Ciência e Saúde

Exposição das "biocenas" mostra imagens da natureza criadas pela simples evolução

postado em 24/07/2010 07:00
A natureza parece brincar com as formas, texturas e cores das espécies e, muitas vezes, proporciona a quem observa o inesperado, como um bicho que parece uma folha ou um pedaço de madeira. Porém, algumas dessas características, que nada mais são do que estratégias para a sobrevivência, parecem verdadeiras obras de arte. São as chamadas !”biocenas;. É isso que um grupo multidisciplinar de pesquisadores pretende mostrar na exposição Arte e ciência das formas e padrões da beleza. ;Essas imagens parecem uma pintura ou uma escultura que estão ali no meio do mato, cujo artista se chama evolução;, explica Márcia Moura Franco, bióloga da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

As sementes da coroa, dispostas num padrão espiral determinado pela série de Fibonacci

A mostra, que começa em 9 de agosto e vai até 10 de setembro, no Centro de Visitantes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, vai utilizar a arte para sensibilizar as pessoas sobre a importância de se conservar o meio ambiente e de lutar contra a sua destruição. Trata-se de uma compilação de fotografias feitas pelos pesquisadores na Mata Atlântica ; nas unidades de conservação da Reserva União e do Poço das Antas ;, enfatizando formas, padrões e geometria. ;As imagens escolhidas foram interpretadas do ponto de vista científico e artístico, na intenção de aproximar o público da natureza, despertando o interesse e sensibilizando por meio da beleza das imagens, que poderão ser vistas em detalhes;, diz Antônio Carlos de Freitas, físico da UERJ e coordenador do projeto.

Para explicar toda a beleza que os pesquisadores pretendem mostrar, o projeto traz imagens da natureza com aspectos associados à forma, à geometria, à textura e ao contexto em que se inserem, relacionados com a função biológica. ;A gente costuma dizer que o sapo é feio. Ele não é feio. O sapo tem aquelas proporções de corpo para sobreviver no contexto dele. Então, ele é bonito no ambiente dele. Ele jamais poderia sobreviver sem aquelas proporções;, exemplifica Heloísa Guillobel, bióloga da Uerj e membro do projeto.

Para a bióloga, os humanos tendem a olhar para seres como o sapo e outros insetos e achar que lhes falta algo, porque esse algo está presente em nós, que somos a referência, não neles. ;Esquecemos que esses bichos são lindos dentro do contexto deles;, afirma Guillobel. ;Acredito que a exposição possa humanizar a forma como vemos esses organismos;, espera a bióloga.

A ideia dos pesquisadores também é mostrar que a arte e a ciência estão ligadas. Para Freitas, essas duas demonstrações humanísticas sempre caminharam juntas. ;Um grande exemplo disso é Leonardo da Vinci, um artista e cientista que em muitas de suas obras representou a arte por meio da ciência e vice-versa. Um de seus trabalhos mais conhecidos, o Homem Vitruviano, um desenho feito pelo pintor, mostra a estética do corpo humano associada às suas proporções, baseadas em cálculos matemáticos;, cita o físico.

A matemática, contudo, é outra vertente da ciência presente na natureza. Ela está representada em diversas espécies. Nas árvores, por exemplo, é a Sequência de Fibonacci (1) que determina as posições das folhas nos ramos em torno dos caules, de forma que essas folhas recebam igualmente a luz do Sol. Nos girassóis, sua exuberância está, também, ligada à matemática. ;As sementes da coroa são dispostas num padrão espiral determinado pela série de Fibonacci;, diz Freitas.

Assimetria atraente
De acordo com os cientistas, o que é belo para os humanos está representado na simetria, em que nosso olhar procura alguma coisa que possa ser divida igualmente. ;É como se uma lateral fosse sobreposta na outra. A falta de simetria nos incomoda;, ensina Heloísa. Porém, a natureza, quando nos apresenta a assimetria, nos surpreende, nos mostra o inusitado. ;Isso vai nos trazer o mesmo prazer que temos quando vemos simetria em alguma coisa;, conceitua Guillobel. As borboletas formam belos exemplares de simetria. ;Tanto nos desenhos geométricos quanto no contorno das asas;, explica Antônio Freitas. Outro exemplo ocorre quando uma lagarta se alimenta e cria desenhos simétricos nas folhas. ;São obras de arte;, define Márcia Franco.

Ainda segundo os pesquisadores, os humanos, por exemplo, são simétricos por fora e assimétricos por dentro. ;Para ver essa assimetria, basta abrir o homem. Ele tem um só coração e todos os órgãos de forma assimétrica;, informa Guillobel.

Ao utilizar o critério estético, mostrando imagens da natureza, Antônio de Freitas acredita que a ciência possa ser vista de uma forma mais atraente. ;Muitas dessas imagens podem despertar o interesse de crianças e adultos na busca pela informação sobre aquilo, como objeto de estudo ou apenas na conscientização da preservação dos ambientes naturais que ainda restam ; e que são perfeitos em beleza e harmonia entre todos os seus componentes.

1 - Número de ouro
A Sequência de Fibonacci, descoberta pelo matémático italiano Leonardo Fibonacci, consiste em uma sucessão de números, tais que, definindo os dois primeiros números da sequência como 0 e 1, os números seguintes serão obtidos por meio da soma dos seus dois antecessores. Portanto, os números são: 0,1,1,2,3,5,8,13,21,34,55,89,144,233,... Dessa sequência, extrai-se o número transcendental conhecido como número de ouro, ou seja, a razão áurea.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação