Laura Valente
postado em 30/08/2010 09:11
Belo Horizonte ; Poucas pessoas dão importância aos dentes extraídos, de leite ou permanentes, cujo destino mais comum é o lixo. Assim como o coração, o pulmão e os rins, porém, eles também são órgãos humanos, podem ser doados e consistem em material de estudo e pesquisa precioso para a ciência. É o que explica a professora Cláudia Penido, coordenadora do projeto que deu origem ao primeiro Banco de Dentes Humanos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), instalado no câmpus Coração Eucarístico, em Belo Horizonte.Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), o projeto do Departamento de Odontologia é vinculado ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS). O banco será totalmente implantado em dois anos, mas já está funcionado e recebendo doações. Em breve, avalia a professora, o que ainda é tratado como novidade será comum. ;A importância da criação de bancos de dentes humanos vem sendo discutida pela Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (SBPqO) e por outras entidades há alguns anos. Um banco nacional deverá ser criado;, antecipa. Cláudia cita ainda a necessidade de regulamentar as doações e assim criar uma fonte permanente e sistematizada de dados importantes para a prática de testes e pesquisas. O manuseio dos dentes, a preocupação com a biossegurança, a organização e a divisão por grupos também estão no foco do projeto.
Como órgãos humanos, os dentes estão submetidos à Lei de Transplantes brasileira. Daí a importância de regulamentar a doação, o que pode ser feito de forma simples, por meio de um formulário assinado pelo doador. ;Em pouco tempo, todos os dentes usados para pesquisa serão cadastrados e catalogados por exigência dos comitês de ética. Para tanto, já existem formulários e termos de consentimento próprios. O objetivo é difundir a ideia, promover a troca de experiências e, ainda, o auxílio na implantação de outros bancos.; Vale informar que todos os tipos de dentes interessam aos pesquisadores: provisórios e permanentes, cariados, restaurados e outros, de adultos e de crianças. Os pequenos, aliás, são doadores em potencial dos 20 dentes de leite que caem na troca da dentição provisória para a permanente. Nesse caso, o termo de consentimento é assinado pelos pais ou responsáveis.
Utilidade
Os dentes doados são aproveitados em atividades acadêmicas e de pesquisa. Na graduação, exemplos são o estudo da anatomia dental e o aprendizado de técnicas para o tratamento de canal. O dente também é fundamental para a realização de testes laboratoriais. Um dos mais comuns avalia a qualidade das resinas para restauração disponíveis no mercado. Cláudia explica que os dentes não serão usados em implantes, pelo menos por enquanto, mas reforça a importância de a população colaborar. ;Precisamos de dentes para formar bons dentistas. O reflexo dessas pesquisas está diretamente relacionado à qualidade da saúde bucal.;
O banco será importante por poder, no futuro, ceder dentes doados para uso clínico como colagens de fragmentos e outros fins já demonstrados por pesquisas científicas; proporcionar a professores e alunos a possibilidade de desenvolvimento de trabalhos científicos; evitar que docentes e estudantes de odontologia contribuam, mesmo que involuntariamente, com o comércio dos órgãos dentários.
Com a intenção de informar e sensibilizar a comunidade, o trabalho da PUC-MG vem sendo divulgado desde novembro do ano passado nos postos de saúde conveniados à universidade e em atividades de prevenção. As doações podem ser feitas pessoalmente em todos os câmpus da PUC mineira ou mesmo enviadas pelos correios. Os dentes a serem doados poderão ser levados secos ou imersos em água de torneira ou água deslitada. Não use álcool, água oxigenada, soluções fluoretadas, soluções para enxaguamento bucal etc. O formulário sobre o projeto está disponível no site bancodedentes@pucminas.br. O telefone de informações é o (31) 3319-4414.