[FOTO1]O prazer de saborear uma ostra à beira da praia ou em um bom restaurante desaparece por completo se for seguido de intoxicação alimentar. Buscando evitar esse problema, a equipe do Laboratório de Virologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveu uma depuradora de moluscos bivalves (ostras, mariscos, mexilhões, vieiras, entre outros) que filtra e expulsa o conteúdo intestinal dos animais, reduzindo os riscos de contaminação. Os primeiros testes bem-sucedidos foram realizados com ostras.
Segundo a doutoranda Adriana Corrêa, a depuradora é eficiente principalmente no combate à contaminação por bactérias, embora também elimine os vírus. O sistema é composto por um tanque plástico com capacidade para 300l, uma bomba de circulação e um sistema de luz ultravioleta (UV). Durante a ação de limpeza, o tanque é enchido com água do mar de boa qualidade microbiológica (limpa) e até 600 ostras são colocadas no recipiente, distribuídas em quatro caixas plásticas vazadas e apoiadas em um suporte. ;No processo, a água do mar circula e passa por um tratamento químico, com adição de cloro e gás ozônio, e também físico, com a radiação ultravioleta, para eliminar contaminações;, explica Adriana.
Análise
De acordo com a pesquisadora, a eficiência do equipamento é constatada em análises de laboratório. Para a averiguação, são retiradas aleatoriamente 12 de cada lote de 600 ostras depuradas. O procedimento é o indicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para produtos de pesca, de acordo com a Resolução n;12 de 2001. ;Caso a análise dessa dúzia apresente resultado positivo para a presença de coliformes e salmonelas, o lote depurado não estará próprio para a comercialização;, esclarece.
Ela conta que a ideia de desenvolver o equipamento surgiu devido a surtos de febre tifoide (causada pela bactéria Salmonella typhi) associados ao consumo de moluscos. A pesquisadora informa ainda que a depuradora já está sendo usada por pescadores de Santa Catarina. A intenção do laboratório onde ela trabalha é construir agora uma depuradora maior, com capacidade de desintoxicar moluscos em larga escala.
Conhecidas como animais filtradores da água do mar, as ostras absorvem tanto substâncias boas como ruins. Por isso, é muito comum encontrar nelas tanto bactérias comuns no ecossistema aquático, como a Vibio, como aquelas presentes no ambiente ou verificadas em fezes de animais, das quais as mais comuns são a Salmonella, a Shigella e a Escherichia. O tempo para que as ostras sejam depuradas varia conforme o tipo de organismo presente nelas, podendo chegar a 96 horas de tratamento.
Doenças
Segundo o infectologista Henrique Marconi, o hábito de ingerir os moluscos na forma in natura aumenta o risco de a pessoa contrair uma série de doenças, como gastroenterite, hepatite A, cólera e infecção intestinal. ;As ostras filtram todas as sujeiras do mar. Uma pessoa com a imunidade baixa e que come o molusco cru, por exemplo, pode até morrer;, alerta. Por isso, Marconi afirma que, antes de consumir tais produtos, é essencial saber como e onde foram cultivados ou optar por ingerir esses alimentos cozidos.
O médico especializado em doenças do aparelho digestivo Armando Pires conta que já atendeu diversos pacientes com doenças relacionadas à ingestão de moluscos contaminados. Ele explica que em alguns casos a desidratação é tão forte que a pessoa demora alguns dias para se restabelecer. ;É assustador o curto tempo que a doença leva para se manifestar. Em menos de oitos horas o paciente apresenta fortes dores abdominais, calafrios, náuseas, febre, vômitos e uma desidratação aguda;, ilustra. Armando conta que uma paciente em viagem ao Chile comeu ostras e ficou o passeio inteiro em hospitais até chegar a Brasília, onde mora. ;Quando fui tratá-la, o grau de intoxicação era tão alto que foi preciso prescrever antibióticos;, lembra.
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