postado em 30/08/2010 09:23
Quando um dos maiores terremotos da história sacudiu a metade ocidental da ilha caribenha Hispaniola, onde fica localizado o Haiti, cerca de 200 mil pessoas morreram e 1,5 milhão ficaram desabrigadas. Pouco mais de sete meses depois, o pequeno país tenta se reconstruir e, ao mesmo tempo, cientistas de todo o mundo tentam encontrar as causas da tragédia. Inicialmente, acreditava-se que a falha geológica do Enriquillo, que passa pela capital do país, Porto Príncipe, havia sido a responsável pelo tremor. No entanto, uma pesquisa da Universidade de Purdue, dos Estados Unidos, revelou que a verdadeira causa foi outra fenda, até então desconhecida.Em entrevista ao Correio, um dos responsáveis pela pesquisa, o americano Eric Calais, explicou que as análises de GPS feitas antes e depois do tremor mostraram que o epicentro do terremoto não correspondia à região inicialmente determinada. ;O quadro que emergiu não é compatível com deslizamento horizontal da falha Enriquillo. Cálculos posteriores indicaram que a maioria da derrapagem ocorreu em uma falha diferente, até então desconhecida;, conta o pesquisador. A falha só agora identificada está localizada nos arredores da cidade de Leogane, a 35km da capital do Haiti.
Ele explica que, em uma falha grande como a que passa pelo Haiti, é comum a ocorrência de outras menores. ;Essa falha recém-descoberta é provavelmente uma das várias falhas menores que ocorrem ao longo da falha do Enriquillo;, afirma Calai. ;Em 1980, algumas falhas secundárias já haviam sido catalogadas por geólogos haitianos na região sul da ilha, mas desde então, infelizmente, não houve muitas pesquisas nesse sentido;, completa.
Para o pesquisador, a descoberta não significa que a região está mais suscetível a terremotos. ;Muito pouco mudou sobre a classificação do risco de tremores na região. O que a nossa pesquisa aponta é que ainda há muito trabalho a ser feito se quisermos obter um catálogo detalhado de todas as regiões suscetíveis a abalos no Haiti;, completa Calais.
O chefe do observatório sismológico da Universidade de Brasília (UnB), professor Lucas Vieira, explica que, ao contrário do que a maioria das pessoas acredita, as falhas geológicas não ocorrem como uma fenda isolada. ;Existe todo um sistema de fendas, e um abalo em uma pode causar a ativação de outras;, conta o professor. Para ele, é natural que, com o tempo, outras falhas que permanecem ocultas sejam descobertas, exatamente por causa de abalos como esse. ;Com a ocorrências de abalos sismicos, falhas sismogênicas que não têm manifestação da superfície podem ser descobertas;, conclui Vieira.