Agência France-Presse
postado em 11/10/2010 16:24
Washington - Médicos americanos iniciaram o tratamento de um paciente com derivados de células-tronco embrionárias humanas como parte do primeiro teste clínico desse tipo autorizado, o primeiro no mundo para esse tratamento tão promissor quanto polêmico.O início desse estudo clínico foi anunciado nesta segunda-feira (11/10) pela empresa de biotecnologia americana Geron Corporation que obteve uma autorização da Agência Federal de Medicamentos (FDA) em janeiro de 2009.
"O início do teste clínico GRNOPC1 é uma etapa importante para os tratamentos humanos com base em células-tronco embrionárias", ressalta em um comunicado o Dr Thomas Okarma, PDG da Geron.
O principal objetivo desse teste clínico, chamado de fase um, é avaliar a segurança e a tolerância a essas células derivadas de células-tronco embrionárias - chamadas de GRNOPC1 - nas pessoas paralisadas devido a uma lesão da medula espinhal.
Os participantes desse estudo devem ter sofrido o ferimento recentemente e receber os GRNOPC1 em um período de menos de 14 dias, indica Geron.
O objetivo do teste é injetar nos voluntários paralisados células derivadas de células-tronco embrionárias humanas na esperança de que elas possam regenerar as células nervosas danificadas e, eventualmente, permitir à pessoa de recuperar a sensibilidade e a capacidade de se mover.
O primeiro paciente foi selecionado no Centro Shepherd de Reabilitação e de Pesquisas com Ferimentos na Medula Espinhal e no Cérebro de Atlanta (Geórgia, sudeste), um dos sete potenciais centros de recrutamento de pacientes nos Estados Unidos para o teste clínico.
"Quando começamos a trabalhar neste projeto em 1999, muitos previam várias décadas antes que esses tratamentos celulares seriam aprovados para testes clínicos no homem", lembrou o Dr Okarma.
Geron já havia realizado uma série de testes pré-clínicos in vitro e também em animais de laboratório.
As células-tronco embrionárias são as únicas células do organismo com a capacidade de se multiplicar sem limite e de se transformar em qualquer tipo de célula do corpo, apresentando, com isso, um enorme potencial para o tratamento, não só de lesões na medula espinhal, como também de doenças incuráveis, como o Mal de Parkinson ou a diabetes.
O maior desafio para os pesquisadores é fazer com que essas células-tronco "se diferenciem" para se transformarem nas células que eles desejam obter, sem o risco de se transformarem em células indesejáveis, como de tumores cancerosos.
Mas a pesquisa e a utilização dessas células-tronco é controversa porque elas são retiradas de embriões humanos no primeiro estágio do desenvolvimento (blastócito), causando a destruição.
Grupos religiosos e políticos conservadores se opõem a esses procedimentos. Um juiz federal congelou em agosto os recursos federais destinados à pesquisa com essas células.
No entanto, essa decisão foi suspensa no início de outubro, permitindo a manutenção dos trabalhos pelo tempo que a corte de apelações decidir.
Em um decreto de março de 2009, o presidente Barack Obama retirou as restrições à utilização de recursos públicos impostos pelo governo Bush em 2001.
Mas esse problema poderá ser contornado graças a um novo método apresentado no fim de setembro e considerado promissor para reprogramar células-tronco humanas adultas (da epiderme) que são idênticas às células embrionárias, segundo esses pesquisadores.