Ciência e Saúde

Cientista encontra fragmentos que remontam à criação do Sistema Solar

Descoberta pode ajudar a desvendar o passado da Terra e do Sol

postado em 16/08/2010 08:00
Quando uma nuvem de gás e poeira desabou sobre si mesma para formar uma estrela, o Universo já tinha cerca de 9,5 bilhões de anos. No disco que orbitava ao redor do astro recém-nascido, chamado de Sol, surgiram planetas ; inclusive a Terra. Agora, cientistas estão mais próximos de entender como o Sistema Solar foi formado. Uma equipe liderada pelo astroquímico francês Nicolas Dauphas, da Universidade de Chicago, detectaram em um meteorito fragmentos microscópicos de uma supernova (1), que teria surgido antes ou durante o nascimento do Sistema Solar. Pesando 14kg, a ;rocha; caiu em 14 de maio de 1864, pouco depois das 20h, perto de Orgueil (sul da França). Quando Dauphas e seus colegas analisaram detalhadamente o objeto, descobriram um grão de 100 nanômetros de diâmetro, mil vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo. Ele continha uma alta dosagem de crômio-54, uma espécie de impressão digital da supernova.

;A abundância anômala de crômio-54 permitiu-nos identificar esse grão no meteorito;, afirmou Dauphas ao Correio, por e-mail. O principal autor da pesquisa publicada pela revista científica Astrophysical Journal, seis dias atrás, explica que os meteoritos são feitos principalmente da poeira formada na nuvem de gás que originou o Sistema Solar. ;Mas essas rochas também contêm grãos que estavam lá antes mesmo de o Sistema Solar surgir. Alguns desses grãos foram criados durante a explosão da supernova, como o que encontramos;, comenta. O cientista convida o leitor a uma analogia. ;Pense como se procurasse por uma pepita de ouro em uma pilha de areia. Você usaria propriedades, como a densidade e a cor do ouro, para achá-la. Em nosso caso, utilizamos a abundância de crômio-54;, afirma. Apesar de esses grãos serem raros, suas composições bastante exóticas deixaram uma marca impressa sobre a composição de planetas volumosos.

Ao estudar o meteorito Orgueil, Dauphas teve uma sensação única. ;Foi como se pudéssemos viajar até o nascimento do Sistema Solar e pegar uma porção da areia que estava lá, antes mesmo de os planetas se formarem;, admite o astroquímico, quando questionado sobre a importância da descoberta. Segundo ele, o crômio-54 presente no bólido celeste é importante por se tratar de um resquício da explosão que provavelmente deu origem ao Sistema Solar. ;Se o grão encontrado tivesse a mesma composição que os grãos da Terra, então não teríamos sido capazes de detectá-lo;, comemora.

Raro
O que torna a descoberta ainda mais fantástica é a característica extremamente rara do meteorito. Dauphas revela que Orgueil é bastante friável ; pode se desintegrar com facilidade, se entrar em contato com a água. ;É o tipo de meteorito que precisa ser recuperado logo depois que cai. Uma tempestade seria o bastante para derretê-lo;, observa.

Além do crômio-54, dois isótopos de curta atividade, o alumínio-26 e o ferro-60, foram descobertos dentro do mesmo meteorito. Os dois elementos também são fortes indicadores da origem da supernova e provêm de uma supernova tipo II (2). Os cientistas já extraíram vários grãos do tipo II, mas nunca do tipo I. Agora, Dauphas pretende determinar que tipo de supernova contribuiu com a presença de crômio-54 no Orgueil. A resposta poderá vir por meio da medição de cálcio-48, substância muito com em supernovas do tipo I, mas muito difícil de ser produzida nas do tipo II.

Dauphas admite que o achado é um dos mais importantes já feitos em relação à formação do Sistema Solar. De acordo com o astroquímico da Universidade de Chicago, toda a pesquisa foi ;desafiadora;. ;Se apenas um dos passos fracassasse (a preparação das amostras do meteorito, as medidas isotópicas e a caracterização dos grãos), nós não teríamos sido capazes de fazer essa descoberta;, diz. Ele enaltece a importância de ter uma equipe forte de ;cientistas que sabiam o que faziam para encontrar os grãos;. ;Nós empurramos os instrumentos ao limite de suas capacidades e, agora, precisaremos de desenvolvimentos tecnológicos para saber mais sobre esses grãos;, conclui.

1 - Energia liberada
Supernovas são estrelas explodindo que podem se tornar bilhões de vezes mais brilhantes que o Sol, antes de gradualmente apagarem-se. Quando atingem o máximo brilho, podem eclipsar uma galáxia inteira. A explosão lança uma nuvem de poeira e gás no espaço. A massa do material expelido pode exceder em até 10 vezes a massa do Sol.

2 - Estrelas binárias
Os astrônomos conhecem dois tipos de supernovas ; I e II. O tipo I ocorre em certas estrelas binárias (pares de estrelas que estão próximas e orbitam entre si). O tipo II resulta da morte de uma única estrela muito mais pesada que o Sol. Quando a estrela começa a queimar, seu núcleo rapidamente colapsa. Uma energia tremenda é liberada na forma de neutrinos ; uma partícula subatômica ; e de radiação eletromagnética. Essa energia a transforma em supernova.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação