Paloma Oliveto
postado em 04/09/2010 07:00
Entender o fluxo migratório dos animais marinhos é uma das principais preocupações de biólogos, que buscam nos padrões de deslocamento uma forma de garantir a preservação de espécies de peixes, baleias, golfinhos, focas e morsas, entre outras. Graças a uma ferramenta desenvolvida em conjunto pelos programas Censo da Vida Marinha(1) e Rastreador do Oceano Pacífico (Post, sigla em inglês), foi possível identificar a rota de diversos habitantes do fundo do mar. Os dados obtidos pelos pesquisadores foram transformados em uma coleção de artigos, lançados nesta semana pela Public Library of Science.Segundo o diretor-executivo do Post, Jim Bolger, a ferramenta ajuda ;pesquisadores de agências, universidades e outras organizações a rastrear animais marinhos e diádromos (peixes migrantes) pelas camadas oceânicas;. O projeto está limitado ao Oceano Pacífico, na costa leste da América do Norte. Bolger conta que vários receptores acústicos foram colocados em linhas, situadas em posições estratégicas ao longo da costa, por uma extensão de 3 mil quilômetros, desde o Alasca até a Califórnia, passado pela Colúmbia Britânica, no Canadá. Os resultados do estudo ficarão à disposição de todos os cientistas interessados, por meio do download gratuito no site .
Nos últimos oito anos, pesquisadores independentes tiveram como tarefa capturar animais e implantar sob as escamas um sonar acústico, que emite um ruído particular. Quando o mamífero ou o peixe passa pelos receptores, eles são identificados. O som chega até um computador instalado em um navio do Post, que o captura, decodifica e consegue mapear a rota de migração. Até agora, cerca de 16 mil exemplares de 18 diferentes espécies receberam os implantes.
;O Post fornece uma grande economia para pesquisadores que querem rastrear os animais marinhos na costa oeste. Normalmente, eles teriam de comprar, investir e manter uma grande quantidade de equipamentos. O Post faz com que esse processo fique mais simples. Os pesquisadores, agora, só precisam escolher um animal e implantar nele um sonar;, disse ao Correio Jim Bolger. De acordo com ele, o impacto do projeto é imensurável. ;O Post trouxe aos cientistas uma nova ferramenta para testar hipóteses sobre os caminhos da vida marinha, a causa de morte das espécies e fatores que afetam seu comportamento. Às vezes, rastrear os animais nos traz resultados surpreendentes.;
Uma das pesquisas que foi possível graças ao Post investigou o declínio na população de uma espécie de salmão (a Onocorinchus kisuthc), cuja população decaiu 90% na década de 1990 na costa canadense. Os cientistas da Noruega e do Canadá implantaram sonares em 190 animais e os acompanharam ao longo de três anos. Os salmões partem do Rio Fraser, no Canadá, e nadam por 350km até alcançar o oceano. Ao acompanhar a trajetória dos animais, os cientistas observaram que eles somem ao entrar em contato com uma área marítima onde há níveis excessivos de minerais como zinco, fósforo e ferro, além de uma grande quantidade de coliformes fecais. Isso os faz acreditar que a predação e a poluição são as responsáveis pelo declínio da população do Onocorinchus kisuthc.
1 - Inventário
O Censo da Vida Marinha é uma compilação de dados construída por 360 pesquisadores de todo o mundo. Ele definiu 25 áreas-chave da vida nas profundezas oceânicas. No total, foram catalogadas 2.698.968 espécies de plantas e animais, divididos em 14 grupos, que vão de peixes a pequenos vermes, passando por esponjas, moluscos e crustáceos. O mapa ainda deve aumentar, porque os inventários da Indonésia, de Madagascar e do Mar Arábico não foram enviados a tempo para a publicação.
Sistema de receptores
O esquema (fora de escala) representa alguns receptores do Post mostrando que em um único nível do oceano é possível detectar o fluxo de diferentes espécies. O receptor manda sinais remotos que são decodificados por um modem, dentro do navio.