postado em 04/09/2010 07:00
De repente, a visão escurece ou surge a tontura. Rapidamente, a pessoa procura um lugar para sentar-se, justificando: ;Foi uma queda de pressão;. Ela não deixa de estar certa, porque pode não passar de uma mera baixa da pressão arterial. O sinal, porém, exige atenção: é um indício de uma doença silenciosa, chamada síndrome vasovagal (SVV). O mal provoca a perda súbita da consciência, repetidamente, associada à impossibilidade de permanecer em pé ou de levantar-se.A síncope é um dos problemas médicos mais antigos registrados. Atribui-se a Hipócrates a primeira descrição do desmaio, que pode resultar de diversas causas. Nas últimas décadas, contudo, tem-se focalizado uma causa em especial: os distúrbios do sistema nervoso autônomo, responsável pelo controle da pressão arterial e do batimento cardíaco, que podem levar à hipotensão, intolerância ortostática (incapacidade de ficar de pé) e, por último, à síncope.
O comando desse sistema é feito pelo hipotálamo, no cérebro. Quando a glândula não funciona bem, causa um desequilíbrio no sistema nervoso autônomo, que se reflete no coração. ;O nervo vago tem terminações no coração e, quando a glândula entra em mau funcionamento, ocorre um aumento da função vagal, com dilatação das veias, queda da pressão e dos batimentos cardíacos. É isso que faz o paciente passar mal, desmaiar;, explica José Sobral Neto, cardiologista do Instituto do Coração de Taguatinga (Incor).
O problema é mais comum em jovens entre 15 e 25 anos. Atinge cerca de 3% da população masculina e 3,5% da feminina e está associado ao estilo de vida que a pessoa leva. Segundo Sobral Neto, intervalos longos entre as refeições e má alimentação são os principais fatores para desencadear a SVV. ;O hipotálamo é muito sensível à falta de alguns sais importantes para o seu equilíbrio;, esclarece. ;Por isso, a importância de se alimentar corretamente e, principalmente, de tomar água, que ajuda nas reações químicas do organismo;, ressalta.
A arquiteta Lorena Oliveira Ribeiro Silva, 25 anos, descobriu no ano passado que tem a SVV. Ela conta que passava até seis horas sem se alimentar. ;Não tinha tempo de tomar café da manhã e, muitas vezes, não sentia fome durante o dia.; Com o tempo, a moça começou a sentir tontura, fraqueza, dores de cabeça constantes e muita dificuldade para levantar-se. ;Não podia fazer nenhum movimento brusco, como levantar e virar a cabeça, que minha vista escurecia e ficava tonta;, relata. A partir daí, Lorena peregrinou por diversos consultórios médicos até chegar a um cardiologista. ;Ele acabou descobrindo que eu tinha picos de pressão baixa durante o dia e, durante a noite, os batimentos do meu coração eram abaixo do normal;, conta.
Sinais
A SVV geralmente apresenta sintomas prévios (veja infografia) leves com duração variável ; de poucos segundos até minutos ;, progredindo para a perda da consciência e a incapacidade de ficar de pé. São eles que ajudam no diagnóstico do problema. O desmaio é um dos sintomas mais frequentes e não costuma ter duração prolongada. Há, entretanto, pacientes ; como Lorena ; que nunca chegaram a ter uma síncope, apresentando apenas os demais sinais.
Alguns desmaios podem ser acompanhados de convulsões, o que, por vezes, leva a um diagnóstico equivocado de epilepsia. De acordo com Nasser Allam, neurologista e pesquisador adjunto do Laboratório de Neurociência da Universidade de Brasília (UnB), esse tipo de confusão é muito comum, por conta das convulsões. ;Muitos pacientes passam anos a fio tomando remédio para epilepsia sem ter a doença;, disse. ;É importante que o médico não descarte os exames cardíacos, que ajudam no diagnóstico da SVV;, coloca Allam.
Embora a síndrome vasovagal não coloque o paciente em risco de vida, ela pode ser incapacitante. Desmaios repentinos podem comprometer a qualidade de vida das pessoas: imagine os traumas causados por quedas insistentes e por episódios em situações extremamente delicadas ; quando a pessoa está dirigindo um automóvel, por exemplo. O estudante de gastronomia Renan Santos de Araújo Borges, 21 anos, sabe muito bem o que é perder os sentidos e acordar com um trauma. Seu primeiro desmaio foi no meio da rua, enquanto carregava alguns quilos de carne. ;Não me lembro de nada. Quando acordei, estava no hospital, depois de ter caído de cara no chão.; Os desmaios o levaram a um neurologista e depois a um arritmologista que diagnosticou a SVV. ;Meu diagnóstico foi difícil, porque não tinha nem um dos outros sintomas;, lembra.
Os médicos explicam que os desmaios podem ocorrer em algumas situações, como estresse, calor e dor. ;Pessoas que passam mal ao ver sangue ou alguma cena que as leve ao estresse e provoque um desmaio são boas candidatas a terem SVV;, avalia Allam. Ficar muito tempo em pé também é uma situação que pode levar a pessoa à síncope. ;Na SVV, a pessoa tem uma propensão a ter uma queda da pressão, sem que haja uma resposta rápida do organismo para que a pressão suba imediatamente. Ela perde a capacidade de resposta;, explica o neurologista.
A SVV costuma ter bom prognóstico. A maior parte dos pacientes não necessita de um tratamento específico. Medidas simples, como dieta rica em líquidos e sal, meias elásticas para ajudar na circulação do sangue e atenção aos fatores desencadeantes, são suficientes para evitar desmaios. ;Aprendi a perceber os sintomas prévios e, com isso, evito passar mal. Se eu ficar muito tempo sem comer, por exemplo, passo mal na hora;, diz Lorena.