postado em 24/08/2010 07:00
Quando um filho está a caminho, todos logo cercam a mãe de cuidados e orientações. Dicas de como agir, histórias de família, tudo ajuda a mulher a se preparar para a importante missão. Mas, e o pai? Cada vez mais presentes na criação das crianças, os homens muitas vezes se sentem perdidos na hora de definir qual é o seu papel na educação dos pequenos.Análise feita por um pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) indica que, nesse momento, o que mais pesa é a história familiar. A atitude dos pais, especialmente os de primeira viagem, é fortemente influenciada pelo tratamento que receberam em casa quando ocupavam a posição de filhos.
Um dos pontos avaliados pelo autor da pesquisa, Rubens Maciel, foi o senso de responsabilidade, considerado essencial para a educação de uma criança. Esse é um dos aspectos em que a relação com o próprio pai mais interfere na maneira como um homem trata seu filho. Aqueles que não tiveram uma figura paterna forte e presente acabam ficando mais perdidos na hora de lidar com seus filhos. Por outro lado, ter um pai presente e atuante ajuda os homens a compreenderem melhor o papel que podem desempenhar.
O músico Luciano Marques, 41 anos, diz que, mesmo tendo todo o desejo de acertar na educação da pequena Helena, 7, fica perdido em alguns momentos. ;Ser mãe é algo mais intuitivo, existem muitas referências. Já para o pai, não. A gente tenta, mas às vezes é bem difícil;, revela. Ele conta que não teve uma relação muito boa com seu pai. Na falta de uma referência positiva, Luciano usa suas lembranças para determinar como não agir com a menina. ;Tive um pai distante e, com minha filha, procuro fazer exatamente o contrário, agir de maneira oposta àquela que meu pai agiu comigo;, afirma. ;Quis ser pai para ser pai de verdade;, emenda.
Na sua pesquisa, Maciel analisou a fundo o caso de quatro homens de 25 a 40 anos, todos residentes em São Paulo e passando pela primeira vez pela experiência da paternidade. Outra de suas constatações mais interessantes é que alguns pais criam expectativas exageradas sobre a paternidade. ;Esses pais creem que, no futuro, a paternidade lhes trará um estado de grande satisfação, que os salvará de seus problemas e frustrações atuais. Eles acreditam, inclusive, que o filho será a salvação do casamento, motivo de orgulho e representará a felicidade da união;, conta o especialista.
Para Luciano, a paternidade não ajudou a manter o seu casamento com a mãe de Helena, com quem mantém uma boa relação até hoje. ;Apesar de não ter sido algo exatamente planejado, eu acho que ela veio na hora certa. Mesmo se eu tivesse me separado, creio que acabaria tendo um filho no meu próximo relacionamento;, conta. Hoje, apesar de morarem em casas separadas, pai e filha mantêm uma relação muito próxima. ;Eu tento ser um pai muito presente, participar da criação dela;, completa o músico.
Perdas
A insegurança é outro aspecto que assola os pais de primeira viagem. Conscientemente ou não, eles sentem que, com a chegada da criança, perderão parte da atenção que têm das mulheres. O produtor de televisão Pedro Henrique Santos, 36 anos, pai de Rosa, 6, concorda. Mas ele diz que é possível não cair nessa armadilha. ;Eu concordo que existe a ameaça. Mas eu não tive esse problema porque a gravidez era um projeto comum, meu e da minha esposa;, explica. Pedro conta que passou cinco anos amadurecendo a ideia e planejando a gravidez junto com Clarissa, com quem é casado há 10 anos.
Mesmo com todo o preparo, alguns problemas foram inevitáveis. ;Eu tive que me dedicar quase que integralmente a um trabalho durante três meses. Quando ele acabou, o clima não estava bom entre eu e a Clarissa. Mas foi durante um curto período;, conta. Outro motivo de conflito foi a diminuição da vida social. Pedro sentia mais necessidade de sair de casa que a mulher, o que foi, durante algum tempo, fonte de culpa. ;Eu me sentia menos preocupado com a Rosa do que a Clarissa parecia ser, e isso gerava pequenos atritos;, completa. Para solucionar esses problemas, o casal investiu no diálogo até se acertar.
O psicólogo clínico e escolar Erich Botelho garante que a relação com o próprio pai influencia em todos os aspectos da vida de um homem, inclusive na paternidade, mas é apenas uma entre tantas que definem quem será um bom ou mau pai. ;Não podemos generalizar e achar que todas as pessoas que não tiveram uma figura masculina forte não serão bons pais. A maturidade de cada um, o temperamento, o desejo de ter filhos e os valores cultuados também são tão importantes quanto o histórico familiar;, afirma.
Ele lembra ainda que a ausência do pai pode ser suprida por outra figura. ;Um padrasto, um tio, ou mesmo a mãe podem desempenhar essa função. O importante é que a criança receba um modelo de afeto vindo de dentro de casa;, explica Botelho. ;Também é interessante discutirmos o que é um bom pai. Muitas vezes, atitudes de rigidez que julgamos ruins quando estamos na posição de filho acabam tendo seu valor reconhecido quando assumimos o papel de pai;, opina.
O músico Luciano Marques conta que fica atento para não repetir com a pequena Helena os erros que enxerga na criação que recebeu: ;Eu tento ser um pai muito presente, participar da criação dela;
ENTREVISTA
Como foi feita a pesquisa?
O primeiro estudo incluiu 160 pais (80 casais) e seu filho primogênito, visto duas vezes nas primeiras seis semanas e depois de 6 meses. Nós medimos o nível de hormônios presentes no sangue e observamos cada pai interagindo juntos e sozinhos com o bebê. O segundo incluiu 112 pais (71 mães e 41 pais). Medimos os hormônios no sangue, saliva e urina antes dos pais interagirem com a criança por 15 mintues e novamente após a interação. O terceiro incluiu 55 pais (36 mães e 19 pais). Hormônios foram coletados de ambos os pais e a criança antes e depois da interação.
Que tipo de alterações hormonais aconteceu no pais?
No primeiro grupo o mesmo nível de oxitocina foram encontrados em mães e pais. Ele era individualmente estável ao longo do tempo (aqueles que foram altos permaneceram elevados). No segundo grupo os pais, que fizeram uma grande quantidade de toques nos filhos, aumentaram a sua ocitocina. O mesmo não acontece com os pais fizerma poucos carinhos nos filhos. Já no tereceiro grupo os pais com alto teor de oxitocina causaram um aumento das substâncias também nos filhos.
Existe alguma relação entre o aumento hormonal e habilidade dos pais para lidar com seus filhos?
Sim, os pais que têm altos níveis de oxitocina e prolactina mostram uma relação melhor com os filhos.
É possível determinar por quanto tempo dura essa alteração?
Nós não sabemos ainda. Agora estamos medindo os níveis hormonais do primeiro grupo avaliado, três anos depois da primeria medição, e eles permanecem altos, especialmente em casos on trata-se de pai solteiro.