há no mercado um tipo de piso chamado de Retrofit, de 4mm, que é aplicado em cima do piso anterior;, diz Egito Souza, arquiteto e empresário da construção civil. O mesmo vale para a aplicação nos azulejos. ;O uso desse material não gera entulho;, garante o arquiteto. Esse tipo de material foi utilizado no chão do lavabo criado para a mostra.

Mas, para que isso saia do papel e torne-se uma realidade, é preciso que a consciência seja despertada para a necessidade de tornar os empreendimentos sustentáveis uma prática corriqueira. ;Pensar que as coisas mudarão da noite para o dia é uma ilusão infantil. É importante que a criação de uma consciência sustentável que seja estimulada por uma pressão popular poderosa, que só será possível por meio da divulgação do conhecimento das reais necessidades ambientais e do perigo que corremos ao desprezá-las;, define a arquiteta Karla Madrilis, especialista em bioconstrução.

O Quarto do Escoteiro, ambiente assinado por Karla, é uma ótima alternativa para qualquer criança que deseja um quarto que seja mais do que um local para dormir e jogar videogame. ;Eu quis sair dessa coisa da criança tecnológica que tem no quarto computador, TV, videogame e liga tudo ao mesmo tempo. Quis resgatar a criança que brinca, solta pipa, sobe em árvore e gosta de acampar;, justifica a arquiteta.

A parede de tijolo aparente que já fazia parte da locação recebeu tinta em tom areia, que remete à madeira. No restante do ambiente, predominam os verdes, o linho cru, as pelúcias de bichinhos selvagens e madeira de demolição. Até um brinquedo de parquinho feito de bambu ; alternativa que agride menos à natureza do que a madeira tradicional ; e uma parede de escalada foram colocados no espaço.

Exigências
Combater o desperdício de materiais e garantir a economia de recursos importantes como água e energia são as premissas para um empreendimento sustentável. De acordo com Marilis, o apartamento, a casa ou até mesmo apenas um ambiente, mais do que simplesmente favoráveis à natureza, têm que estar enquadrados em alguns parâmetros básicos. São eles: ser ecologicamente correto; ser economicamente viável; ser socialmente justo e ser culturalmente aceito. Para isso, devem seguir algumas normas e parâmetros específicos em sua elaboração e construção. ;Aspectos arquitetônicos e do uso de materiais envolvidos no tratamento de seus resíduos devem ser levados em consideração, para garantir que haverá uma harmoniosa e correta integração com o meio ambiente e com a sociedade em que estiver inserido;, destaca a especialista em bioconstrução.

Atualmente, o uso de materiais sustentáveis é a prática mais adotada por projetistas e a mais pedida por seus clientes. ;As pessoas já estão com uma consciência sustentável e querem participar da preservação do meio ambiente. Pequenas ações, como a utilização de um tapete de fibra de garrafa pet ou o uso de uma adesivo à base de água e sem solvente, já causam impacto positivo, tanto na natureza quanto na sociedade, pois sua fabricação (tapete de garrafa pet) é feita por uma cooperativa que trabalha com materiais reciclados;, explica Marilis, que leva à mostra esses materiais.

Assim, os investimentos necessários devem ser feitos desde o início da concepção do projeto. ;A opção pelo uso de modernas tecnologias inovadoras ou por soluções práticas e de baixo custo já deve estar na mente dos projetistas para evitar improvisações e problemas com a execução do empreendimento;, diz Egito.

Reflorestamento

Porém, se a ideia for utilizar a madeira, os especialistas recomendam o uso daquela vinda de áreas de reflorestamento. Isso porque árvores de reflorestamento são consideradas ;poços de carbono;, que produzem material de qualidade suficiente para substituir nas construções a madeira oriunda das florestas tropicais nativas. ;Como se observa, além de sequestradoras de carbono em grande escala, as madeiras de reflorestamento, como alternativa, contribuem com a conservação das matas tropicais nativas pela simples redução da demanda. Isso é sustentabilidade;, destaca Flavio Carlos Geraldo, membro da diretoria da Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM).

A utilização de madeira de eucalipto e de pinus na construção civil e em segmentos como o ferroviário, o rural e o elétrico exige técnicas para preservar e proteger, garantindo uma durabilidade maior. ;Há como combater agentes deterioradores que podem ser de natureza química, física ou biológica;, afirma Geraldo.

1 - Próximas gerações
O termo sustentabilidade aplicado à causa ambiental surgiu como um conceito tangível na década de 1980, expresso por Lester Brown, que foi o fundador do Wordwatch Institute. A definição, que acabou se tornando um padrão seguido mundialmente com algumas pequenas variações, representa o seguinte: diz-se que uma comunidade é sustentável quando satisfaz plenamente suas necessidades de forma a preservar as condições para que as gerações futuras também o façam. Da mesma forma, as atividades processadas por agrupamentos humanos não podem interferir prejudicialmente nos ciclos de renovação da natureza e nem destruir esses recursos de forma a privar as gerações futuras de sua assistência.

Serviço

Mostra Morar mais por menos
De 22 de julho a 29 de agosto

Local: Setor de Clubes Sul, Trecho 3, União dos Escoteiros do DF, ao lado do MDO Squash

Entrada: R$ 30 e R$ 15 (meia para estudantes, pessoas acima de 60 anos e professores) e assinantes do Correio Braziliense

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