postado em 28/07/2010 07:00
Fumo e sedentarismo sempre foram listados como grandes vilões da pouca longevidade. Mas uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) revelou que a subnutrição é o principal fator de risco de morte em idosos. A nutricionista Luciana Ferreira (Ph.D), professora da Universidade de Taubaté, analisou mais de mil habitantes da região metropolitana de São Paulo com idade superior a 60 anos. A pesquisadora verificou a associação entre subnutrição e o óbito dessas pessoas e constatou que o quadro de subnutrição aumentou em 500% as chances delas morrerem. Significa dizer que idosos subnutridos têm seis vezes mais possibilidade de morrer do que aqueles bem alimentados.
O quadro de subnutrição foi comprovado utilizando-se o modelo de MiniAvaliação Nutricional(R). E os 332 óbitos foram averiguados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade de São Paulo. A conclusão foi que a subnutrição representa o fator de risco mais fortemente associado ao óbito em idosos brasileiros domiciliados, ou seja, que não estão em asilos ou casas de assistência coletiva. A subnutrição chega a superar o tabagismo, mesmo sabendo-se que o risco de óbito de fumantes é 140% maior do que para os que não fumam.
Sem energia
Renato Maia, responsável pelo Centro de Medicina do Idoso da Universidade de Brasília (UnB), afirma que a subnutrição associada a doenças e atratamentos inadequados tem grande impacto na saúde do idoso, gerando desequilíbrio na obtenção de energia para manutenção da vida. O especialista explica como esse processo gera uma corrente de risco: ;Esgotadas as reservas de carboidratos ; principal fonte de energia imediata ; é utilizada a reserva de gordura. Em seguida vem o consumo de proteínas, o que gera perda muscular, alteração na produção de hormônios, enzimas e estruturas celulares. Assim, o funcionamento dos mecanismos de defesa, desintoxicação, cicatrização e regeneração dos tecidos fica afetado, o que facilita a ação de agentes infecciosos, acidentes vasculares e a descompensação (1) de órgãos vitais;, observa.
Maia destaca ainda que a perda de massa e força muscular interfere na locomoção e no equilíbrio, o que aumenta a vulnerabilidade dos pacientes a quedas e consequentes fraturas. ;Alguns dos fatores que prejudicam a alimentação dos idosos são os males comuns do processo do envelhecimento. Idosos que têm prótese dentária mal ajustada ou sofrem de disfagia, por exemplo, têm dificuldade de mastigação e podem deixar de lado uma série de alimentos importantes, causando emagrecimento. Além disso, doenças do trato gastro-intestinal podem alterar o processo de absorção dos nutrientes e também causam perda de peso;, explica a chefe do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Fernanda Busnello.
Para a nutricionista é importante investigar o quadro geral de saúde do idoso e adequar a sua alimentação. Maia acusa a falta de informação como causa predominante da subnutrição em idosos, além da dependência de outras pessoas para o preparo e administração dos alimentos e imposições dietéticas rígidas. ;Ser obrigado a ingerir alimentos dos quais não gosta, mas que um filho julga importante, não é raro;, conta.
1 - Descompensação
Incapacidade do organismo em restabelecer o equilíbrio físico alterado por um problema estrutural ou funcional. Ocorrem vários tipos de descompensação: de ordem cardíaca, hormonal e também é muito frequente em idosos, sobretudo naqueles que sofreram acidentes cardíacos e vasculares.
Cereais, frutas, água e vida
Alzirina mantém a forma com sessões de ginástica e boa alimentação
Doenças psiquiátricas, como a depressão, e neurológicas, como Alzheimer, podem causar perda de peso. ;Também alguns medicamentos, principalmente a digoxina, droga usada no tratamento de algumas doenças cardíacas, podem reduzir o apetite e provocar má nutrição;, acrescenta Fernanda. Ela explica que quanto mais bem nutrido o idoso estiver, melhor a imunidade para enfrentar mudanças de temperatura ou qualquer outro tipo de instabilidade. ;O idoso mais nutrido também tem menor risco de infecção quando em internação hospitalar;, afirma.
Maia concorda e completa: ;A alimentação regular e balanceada contribui para a manutenção da saúde e do bem-estar do idoso. Além do melhor controle de doenças com graves consequências, como a diabetes, o colesterol alto ou a obesidade;. A nutricionista recomenda aos idosos uma dieta com ao menos três refeições principais ao dia, também dois lanches intermediários, um pela manhã e outro no período da tarde. ;A ingestão de cereais, de preferência grãos integrais, para facilitar o trânsito intestinal, de verduras e frutas, que são fontes de vitaminas, fibras e sais minerais e o consumo frequente de água são indispensáveis;, conta. Também leite e derivados, fontes de cálcio, devem estar presentes na dieta por serem importantes na prevenção da osteoporose.
Caminhadas
Edson Borges, 78 anos, é casado e tem dois filhos e dois netos. O servidor aposentado é diabético e segue as recomendações de seu médico à risca. ;Faço três refeições ao dia. No café da manhã tomo café com leite e como pão e frutas, depois almoço como um brasileiro tradicional ; salada, arroz, feijão e carne ;, tudo preparado pela minha esposa; na janta tem sopa de legumes;, conta. ;Também faço um lanche no meio da tarde, com chá e frutas, e antes de dormir como mingau de aveia;, completa.
Além disso, Borges faz caminhadas diárias no Parque da Cidade: ;Exceto aos domingo, que é dia de descanso;, diz. Preocupada com a saúde e o bem-estar, a dona de casa Alzirina Soares Santos, 73, também faz três refeições ao dia. ;Café preto, frutas e pão integral no café da manhã, depois sigo para academia, onde faço musculação, caminhada na esteira e alongamento. Depois disso, tomo um copo grande de suco de laranja;, conta.
O almoço é tradicional, mas com frutas de sobremesa. A avó de seis netos admite que deveria fazer um lanche intermediário, mas depois só se alimenta no jantar, com uma sopa de legumes, e toma um iogurte antes de dormir. Pessoas como Alzirina e Edson não sabem o que significa disfagia (1), porque se alimentam bem e mantêm suas fontes de energia em dia.
1 - Disfagia
Dificuldade de deglutição. Pode ter causas otorrinolaringológicas, digestivas ou neurológicas. Pode ser tratada com fonoaudiologia e medicação. Normalmente ocorre disfagia em pacientes que sofreram acidentes vasculares cerebrais ou outros transtornos neurológicos. A disfagia também é muito frequente em pessoas idosas.
Ouça trechos da entrevista com a nutricionista Fernanda Busnello, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre