postado em 23/11/2010 01:01
Não é de hoje que o homem sonha em voar como os pássaros. A mitologoia grega já contava a história Dédalo, o artesão que confeccionou asas de cera e penas para que ele e o filho, Ícaro, fugissem da Ilha de Creta, onde estavam presos. Dos mitos à realidade, foi Leonardo da Vinci, em 1485, quem primeiro elaborou um equipamento que, movido pela força do piloto, bateria as asas e conduziria o homem pelos ares. Batizada de ornitóptero, a máquina pensada pelo gênio italiano tornou-se uma obsessão de inventores e engenheiros de todo o mundo, que ao longo da história tentaram criar um ornitóptero que de fato funcionasse.O feito foi alcançado, finalmente, mais de cinco séculos depois do sonho de da Vinci. Um grupo de estudantes da Universidade de Toronto, no Canadá, realizou o primeiro voo em uma aeronave acionada apenas pela força humana e que voa batendo as asas. Pilotado pelo engenheiro Todd Reichert, o avião, batizado de Snowbird, manteve-se no ar por 19,3 segundos, cobrindo uma distância de 145m, a uma velocidade média de 25,6km/h. A façanha foi realizada em agosto passado, sendo oficializada pela Federação Internacional de Aeronáutica (FAI) no mês passado.
;O SnowBird representa a concretização de um antigo sonho aeronáutico;, afirmou ao Correio Reichert, que só não se manteve no ar por mais tempo porque ficou sem forças nas pernas para continuar pedalando. ;Ao longo da história, incontáveis homens e mulheres sonharam em voar como um pássaro com suas próprias forças, e centenas, senão milhares, tentaram alcançar esse sonho. Esse é um dos últimos feitos da aviação que ainda não haviam sido conquistados;, completou.
Construído a partir de tubos de fibras de carbono, madeira e espuma, o Snowbird tem uma envergadura de 32m ; próxima a de um Boeing 737. Para mantê-lo leve, os engenheiros não construíram mecanismos de decolagem. Em vez disso, um carro de reboque ajudou a levantar o aparelho, puxando-o por um cabo. Uma vez no ar, Reichert assumiu a propulsão, usando seus pés. ;É como se fosse uma bicicleta que necessita das forças das minhas pernas para se locomover;, disse o piloto.
O diferencial da aeronave está nas asas, que para serem flexíveis e baterem como as de um pássaro, possui articulações fixas, como dobradiças. ;As pontas das asas flexíveis permitem que a força aerodinâmica atue quando a asa sobe. Isso faz com que o piloto não precise colocar mais força para que elas desçam;, explica o engenheiro estrutural Cameron Robterson, que participou do projeto. Para deixar a aeronave ainda mais leve, foi preciso fazer um último ajuste: a redução de peso do piloto. Reichert precisou perder 8kg e treinou como um atleta ciclista durante um verão, para ganhar força física.
Evidentemente, o SnowBird não é um método prático de transporte. Segundo Reichert, um dos objetivos do projeto era inspirar as pessoas a usarem a força de seu corpo e a criatividade da mente. ;Queríamos envolver os alunos em um projeto prático de engenharia e, ao mesmo tempo, promover a eficiência, a sustentabilidade e o uso de energia humana como meio de reduzir o impacto da sociedade sobre o meio ambiente;, afirmou Reichert. O projeto do ornitóptero começou no verão de 2006 e contou com a participação de estudantes de graduação e pós-graduação em engenharia. Para supervisioná-los, foi formado um conselho de engenheiros aeroespaciais. Como colaboração de destaque, o designer holandês Derk Thys trouxe para o projeto mais de 20 anos de experiência no desenho de mecanismos eficientes de remo, que foram utilizados no Snowbird para a transmissão de potência do piloto para as asas.
VOO IMPOSSÍVEL
A máquina imaginada por Leonardo da Vinci em 1485 teria a forma de bastão e exigiria que o piloto usasse tanto a força dos braços como das pernas para fazê-la voar. ;Embora a aeronave não tenha sido construída, e agora sabemos que não teria voado, foi um feito notável, considerando o conhecimento da época;, afirma o engenheiro Camerom Robertson, integrante da equipe que construiu o Snowbird.