postado em 27/11/2010 08:00
Uma invenção desenvolvida pelo químico Matheus Manoel Teles de Menezes, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), pode facilitar o combate ao tráfico de drogas e, ao mesmo tempo, dar um pouco de descanso aos dedicados cães farejadores. O equipamento desenvolvido pelo pesquisador, batizado de Nariz Eletrônico, funciona com a mesma tecnologia dos sensores que medem a umidade relativa do ar e a poluição do ambiente e pode identificar a presença de maconha e cocaína no ar em até um minuto.Menezes explica que a engenhoca é simples. Com uma fina lâmina de cristal quartzo recoberta por uma película de ouro, é formado um eletrodo. Nessa base, é adicionado um modificador químico feito a partir de uma substância orgânica (não revelada porque o projeto está em fase de patente) responsável por detectar os entorpecentes. O eletrodo normalmente vibra em uma frequência constante de 10 MHz, medida por um frequencímetro. A droga, quando absorvida pela máquina, provoca um aumento de peso no sensor, fazendo o eletrodo se movimentar mais lentamente. ;A grande novidade do equipamento é a substância orgânica que agrupa e absorve as partículas das drogas;, diz o inventor.
Atualmente existem no mercado outros tipos de sensores eletrônicos para drogas, porém, eles não são tão sensíveis na detecção dessas substâncias no ar. Já o Nariz Eletrônico indica partículas de maconha e cocaína de até 10 nanogramas por miligrama de ar (1 nanograma equivale a 0,000000001g), ou seja, na fase gasosa. ;Apesar de não ter distância certa para a aplicabilidade, o aparelho se mostra ainda mais eficiente nos ambientes fechados com maior concentração da droga;, ressalta Menezes. Ele acrescenta que o aparelho capta principalmente os resquícios da embalagem na pessoa que teve contato com a droga e até mesmo se houve manuseio do produto ilícito no local.
É sabido que, tanto no preparo da maconha quanto no da cocaína, são adicionados outros produtos para potencializar o efeito entorpecente e aumentar a droga, tornando-a impura. No entanto, Matheus explica que o farejador destaca apenas as substâncias originais da mistura. No caso da maconha, por exemplo, ele reconhece os principais canabinoides responsáveis pelo efeito alucinógeno da planta, como o delta9-THC. Embora afirme não ter desenvolvido o sensor para a polícia, o químico acredita que, por ser um equipamento preciso, poderia substituir o trabalho com cães farejadores. ;Resolvi desenvolver o aparelho por um único motivo: o Brasil não tem uma tecnologia rápida que detecte drogas no ambiente;, conta. Menezes argumenta que, além de ser barata ; ele estima que o preço do aparelho quando comercializado fique em torno dos R$ 200 ;, a tecnologia é fácil de manusear e produz resultados rápidos e confiáveis.
O Nariz Eletrônico foi desenvolvido no mestrado de Menezes, sob orientação do professor Marcelo Firmino de Oliveira. O próximo passo, que o pesquisador desenvolverá durante o doutorado, é aperfeiçoar o aparelho. O objetivo é deixá-lo com no máximo 25cm e trabalhar com baterias recarregáveis. A ideia é também melhorar a abrangência do aparelho para identificar as outras substâncias encontradas nas drogas, além das que atuam como princípios ativos.
Cães
A comercialização do Nariz Eletrônico representará a aposentadoria dos cães farejadores? Segundo o agente da Polícia Federal especializado no treinamento dos animais Antônio Miranda, será preciso fazer muitos testes. Porém, ele descarta a substituição dos cães por suas particularidades. ;O aparelho olfativo dos cães é muito peculiar. Eles reconhecem as substâncias presentes e não o conjunto de odores;, esclarece. Instrutor especializado no treinamento de farejadores há 13 anos, Miranda explica que cada animal é adestrado para reconhecer um tipo de odor, independentemente das manobras utilizadas para disfarçá-lo.
O policial diz que é preciso avaliar também o alcance do Nariz Eletrônico e lembra-se de situações em que utilizou equipamentos com promessas semelhantes, mas que necessitaram de calibragem para detectar quantidades variadas. Nesses casos, os aparelhos não apresentaram resultados positivos, pois não funcionaram quando havia drogas em uma quantidade maior que a regulagem feita anteriormente. ;Com cães não temos esse problema. Eles indicam entorpecentes em lugares ermos e em todos os estados, seja líquido, vapor ou sólido;, atenta.
Ainda que as discussões acerca da vulnerabilidade dos cachorros nessas ações sejam recorrentes, Miranda esclarece que há tempos os instrutores mudaram a forma de treinar os animais para que eles não entrem em contato com as substâncias. ;Quando o cachorro encontra a droga, ele fica eufórico e pode arranhar a embalagem. Mas estamos repreendendo esse comportamento para que eles apenas se sentem ao lado, indicando que a substancia está lá;, explica.