Paloma Oliveto
postado em 20/08/2010 08:15
Os estragos provocados pela explosão da plataforma exploratória Deepwater Horizon, da British Petrolium (BP), no Golfo do México, há quatro meses, podem ser maiores do que se imaginava. Uma equipe de pesquisadores descobriu que, a 1,1 mil metros de profundidade, uma pluma(1) de hidrocarbonetos se arrasta por mais de 35km nas águas oceânicas, na direção sudeste. De acordo com eles, trata-se de resíduos do derramamento de petróleo da plataforma da BP. Os pesquisadores ainda não sabem, porém, que danos poderão ocorrer em decorrência da existência da pluma. O estudo foi conduzido por cientistas da Woods Hole Oceanographic Institution (WHOI), corporação independente que, desde a década de 1930, faz pesquisas oceanográficas ao redor do mundo, e publicado na edição de ontem da revista especializada Science. Os pesquisadores analisaram diversas amostras dos hidrocarbonetos(2) provenientes de petróleo e concluíram que a composição dessas substâncias não era natural e teve origem com o derramamento de abril.
Além disso, eles descobriram que micróbios do fundo do oceano estavam degradando a pluma relativamente devagar, indicando que a concentração de hidrocarbonetos vai persistir por um bom tempo. Para divulgar esses resultados, a equipe analisou 57 mil amostras entre 19 e 28 de junho, em um cruzeiro científico financiado pela National Science Foundation e operado pela Universidade de Rhode Island.
Os cientistas usaram duas tecnologias avançadas para fazer os experimentos. Eles contaram com o veículo submarino Sentry e com um espectrômetro de massa (veja arte), o Tethys, ambos capazes de chegar até a pluma, recolher amostras e fazer análises químicas. ;Além do espectrômetro, usamos alguns sensores móveis para identificar o fluxo, a velocidade e a direção da concentração de hidrocarbonetos;, explicou em uma webconferência para a imprensa mundial o cientista da WHOI Richard Camilley, que participou dos estudos e foi quem desenvolveu o espectrômetro em parceria com a Monitor Instruments Co. Segundo ele, o Tethys é pequeno o suficiente para caber dentro de uma caixa de sapatos, mas é capaz de identificar em frações de minutos quantidades de petróleo e outros componentes químicos presentes na água do mar.
Os dados trazidos pelo Tethys não foram animadores. ;Muitas pessoas especularam que o petróleo seria facilmente biodegradado. Mas não foi o que encontramos. Ele continua lá. Se a existência da pluma de hidrocarbonetos significa uma ameaça muito grande ao Golfo do México, ainda não sabemos. Também não sabemos o quão tóxica ela é e como ou por que se formou. Mas conhecer o tamanho, a forma, a profundidade e a direção da pluma é vital para responder muitas dessas perguntas;, disse. ;Lembrem-se de que não estamos no seriado de TV CSI. Todos nós gostaríamos de ter dados em oito segundos, mas isso nunca vai acontecer neste mundo. Paciência é uma virtude;, brincou Chris Reddy, oceanógrafo que participou das pesquisas.
Micróbios
De acordo com Reddy, muitas outras análises de laboratório serão necessárias para descobrir a importância da pluma de hidrocarbonetos. ;Até agora, sabemos que ela existe, e saberemos mais sobre sua atividade biológica potencial no futuro. Um dos aspectos da pesquisa era investigar como o oxigênio está sendo consumido no fundo do mar, um trabalho feito pelos micróbios que estão lá;, explicou. Existem bactérias comedoras de petróleo, que limpam o oceano ao mesmo tempo em que degradam o oxigênio dos hidrocarbonetos. ;Mas esses micróbios são como ;adolescentes;, eles trabalham no tempo deles, fazem o que querem fazer, então é difícil fazer predições;, disse Reddy.
Porém, os cientistas destacaram que, até onde foi possível fazer as medições, eles verificaram que a degradação está ocorrendo em um tempo maior do que o esperado. Ao mesmo tempo, o espectrômetro não identificou áreas conhecidas como ;zonas mortas;, que seriam locais onde o oxigênio estaria tão baixo que nenhuma forma de vida conseguiria enfrentar. Não é possível dizer se essas áreas realmente não existem ou se o aparelho apenas não conseguiu identificá-las por alguma questão técnica. A partir de agora, a equipe pretende continuar a analisar as amostras já coletadas e procurar por outras plumas de hidrocarboneto que podem estar no fundo do Golfo do México.
1 - Camada
Há diversas formas de definir uma pluma. Geralmente, podem ser descritas como uma camada de alguma substância encontrada em determinada profundidade. Quimicamente, é possível medi-la, a partir da análise da concentração de elementos que se acumulam ao longo dessa camada.
2 - Carbono e hidrogênio
Hidrocarbonetos são compostos químicos constituídos essencialmente por átomos de carbono e de hidrogênio. O petróleo é uma combinação de diversos hidrocarbonetos líquidos extraídos tanto da terra quanto do mar.
