postado em 14/08/2010 07:00
Uma verdadeira guerra arqueológica foi deflagrada na Bulgária ; ironicamente, por causa de um santo. Em 28 de julho, a equipe do pesquisador Kazimir Popkonstantinov encontrou uma urna de alabastro contendo ossos do braço, da perna, da face e fragmentos de um crânio, além de um dente, e anunciou que eram os restos mortais de são João Batista, o primo de Jesus que foi assassinado a mando do rei Herodes. Desde então, começou a briga, por meio da imprensa búlgara, entre pesquisadores que duvidaram da autenticidade da ossada. As discussões chegaram até a ministros de Estado. A urna, em formato de sarcófago, foi encontrada em uma basílica bizantina do século 5 na cidade de Sozopol, no sudeste do Mar Negro. Ela estava sob o altar da antiga igreja e levava o nome do santo impresso no alabastro. São João Batista é uma das figuras mais importantes do Novo Testamento. Ele foi o último profeta antes de Cristo a anunciar a vinda do Messias. São João, que batizou Jesus no Rio Jordão, morreu como mártir, porque a filha do rei Herodes, Salomé, se sentia incomodada pelas críticas públicas que ele fazia contra seu modo de vida soberbo.
Venerado especialmente pela igreja católica ortodoxa, o santo foi motivo, ao longo dos séculos, de discussões sobre seus restos mortais. A descoberta de Popkonstantinov colocaria fim às dúvidas sobre a localização das relíquias. Sozopol foi colonizada pelos gregos em 610 a.C. e tornou-se um dos primeiros centros cristãos depois da morte de Jesus. Durante a Idade Média, fazia parte do Império Bizantino. O que fez Popkonstantinov acreditar que ele encontrou as relíquias do santo foi uma pequena caixa de arenito econtrada perto da urna. Em grego, estava escrito ;Deus salve seu servo Thomas. Para São João. Junho, 24;. De acordo com o arqueólogo, a data, celebrada pelos cristãos como o nascimento de São João, indicaria uma ligação direta entre o santo e o local. O resto da inscrição sugeria que o dono da caixa a usava como um amuleto de proteção, talvez carregando as relíquias dentro de um objeto simples, para evitar atrair a atenção.
Assim que Popkonstantinov revelou a descoberta, o ex-diretor do Museu de História Nacional da Bulgária e atual ministro de Assuntos Exteriores, Bozhidar Dimitrov, fez declarações entusiasmadas à imprensa. ;Descobrimos que as relíquias de João Batista são exatamente o que os arqueólogos esperavam;, afirmou. Segundo ele, os ossos teriam sido doados ao monastério por algum representante do Patriarcado de Constantinopla.
Cautela
Não demorou para que o ministro da Cultura, Vezhdi Rashidov, jogasse um balde de água fria no colega. Ele deu várias entrevistas, alertando a mídia para não fazer especulações. ;É uma descoberta muito agradável, mas temos de esperar pelos testes para comprovar as origens dos ossos. Declarações levadas pela emoção podem ser simpáticas, mas temos de ter muito cuidado com elas;, alertou. A associação de arqueólogos da Bulgária também pediu cautela e um dos mais renomados pesquisadores do país, Nikolay Ovcharov, apelidado de ;Indiana Jones búlgaro;, denunciou um excesso de sensacionalismo em torno da descoberta.
A crítica de Ovcharov irritou o ministro Bozhidar Dimitrov, um historiador também renomado. Indignado ao saber que o arqueólogo falou que as conclusões sobre as relíquias eram prematuras, o ministro perdeu a compostura. ;Por que diabos e de onde vem toda essa inveja? Não consigo encontrar uma explicação para essas pessoas f*, esse colegas f*;, desabafou. É notório no meio acadêmico búlgaro uma rixa antiga entre Dimitrov e Ovcharov. Depois da divulgação de suas falas, o ministro explicou que não estava se referindo a ninguém em particular, apenas ;criticando um grupo de arqueólogos anônimos;.
"Por que diabos e de onde vem toda essa inveja? Não consigo encontrar uma explicação para essas pessoas f*, esse colegas f*;
Bozhidar Dimitrov, ex-diretor do Museu de História Nacional da Bulgária e atual ministro de Assuntos Exteriores