postado em 04/08/2010 07:50
; Janaina Cunha MeloBelo Horizonte ; As novas tecnologias e o desenvolvimento científico têm sido as principais ferramentas para preservação e recuperação de monumentos históricos de valor incalculável. Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretora do Centro de Conservação de Restauração de Bens Culturais da Escola de Belas Artes (Cecor), Bethânia Reis Veloso lembra que este é um trabalho que exige dos especialistas conhecimento e senso crítico para analisar a situação de cada obra, fachada ou estrutura. Muitas delas, ao relento, ficam expostas à ação do sol, do vento, da chuva, da maresia, sem contar com intervenções inadequadas, o que provoca danos. O diagnóstico dos problemas pode ser oferecido com eficiência, por meio de técnicas cada vez mais avançadas, possibilitadas pela ciência.
No Brasil, ela observa, a maior parte dessas obras são produzidas com ferro, pedra, madeira, cimento e vidro. Estudos detalhados indicam formas de paralisação de degradação biológica, química, eliminação de insetos, para início da restauração física dos objetos ou estruturas arquitetônicas. ;Parece simples, mas não é. As avaliações precisam ser feitas a partir da proposta da obra, do conceito desenvolvido pelo artista. Se a restauração não levar em conta este elemento, o trabalho não se justifica.;
Para a busca dessas informações ; técnicas e subjetivas ;, equipamentos de alta precisão são utilizados, afirma a professora Eliana Ambrósio, especialista em restauração e conservação. As lâmpadas de vapor de sódio, com luz amarelada, realçam detalhes dos traços, no caso de pinturas. Com os raios X, é possível conhecer internamente as condições da obra, raios ultravioletas revelam intervenções e análises químicas, realizadas em laboratório, confirmam tipos de pigmentos, bases de preparação do objeto, ataques de fungos e de bactérias, entre outros elementos essenciais para a recuperação.
;As pesquisas para descobertas desses recursos estão muito avançadas no país, muito em razão do crescente interesse dos profissionais, que se dispõem a fazer cursos no exterior, pelo incentivo de fundações como a Vitae, que promovem acessos a simpósios, e pelos programas que permitem a troca de experiências entre os técnicos. Outro ponto importante foi a criação de cursos de graduação específicos;, diz a especialista, que chama atenção para a necessidade de qualificação constante da mão de obra, além da produção de conhecimentos a partir da realidade local. ;Isso impulsiona inclusive a indústria, que fica mais atenta à descoberta de produtos.; Segundo Eliana Ambrósio, a abertura das universidades para os cursos de restauração e conservação de monumentos é uma tendência mundial nos últimos 20 anos, e que recentemente também influencia o Brasil.
Professora que ministra cursos de materiais e técnicas e restauração de papel, ela observa que o diagnóstico da degradação é o primeiro passo para a recuperação eficiente, que respeita o conteúdo e não apenas a forma do monumento. ;Com todas as tecnologias e os produtos disponíveis na indústria, hoje é possível realizar teste, observar como se dá o envelhecimento das obras, como o novo material vai se comportar com o material antigo. Existem resinas acrílicas, tintas cada vez mais sofisticadas;, diz.
Eliana Ambrósio observa ainda que, apesar de todos os recursos disponíveis, essa é uma área que exige sensibilidade do poder público, da iniciativa privada e da população, de modo geral, tanto para a facilitação do acesso aos recursos que devem ser destinados ao cuidado de patrimônios culturais como para a criação de políticas de preservação, que mostrem aos cidadãos a maneira mais adequada para lidar com verdadeiras obras de arte que fazem parte das cidades e estão no cotidiano das pessoas.
A diretora do Cecor, Bethânia Veloso, defende que o aumento dos recursos científicos precisa ser acompanhado do desenvolvimento metodológico. ;Num país tropical, é preciso analisar incidência de luz, localização da obra, efeitos da poluição, temperatura e grau de exposição;, explica. Ela lembra que o estudo das degradações deve considerar motivações internas e externas, e que qualquer projeto de restauração tem que avaliar como o bem cultural está integrado à realidade social, a sua importância para a população e relevância histórica. ;Esses cuidados são fundamentais, com associação das possibilidades científicas com os interesses sociais.;
Adriano Ramos, um dos fundadores do Grupo Oficina de Restauro, com Maria Regina Ramas e Rosângela Costa, presta serviços na área de preservação e restauração de bens móveis e arte aplicada, além de treinamento e capacitação de mão de obra especializada, em Belo Horizonte. A empresa, que atua diretamente com a preservação do patrimônio cultural desde 1987, compara restauradores aos médicos. ;Partimos do diagnóstico para propor o tratamento das obras. Só assim podemos detectar com eficácia os agentes deterioradores;, diz. A colaboração da ciência, nesse caso, ele reforça, tem papel determinante. ;Os materiais estão se modificado de maneira muito veloz. Em alguns casos, encontramos produtos químicos e materiais fantásticos, além de pigmentos, tintas prontas, colas e removedores inimagináveis há poucos anos. Com a globalização, o acesso a estas informações é cada vez maior.;
Algumas técnicas
; Lâmpada de vapor de sódio: luz amarelada, que realça detalhes de desenho, no caso de pintura, além de estruturas e linhas.
; Raios X: permitem confirmar o tipo de material utilizado no interior da obra, se há ataque de cupim, pintura anterior à aparente, se o artista trabalhou em camadas.
; Ultravioleta: luz azulada que, em sala escura, revela por meio de fluorescências outras intervenções de restauração e problemas de degradação.
; Análises químicas: reagentes sofisticados revelam tipos de bases de preparação e pigmentos, e existência de fungos, entre outros elementos.
FONTES: Grupo Oficina de Restauro e Cecor
Fachada do prédio do Museu das Minas e do Metal
O prédio foi pintado com tinta à base de látex. A equipe de restauração utilizou tinta à base de cal, que era muito usual nos anos de 1950, e adquiriu aparência nobre, aveludada. Todo o trabalho foi realizado com acompanhamento do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). O resultado plástico recuperou características originais do imóvel.