postado em 28/10/2010 08:00
Até amanhã ocorre em Nagoya, no Japão, a 10; Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (COP-10). Pouco mais de um mês depois, em 29 de novembro, começa em Cancún, no México, a 16; Conferência-Quadro das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP-16). Os dois assuntos ; preservação da vida e mudanças climáticas ; são tratados em eventos diferentes, em lados separados do mundo. No entanto, uma pesquisa feita por especialistas de vários países, incluindo o Brasil, e coordenada pelo Departamento de Desenvolvimento, Alimentação e Relações Agrárias do Reino Unido mostra que os temas são altamente relacionados. O estudo defende que, ao contrário do que tem sido feito, uma ação conjunta nas duas áreas pode ajudar tanto a preservar a vida quanto a diminuir o ritmo de aquecimento da Terra. O relatório destaca que entre os 12 países mais poluidores do mundo, responsáveis por 80% da emissão de gases causadores do efeito estufa, seis deles ; Brasil, China, Índia, Indonésia, México e África do Sul ; estão também incluídos no seleto grupo de 17 países que guardam 70% da diversidade biológica do planeta. ;A arquitetura sobre mudanças climáticas globais e proteção da biodiversidade tem um grande potencial tanto de sinergias quanto de conflitos. Apesar disso, as duas questões são tratadas separadamente;, criticam Eduardo Viola e Cristina Inoue, autores de um dos artigos do estudo.
O levantamento, intitulado Tudo conectado ; clima e diversidade em um mundo frágil, aponta também consequências negativas para a economia se o clima continuar sendo alterado e a extinção de espécies prosseguir. O perfil agrícola brasileiro, por exemplo, pode ser radicalmente afetado. ;A mandioca pode desaparecer da região do semiárido do Nordeste e o café terá uma pequena chance de sobrevivência no Sudeste. Por outro lado, a Região Sul do Brasil pode se tornar adequada para o plantio das duas culturas, já que o risco de geadas diminui;, explicam no documento os cientistas Eduardo Assad e Hilton Pinto. ;A cana pode se espalhar em todo o país, a ponto de dobrar sua área, mas a escassez de água pode ameaçar o cultivo de soja em todas as regiões;, prosseguem.
Soluções adiadas
Divulgado oficialmente hoje, há apenas dois dias do fim da COP-10, o estudo representa mais um esforço para que os países cheguem a um acordo para a redução da extinção de espécies vegetais e animais em todo o mundo, além de adiantar os debates que acontecerão no mês quem vem no México. ;Estamos todos cansados das infinitas reuniões que simplesmente adiam as soluções para os problemas. Também estamos cansados de decisões que são dissociadas da vida real;, disse ontem em Nagoya a ministra brasileira do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
Próxima do fim, a conferência do Japão apresenta poucos avanços. O país anfitrião anunciou ontem que doará anualmente a quantia de US$ 2 bilhões para que os países em desenvolvimento possam preservar sua diversidade. A decisão, no entanto, não pretende ser seguida pela União Europeia, que se mantém contra o aumento do repasses desses recursos. ;A Europa, nos últimos oito anos, já vem gastando 1 bilhão de euros por ano;, afirmou à agência Reuters o representante europeu Karl Falkenberg. Os EUA, país mais rico do mundo, não participam das discussões, permanecendo apenas na condição de ;observadores; da conferência.
O relatório Tudo conectado ; clima e diversidade em um mundo frágil mostra que seis dos 12 países mais poluidores do mundo estão também entre o grupo de 17 nações que guardam 70% da diversidade biológica do planeta. São eles: Brasil, China, Índia, Indonésia, México e África do Sul. Veja as listas completas.
12 principais emissores de CO2
África do Sul
Brasil
Canadá
China
Coréia do Sul
EUA
Índia
Indonésia
Japão
México
Rússia
União Européia
17 guardiões da biodiversidade
África do Sul
Austrália
Bolívia
Brasil
China
Colômbia
Congo
Costa Rica
Equador
Filipinas
Índia
Indonésia
Madagascar
Malásia
México
Quênia
Venezuela