Ciência e Saúde

Pesquisas encontram novas aplicações para o cajueiro

postado em 22/10/2010 08:00
Árvore-símbolo de regiões quentes e áridas, o cajueiro, com seus frutos, sempre esteve presente na cozinha do brasileiro, fornecendo doces, sucos e até mesmo receitas requintadas de grandes chefs. No entanto, engana-se quem acha que a planta é apenas uma fonte de alimento. Pesquisadores provaram que ela tem potencial para fins terapêuticos, cosméticos e científicos, podendo originar produtos tão variados como cremes e géis dentais, antifúngicos e sensores que detectam anormalidades em exames médicos.

De acordo com a professora de toxicologia e fitomedicamentos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Jane Sheila Higino, o cajueiro é utilizado no Brasil há séculos para o tratamento de diarreias, hemorragias, inflamações e infecções. ;A planta inteira tem atividade antibacteriana e apresenta uma forte ação anti-inflamatória;, ressalta. Ela e uma equipe formada por professores da UFPB e das universidades federal e estadual de Pernambuco (UFPE e UEPE) desenvolveram, a partir do vegetal, creme e gel dermatológicos, cremes dentais para escovação que previnem a placa bacteriana e um biofilme dental.

A pesquisadora conta que a pesquisa foi possível porque o grupo encontrou no extrato do caule do cajueiro substâncias químicas diferentes como plifenóis, taninos, alcaloides, flavonoides e terpenos. ;Para chegarmos a esse resultado, fizemos a identificação botânica, os estudos fitoquímicos, farmacológicos e microbiológicos. Em seguida, nós avaliamos o efeito toxicológico e, por último, o farmacotécnico da planta;, descreve.

Também na UFPB, outra equipe ; chefiada pela diretora do Centro de Ciências da Saúde, Margareth Formiga de Melo Diniz ; avalia um creme vaginal de excelente potencial contra bactérias e fungos. De acordo com a professora, o produto foi desenvolvido a partir da casca do cajueiro. ;Estamos fazendo os testes clínicos e percebemos que o gel tem baixa toxidade, sendo excelente no combate de cândidas e de doenças causadas pelas bactérias estafilococos e estreptococos;, revela Margareth.

Goma
Em outro laboratório, no Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Biotecnologia (Biotec), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a professora Carla Eiras utiliza a goma natural liberada pelo tronco do cajueiro para produzir filmes. ;Essa goma é um polímero liberado como mecanismo de defesa da planta;, comenta. Como a substância é resistente à água, a equipe de Carla desenvolveu películas tão finas que não podem ser vistas a olho nu e que atuam, por exemplo, na detecção de herbicidas na água. ;Eles são utilizados nas plantações e, quando chove, acabam poluindo os rios;, ilustra.

Outra aplicação dos filmes feitos com a goma do cajueiro ocorre no desenvolvimento de sensores para detectar, em diagnósticos laboratoriais, a presença de células do leishmania, o protozoário causador da leishmaniose. ;Os filmes respondem com uma mudança de sinal elétrico quando há presença do material investigado. Monitorando este sinal, é possivel utilizar esses filmes como sensores;, explica.

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