postado em 23/09/2010 08:00
A astronomia é uma das ciências que mais desperta a curiosidade das pessoas e, também, a que mais agrega amadores. Por conta deles, centenas de descobertas foram ; e continuam sendo ; feitas no Universo, o que confirma seu viés ;democrático;. Todo esse interesse público faz com que cientistas rodem o mundo inteiro promovendo encontros para falar sobre seus trabalhos e descobertas. Hoje, o brasiliense terá a oportunidade de estar frente a frente com os astrofísicos espanhóis Xavier Barcons, pesquisador do Instituto de Física de Cantábria (CSIC-UC), em Santander, e Ramón J. Garcia López, coordenador da área de instrumentação do Instituto de Astrofísica de Canárias (IAC). Eles vão apresentar as descobertas do observatório espanhol, com ênfase nas imagens captadas dos feixes de luz dos raios X e gama, obtidas em órbita.
Após quase 40 anos de exploração do espaço, a utilização desses raios para ver e entender fenômenos no Universo se tornou parte de uma ferramenta rotineira da astrofísica moderna. Através da análise de onde vêm os feixes dos raios X e gama e da sua composição, pode-se tentar extrair as informações que eles contêm sobre o local onde foram produzidos e os mecanismos físicos responsáveis por sua produção. Pode-se, ainda, tentar decodificar as informações trazidas por esses raios sobre o espaço interestelar que atravessaram e os fenômenos que testemunharam durante sua longa trajetória. O estudo dos raios X e gama é, portanto, uma poderosa ferramenta para se investigar a natureza da matéria e para tentar desvendar alguns dos mistérios do Universo, como, por exemplo, o seu início.
Além do convencional

Raios X e raios gama
Ambos constituem algumas das formas mais energéticas da luz. Graças aos raios X , os médicos podem ver os ossos do corpo humano. Já os raios gama são os mais difíceis de produzir e de detectar. É por isso que Barcons e López afirmam que os raios gama são muito mais raros no Universo. Barcons explica que, para uma estrela produzir raios X ou gama, é preciso que ocorram fenômenos energéticos violentos em seu interior ; como, por exemplo, enormes quantidades de matéria que se deslocam com grande velocidade, atraídas pela força gravitacional de estrelas compactas, ou pela presença de campos magnéticos bilhões de vezes maior do que o campo magnético da Terra. Barcons afirma que a visão desses fenômenos, os quais considera ;espetaculares;, por laboratórios na Terra é ;inconcebível;. Só poderiam ser vistos através de telescópios de raios X ou raios gama, em órbita.
Detecção

Uma nova visão
Graças a essas novas formas de astronomia observacional, os cientistas descobriram coisas nunca antes vistas no Universo, como, por exemplo, os buracos negros, que atraem a matéria em torno deles, e produzem grandes quantidades de radiação X e gama. Muitos desses buracos negros são invisíveis aos telescópios ópticos. As observações astronômicas em raios X e gama revelam, também, um Universo muito diferente do que é visto na observação com telescópios ópticos convencionais.
Resultados
Dos resultados mais importantes descobertos pelos telescópios Magic nos últimos anos, López destaca a localização exata de um acelerador de partículas, em uma galáxia ativa; a detecção de um enorme disparo de raios gama em um quasar; a descoberta da emissão intermitente de raios gama de altíssima energia no pulsar da Nebulosa do Caranguejo; e o primeiro indício observacional da aceleração de raios cósmicos galáticos, nos restos de uma supernova. Com isso, López avalia que todos esses resultados são fundamentais para entender claramente alguns dos fenômenos energéticos mais violentos conhecidos no universo. Já Barcons destaca a descoberta da matéria escura, que mantém as galáxias e os aglomerados, e a confirmação da teoria da relatividade de Einstein, de que a luz e os raios X devem perder parte substancial da sua energia, com o fim de escapar da força gravitacional criada, principalmente, pelos buracos negros.