Ciência e Saúde

Brasileiro cria método para reproduzir células em 3D

Técnica inventada pelo químico Glauco Ranna de Souza, que trocou Brasília pelos Estados Unidos há 21 anos, aproxima o crescimento das amostras ao que ocorre dentro do corpo humano. Método é mais barato e permite desenvolvimento celular muito mais rápido

postado em 03/10/2010 08:00
Cientistas brincam de Deus quando criam células em lâminas de laboratório e as observam atentamente no microscópio. Tanto poder, porém, ainda não é suficiente para entender a essência da vida. Um dos principais desafios da ciência é compreender como acontece a interação entre as células do corpo humano. A resposta para isso pode estar nas salas de uma empresa norte-americana comandada por um brasiliense de 40 anos. Glauco Ranna Souza criou uma técnica para o estudo de material biológico que deixa as amostras mais fiéis ao que ocorre no organismo do homem.

O invento de Glauco, químico que deixou a capital federal há 21 anos, usa a nanotecnologia para fazer as células levitarem, simulando o ambiente natural das estruturas. Atualmente, os pesquisadores cultivam as amostras em duas dimensões (veja infografia). ;Ao colocar o material na lâmina, ele desce para o fundo e gruda. As células, então, crescem para os lados, achatadas, diferentemente do que ocorre no nosso corpo;, explica o pesquisador. ;Todos os sistemas experimentais tendem a se aproximar das condições naturais. Mas isso nem sempre é possível e pode trazer dificuldades e erros na interpretação de fenômenos estudados in vitro;, diz o microbiologista Isaac Roitman, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Para resolver esse problema, Glauco aplicou um hidrogel com nanopartículas magnéticas em volta das células. Depois, colocou um campo magnético em cima do recipiente onde estava o material. Tal qual ocorre com os ímãs de geladeira, as células foram atraídas para cima, retomando o mesmo formato de quando estavam no corpo humano. Além disso, a reprodução celular foi muito mais rápida do que no método tradicional. Em um dos testes com estruturas de glioblastoma ; um dos tipos mais agressivos de câncer no cérebro ; o tumor criado com a técnica de levitação cresceu em 48 horas. Com os recursos atuais, as células demoram cerca de um mês para se desenvolverem no cérebro de camundongos.



;O avanço não vem somente da descoberta da levitação. É interessante também porque o jeito de cultivar células em 3D é muito parecido com o utilizado até agora, com um custo bastante viável;, afirma o químico brasiliense. ;Aparentemente, esse recurso aproxima o laboratório das condições naturais, evitando avaliações equivocadas;, endossa o microbiologista Isaac Roitman. Os pesquisadores da empresa de Glauco, a Nano3D, ainda precisam verificar se a aplicação do hidrogel pode influir nas propriedades das células a longo prazo. ;Mas os primeiros estudos não indicaram qualquer alteração;, conta Glauco.

A levitação celular deve impulsionar pesquisas com células-tronco humanas para formação de tecidos que poderão ser usados pela medicina regenerativa. Outra grande aplicação será em testes de novos medicamentos. ;Em uma camada fina de material biológico, todas as células sentem os efeitos da droga. Se as estruturas estiverem em 3D, o remédio vai se espalhar de um jeito diferente;, aponta o pesquisador. Um dos projetos da empresa do brasiliense, financiado pela National Science Foundation dos Estados Unidos, pretende desenvolver um modelo de pulmão para testes de toxicidade do ar. ;Nesse caso, o mais importante é a possibilidade de cultivar células pulmonares na interface do ar, uma vez que as células levitam;, diz o químico.

Técnica inventada pelo químico Glauco Ranna de Souza, que trocou Brasília pelos Estados Unidos há 21 anos, aproxima o crescimento das amostras ao que ocorre dentro do corpo humano. Método é mais barato e permite desenvolvimento celular muito mais rápido

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