postado em 02/10/2010 08:00
;Que feio, fazer xixi na cama na sua idade!” Essa, infelizmente, é uma expressão comum a muitos pais quando percebem que seus filhos ;molharam; a cama durante a noite. Especialistas explicam, no entanto, que a perda involuntária de urina durante a noite é completamente natural na primeira infância, mas, se prolongada, pode ser um sintoma de diversos problemas, como infecções e distúrbios intestinais. É quando ela se torna uma doença, conhecida como enurese noturna. Por isso, não adianta ameaçar, colocar de castigo ou brigar: xixi na cama se resolve com muito diálogo e ajuda especializada.A diretora do departamento de Urologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Nilzette Bresolin, confirma que até determinada idade o xixi na cama é algo completamente normal. ;Não existe uma idade exata para a criança parar de fazer xixi na cama, porque cada uma tem seu ritmo, mas, em geral, é entre os 5 ou 6 anos que ela deve conseguir ir apenas no banheiro;, afirma a médica. ;Se, a partir dessa idade, ela ainda continuar, não necessariamente vai haver um problema físico, mas os pais já devem procurar um médico para verificar se está tudo em ordem;, aponta.
;As causas podem ser variadas, e vão de problemas psicológicos, como traumas e pressões vividas pela criança, até problemas físicos, como infecções no trato urinário e problemas intestinais;, explica Nilzette. ;Daí a importância de se procurar um médico. O xixi na cama pode ser mais que uma questão isolada, pode ser um sintoma de um problema bem mais grave;, alerta.
A psicóloga infantil Girlene Marques Pinheiro explica que, quando o problema for psicológico, é importante os pais avaliarem o contexto em que a criança está. ;É preciso avaliar se o problema é gerado pela entrada de um novo membro no núcleo familiar, se os pais são excessivamente ansiosos ou se ela está se sentido excessivamente pressionada;, explica. ;Todas as nossas ações são uma forma de comunicação, e o xixi na cama pode significar que a criança está passando por um problema sério.;
O xixi noturno já foi um transtorno para o filho da assessora de fundo de pensão Juliana*, 32 anos. Júlio*, 8 anos, tinha dificuldades de ir ao banheiro durante a noite. ;Logo cedo, com 2 anos, ele já não usava fraldas durante o dia, mas à noite o problema não acabou, ele ainda fazia muito xixi durante o sono. Mesmo usando fralda, ele fazia tanto que chegava a vazar;, conta a mãe. ;Dormimos na mesma cama, então isso gerava vários problemas;, relembra.
Com cerca de 4 anos, o garoto parou de usar fraldas à noite, mas a dificuldade continuou. ;Eu chegava a levá-lo no colo para o banheiro para que ele pudesse fazer xixi durante a madrugada, mas, mesmo assim, ele eventualmente urinava na cama;, relembra a mãe. ;Até os 6 anos, essa situação persistiu, e depois foi diminuindo pouco a pouco;, conta Juliana. ;Ele sente muita sede durante a noite, e por isso ingere muito líquido. Até hoje, mantenho a rotina de colocar ele para ir ao banheiro antes de dormir.;
A médica Nilzette Bresolin explica que o tratamento para o problema depende da apuração das causas exatas. ;Quando se trata de enurese noturna monossintomática (veja infografia), em geral fazemos um tratamento de treinamento com a criança, que condiciona seu organismo a não urinar durante o sono;, explica. ;Já no tipo polissintomático, o tratamento depende da determinação da causa do problema. Se for psicológico, trata-se com um psicólogo; se for intestinal ou por causa de infecções urinárias, o tratamento pode ser medicamentoso, por exemplo;, completa.
Erros
Para Girlene Marques, se a atitude dos pais for incorreta, pode gerar diversos problemas para os pequeninos. ;Em hipótese alguma deve-se castigar a criança. Também não se deve adotar aqueles discursos bastantes comuns de ;Olha que coisa feia, uma criança desse tamanho fazer isso;;, opina. Ela conta que esse tipo de atitude pode piorar ainda mais a situação, independentemente da origem do problema. ;Ao dizer isso, o pai acaba desqualificando a criança, colocando-a como incapaz, como alguém que não consegue se controlar. Com esse tipo de pressão, ela tende a ter ainda mais dificuldade para lidar com o problema;, opina.
Para ela, o caminho é o diálogo. ;Uma atitude que funciona muito bem é conversar com a criança para encontrar uma solução juntos. Em geral, elas já se sentem chateadas quando isso acontece, já têm a consciência do problema. Sentar-se com ela e dizer ;O que podemos fazer para resolver isso;, dá muito mais confiança para a criança, que, caso não tenha nenhum outro problema biológico, conseguirá superar essa fase;, conclui a psicóloga.
Assim, especialmente nos casos monossintomáticos, a participação dos pais para criar um clima confortável que facilite essa educação urinária dos pequenos é essencial. ;Para eles pararem de fazer xixi na cama, além de ensinar e controlar a quantidade de líquidos que eles consomem à noite, eu sempre deixo uma lâmpada acesa, assim eles não ficam com medo de ir no escuro para o banheiro;, relata a secretária Vânia*, 29 anos, mãe dos gêmeos Carlos* e Maria*.
A receita da secretária deu certo. Os dois irmãos, que têm 5 anos, já passam a noite toda sequinhos desde os 3. ;Claro que isso não diminui os meus cuidados. Quando eles estão muito cansados ou bebem muito líquido à noite, eu ainda uso uma fralda, pois acho que eles não conseguirão acordar para ir ao banheiro;, ensina novamente a mãe.
Independentemente das causas do problema e das formas de ação que os pais adotarem, é preciso agir rápido. ;Esse tipo de problema, em geral, faz com que a criança se retraia ou se sinta incapaz, gerando um distanciamento social;, conta a urologista Nilzette. ;Se não for resolvido logo, pode ter reflexos ao longo da vida, como sentimento de incapacidade ou até mesmo o desenvolvimento de problemas sexuais e de relacionamento;, conclui a psicóloga Girlene.
Nomes fictícios a pedido dos entrevistados