Ciência e Saúde

COP-16 começa no México sem esperança de acordo pelo meio ambiente

Paloma Oliveto
postado em 28/11/2010 06:18

Manifestantes protestam contra fracasso da cúpula de Copenhague, em 2009
Toda aquela expectativa em torno da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ficou no passado. Depois de uma frustrante COP-15, ano passado, na Dinamarca, as negociações voltam à mesa em Cancún, a partir desta segunda-feira (29/11). Mas, desta vez, nem mesmo a ONU tem um discurso otimista. Na avaliação de especialistas, muito pouco será feito no encontro, e o reflexo disso é a lista de participantes, na qual não constam nomes de chefes de Estado ; no ano passado, Luiz Inácio Lula da Silva, Barack Obama e Gordon Brown foram alguns dos governantes que circularam por Copenhague.

O próprio secretário-geral das Nações Unidas, Ban Kin-Moon, já avisou que não sairá do México um acordo vinculante pós-Kyoto. A mesma declaração foi feita por Yvo de Boer, ex-secretário executivo da conferência: ;Não vejo um tratado sendo feito em Cancún;, disse, em entrevista ao site EurActiv. Chega a soar irônico o fato de um evento de tão grande porte ; e, consequentemente, onde se emite muito carbono ; termine sem grandes novidades. Em Copenhague, somente os 140 aviões privados e as 1,2 mil limusines usadas pelos líderes mundiais nos 11 dias de conferência emitiram 41 mil toneladas de dióxido de carbono. O equivalente ao produzido no mesmo período em uma cidade de 150 mil habitantes. ;Quando consideramos os desafios internos de muitos países face à necessidade de avançar nas ações relacionadas ao clima, principalmente durante tempos de dificuldades econômicas, um cenário já complexo torna-se ainda mais obscuro;, reconhece Eileen Claussen, presidente do centro de pesquisas Pew Center on Global Climate Change.

Dada a complexidade do tema e os rumos que as discussões tomaram nas reuniões preparatórias, o negociador sênior para Mudanças Climáticas do governo japonês, Noburo Sekiguchi, é outro que se mostra cético sobre a possibilidade de a COP-16 terminar com um acordo vinculante. Um dos pontos polêmicos é a não exigência que países em desenvolvimento tenham metas de redução, algo considerado controverso principalmente pelos Estados Unidos e pelo Japão. ;Não achamos que as metas devem ser as mesmas para países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas é necessário que grandes poluidores como a China tenham metas de redução verificáveis;, diz Sekiguchi.

Os olhos dos negociadores já estão voltados para a África do Sul, que vai sediar, no ano que vem, a COP-17. Somente lá poderá ser costurado um acordo vinculante para substituir o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. A assinatura de um texto com caráter legal, porém, não é garantia nem na África. Se os países-chaves não assumirem um compromisso, é possível que o mundo fique, durante muito tempo, sem diretrizes internacionais para o corte nas emissões de CO2. Estender Kyoto é algo impensável, de acordo com Yvo de Boer. ;Não vejo os Estados Unidos assinando o Protocolo e não vejo os países ricos que são parte de Kyoto aceitando um segundo round de objetivos a ser cumpridos, sem os Estados Unidos;, destaca.

Financiamento

Como o documento vinculante não está na pauta de Cancún, as reuniões devem se concentrar em pontos que ficaram perto de ser acordados em Copenhague. Para o especialista em sustentabilidade Andrew Gilder, da África do Sul, a cada conferência os focos mudam, fazendo com que o debate seja contínuo. Ele acredita que uma das possíveis discussões seja a quantificação das emissões de carbono por parte dos países do Anexo 1, aqueles que precisam apresentar metas mensuráveis de corte de CO2. ;Uma das coisas importantes para a COP-16 é como as metas desses países serão quantificadas. Atualmente, elas não precisam ser baseadas em um ano ou em um período de tempo específicos, então, precisamos pensar em padrões mais objetivos para conseguirmos comparar essas metas;, afirma.

Mas o principal assunto da COP-16 deverá ser o fundo global anunciado no ano passado, para ajudar as nações mais pobres nos esforços de mitigação. Em Copenhague, os representantes dos 192 países que participaram da conferência reconheceram a importância da criação do fundo, totalizando US$ 100 bilhões até 2020. Inicialmente, os países industrializados prometeram levantar US$ 30 bilhões até 2012 para ajudar as nações em desenvolvimento a combater o desflorestamento e investir em tecnologia limpa. Porém, desse montante, até agora apenas 26% (US$ 7,9 bilhões) foram comprometidos em programas internacionais sobre mudanças climáticas. Desses, 13% foram, de fato, investidos.

Em Cancún, será preciso definir a distribuição do financiamento e se o montante proposto é suficiente para provocar impactos realmente significativos nas mudanças climáticas. Uma das preocupações é quem deve ser prioridade na hora de receber o dinheiro. Para os Estados Unidos, os países que passam por um grande crescimento econômico não deveriam entrar na lista, mas China e Índia, principalmente, já afirmaram várias vezes que querem o seu quinhão do fundo.

Outro ponto que poderá ser ao menos estruturado é a transferência de tecnologia para mitigação e adaptação dos países em desenvolvimento. ;Acredito que pode levar tempo para ver as coisas realmente acontecendo, mas acho que os negociadores podem chegar a um acordo em relação ao estabelecimento dos mecanismos para a transferência de tecnologia;, afirma Elliot Diringer, vice-presidente de estratégias internacionais do centro de pesquisa Pew Center. Uma questão que tem sido discutida com frequência é como transferir o conhecimento mantendo, ao mesmo tempo, os direitos de propriedade intelectual. ;Acho que ainda há muita confusão sobre a propriedade intelectual, mas não penso que a transferência de tecnologia será um obstáculo muito grande, como se acredita;, diz Diringer.

REDD

A expectativa dos especialistas é que pelo menos uma questão seja fechada na COP-16: a regulamentação do REDD, o mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, tema que interessa particularmente ao Brasil, que possui a segunda maior concentração de florestas do planeta, atrás somente da Rússia.

O país e a França vão coordenar as negociações sobre a questão na COP-16, no lugar de Japão e Papua-Nova Guiné, atuais protagonistas. Atualmente, há US$ 4 bilhões destinados a iniciativas de REDD, sendo que US$ 500 milhões foram acordados em Copenhague. É preciso, agora, definir as ações.

O Brasil, que aprovou o Plano e a Política Nacional de Mudanças do Clima, chega a Cancún fortalecido, com status de um dos mais habilidosos negociadores da cúpula. O diretor do Departamento de Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, alerta que o país tem autoridade para exigir que outras nações adotem medidas firmes no combate às mudanças climáticas. ;Vamos a Cancún com o mesmo espírito que fomos a Copenhague, de que somos partes da solução e não do problema. Vamos respaldados por ações que já começamos a implementar;, avisa.

Colaborou Humberto Rezende

TIRA-DÚVIDAS

1 - O que é a COP-16?
De amanhã a 10 de dezembro, negociadores de 192 países vão se encontrar em Cancún, na 16; Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, para tentar chegar a um acordo internacional a respeito do corte das emissões de carbono. Eles vão trabalhar sobre um novo documento para suceder o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005. Isso deveria ter sido feito em Copenhague, no ano passado, mas não houve consenso para a criação de um acordo vinculante.

2 - Qual foi o resultado da COP-15?
Depois de duas semanas de negociações exaustivas, os líderes mundiais falharam em chegar a um acordo vinculante de redução das emissões de CO2. No lugar, o texto final resumiu-se a duas páginas nas quais os governos dizem ;reconhecer; a necessidade de limitar o aumento da temperatura global em até 2;C. O lado positivo foi o progresso no debate sobre a criação de um fundo mundial de mitigação e no REDD, mecanismo de controle do desmatamento e da degradação florestal e de ações de conservação e manejo de florestas.

3 - Quais são os pontos polêmicos?
O corte de emissões de carbono significa investimento pesado em tecnologias limpas e desaceleração econômica, o que não interessada em nada aos países industrializados. Enquanto as nações mais pobres e os estados-ilhas reivindicam uma espécie de ;indenização; dos mais ricos pelos danos que esses já causaram ao meio ambiente, os países desenvolvidos querem que os em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, também paguem a conta, e assumam metas mensuráveis.

4 - O que vai acontecer depois de Cancún?
Em setembro, o ministro indiano do meio ambiente, Jairam Ramesh, anunciou que o foco já está no ;pós-Cancún;, e Yvo de Boer disse que um acordo final só será feito na COP-17, que acontecerá daqui a um ano, na África do Sul. Se lá não houver acordo, Kyoto vai expirar sem substituto e é provável que, até a assinatura de um documento vinculante, não exista nenhum comprometimento global para o corte das emissões de CO2.

Veja como as mudanças climáticas têm afetados os ecossistemas mundiais

Canadá: a temperatura aumentou linearmente 1,4;C, desde 1948. No ano passado, o acréscimo foi de 0,8;C, em relação à média normal, sendo que em alguns estados do Norte, os termômetros subiram 2;C. Atualmente, chove menos no país, que registrou uma precipitação 2,6% abaixo do esperado. Seis regiões ficaram 20% mais secas. A falta de umidade e o calor acima do normal resultaram em 3,2 mil incêndios apenas em British Columbia, sendo que em 100 deles foi preciso evacuar mais da metade da população. O fogo consumiu 68 mil hectares de terra ao longo da província no verão. Somente em Ontário, houve 29 tornados, um recorde no país.

Estados Unidos: 2009 foi o segundo ano consecutivo com maior temperatura registrada. Nos últimos 30 anos, o aumento médio por década foi de 0,4;C. O país ficqou mais seco, com precipitação média 64mm a menos do que a observada anualmente, de 740mm. Nevou menos no inverno, sendo que em Washington, o nível registrado de neve ficou 50% abaixo do esperado. Ao mesmo tempo, as tempestades de neve ficaram mais severas no Texas, em Oklahoma e no Kansas, que chegou a acumular 76cm de neve no solo em apenas um dia, no mês de março.

México: Em 2009, o país esteve mais quente e 10% mais seco do que o normal. A média de precipitações foi de 681,9mm, sendo que, historicamente, tem se mantido em 759,6. A temperatura registrada ao longo do ano foi 22;C, 1;C acima do normal. O resultado foram mortes e perdas econômicas de milhões de dólares no setor agrícola e hidroelétrico. Julho foi o mês mais seco da história do país desde 1941. Ao longo do ano, houve pelo menos 10 mil incêndios, principalmente entre fevereiro e julho, sendo que a Cidade do México foi um dos locais mais afetados.

Caribe: Dezesseis massas de ar frio atingiram a Costa Rica, e outras 12 chegaram a todo o mar do Caribe em 2009. A média por ano era de 12 eventos totais. Em El Salvador, enchentes e desabamentos, associados em parte ao furacão Ida, mataram 192 pessoas. O país também experimentou um período longo de seca e precisou recorrer a uma ajuda internacional de US$ 5 milhões para produzir eletricidade. Em Cuba, agosto e setembro e outubro foram os meses mais quentes desde 1970. Por sua vez, na Jamaica, choveu mais do que o esperado. O mês de fevereiro bateu recordes de chuvas, com 128mm de precipitação.

Venezuela: A temperatura média do país ficou 1;C acima do normal. A seca predominou durante todo o ano, sendo que em maio e junho, quando deveria ocorrer a estação das chuvas, o déficit na precipitação chegou a -180mm. Com isso, a produção de arroz e milho foi afetada. De agosto a outubro, o déficit de chuvas variou de -140mm a -220mm. O maior impacto foi nos setores agrícola e energético.. No fim de 2009, um tornado atingiu San Cristobal, danificando prédios públicos e afetando a infraestrutura da cidade. Nos últimos anos, tornados têm se tornado mais frequentes no país.

Colômbia: Até meados de 2009, a temperatura estava normal. Mas a partir de junho, houve um aumento gradual, com variações entre 1;C e 3;C em quase todo o país. Setembro e dezembro registraram as temperaturas mais altas já registradas na Colômbia. De janeiro a março, choveu mais do que esperado, com precipitação até 70% maior do que o normal. Já nos últimos quatro meses do ano, o país ficou mais seco na costa pacífica, com índice pluviométrico negativo entre 40% e 70%. O nível do rio Caroní ficou 11m abaixo do normal, prejudicando o acesso à energia elétrica.

Equador: Entre janeiro e maio, a área costeira e a zona andina registrou déficit de chuvas de 60%. Na segunda metade do ano, a seca atingiu todo o país e resultou em racionamento de energia elétrica em novembro e dezembro. A temperatura média no primeiro trimestre do ano foi 1;C acima do normal, exceto no centro e no nordeste dos Andes.

Peru: No primeiro trimestre de 2009, o índice pluviométrico caiu entre 60% e 100%. Em contraste, entre abril e junho, choveu até 100% a mais do que o normal na região central da Amazônia, o que provocou diversas enchentes. A região sudeste do país registrou neve e tempestades de granizo, o que paralisou o transporte público na área. Em 12 de julho, as cidades de Tumayhuarapa e Pampachiri acumularam 25cm de neve. Nos primeiros dias de novembro, choveu durante nove horas seguidas na província de Nauta-Iquitos, com ventos de 50km por hora.

Paraguai: O país chegou a registrar uma temperatura 5;C acima do normal em abril de 2009. Já em julho, o país ficou mais frio do que o habitual, com temperaturas até 4;C mais baixas do que o esperado. Na primavera (setembro a novembro), choveu mais do que deveria, provocando graves enchentes. Milhares de pessoas que moram próximo ao rio Paraná foram obrigadas a deixar suas casas. A produção de arroz e vegetais foi afetada drasticamente.

Uruguai: O déficit de chuvas foi de -20% de janeiro a junho, sendo que em algumas regiões chegou a -40%. No norte e no nordeste do país, a situação só se normalizou em setembro. Excepcionalmente, em dezembro choveu mais do que esperado, com precipitações de 613mm em Artigas e 540mm em Rivera, mais do que quatro vezes a média mensal. A temperatura aumentou entre 0,5;C e 1,5;C.

Chile: Uma série de anomalias caracterizaram o clima chileno em 2009. A temperatura máxima no verão ficou 2,3;C a 3;C mais alta que o normal, sendo que de janeiro a março chegou foram registradas as temperaturas mais altas desde 1914 em Santiago. Em contraste, a primavera chilena foi a mais fria dos últimos 50 anos no país. Em novembro, ficou 4;C abaixo do esperado, o que prejudicou a plantação de frutas no centro do Chile. Em relação às chuvas, maio, junho e setembro foram anormalmente meses secos, enquanto que Junho e Agosto, meses mais úmidos, foram extremamente chuvosos.

Argentina: No outono, a temperatura ficou até 3;C acima do normal, fazendo de 2009 o ano mais quente das cinco últimas décadas. No inverno, o país resfriou 3;C abaixo da média esperada. Em 2 de fevereiro uma tempestade de chuvas e ventos matou dezenas de pessoas em Rosário, a segunda maior cidade do país. Seis dias depois, na província de Salta, 500 pessoas foram evacuadas e duas morreram por causa das tempestades. No fim de julho, uma tempestade de neve afetou metade do país, sendo que, no mesmo mês, houve um grande incêndio em Córdoba e San Luís. Na noite de 7 de setembro, um tornado da categoria F4 devastou o distrito de San Pedro, matando 10 pessoas e ferindo outras 17 gravemente.

Brasil: A temperatura sofreu oscilações inesperadas: até 4;C mais quente e 4;C mais fria do que o esperado. Em 24 de julho, a cidade catarinense de São Joaquim registrou -6,2;C. O país sofreu com secas e enchentes. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, houve alagamentos, sendo que na virada de 31 de dezembro de 2008 para 1; de janeiro de 2009 a cidade fluminense de Angra dos Reis sofreu uma tempestade de 275mm, resultando na morte de 53 pessoas. Na região amazônica, a precipitação ficou 200mm acima do normal. O Rio Negro, em Manaus, atingiu seu maior nível em 107 anos de medições em julho. No nordeste amazônico, 49 pessoas morreram e mais de 400 mil ficaram desabrigadas por causa das chuvas. Já na região nordeste do país, oito pessoas morreram por causa da queda de uma barragem no Piauí e 600 famílias tiveram de abandonar suas casas. Em 19 estações metereológicas do país, foi observada uma precipitação 400mm acima do normal. Em São Luiz Gonzaga (RS), houve recorde de chuvas desde 1912.

Norte da África (Marrocos, Argélia, Tunísia e Egito): A temperatura média ficou 2,5;C acima do normal, mas em Janeiro, os termômetros caíram inexplicavelmente 2; e 2,2;C na Argélia e no Marrocos, respectivamente. No inverno, choveu até 280% a mais do que o normal, sendo que, somente em dezembro, as chuvas representaram 31% da precipitação de todo o ano de 2009. Na Tunísia, uma tempestade excedeu 150mm em menos de 24 horas. Os eventos climáticos causaram danos severos à infraestrutura e muitas perdas humanas entre setembro e dezembro. Foiram registradas tempestades de vento recordes ao longo do ano.

Oeste da África (Guiné, Costa do Marfim, Chade, Senegal e República centro-africana): A temperatura chegou a ficar 3;C acima do normal. Entre abril e maio, choveu menos do que esperado, mas, em compensação, tempestades foram registradas a partir de julho, chegando a uma precipitação de 600mm. De julho a setembro, 60 escolhas do Senegal foram inundadas, e o país precisou tomar emprestados US$ 4,5 milhões dos Estados Unidos para colocar em prática um plano de emergência nas zonas onde houve enchentes. Uma das maiores preocupações do governo foi com a ploriferação das larvas de mosquitos, que causam doenças e levaram milhares de pessoas aos postos de saúde.

Leste da África (Sudão, Etiópia, Eritreia, somália, Uganda, Quênia, Burundi, Ruanda, Somália e Tanzânia): A região, conhecida como "Chifre africano", registrou temperaturas mais altas que o normal. A seca atingiu o leste do continente, onde choveu 70% menos do que o esperado. A falta de chuvas resultou em uma crise na produção de grãos e na criação de animais. A consequência dos impactos climáticos foi o aumento da insegurança alimentar ea racionamento de água tanto para consumo quanto para a indústria.

Sudeste da África (África do Sul e Zimbábue): Na África do Sul, 27 estações climatológicas registraram um aumento de 0,4;C na temperatura, em relação ao período de 1961-1990. Isso fez de 2009, o 15; ano mais quente desde 1961. No Zimábue, a temperatura não sofreu oscilações anormais. Em algumas regiões sul-africanas, as precipitações ficaram até 150% mais altas, comparando-se à década de 1990. A pequena cidade de Taung foi atingida por uma tempestade de chuvas e ventos em janeiro, que deixou 45 famílias desabrigadas. Vilarejos próximos também sofreram os efeitos. Em Cape Town, uma enchente desabrigou 1,7 mil pessoas em 17 de maio. Na região costeira, os fortes ventos criaram ondas de 9m.

Oeste do Oceano Índico (República dos Camarões, Madagascar, Mauritânia e Seychelles): Na média, a temperatura esteve 1;C acima do normal e, em algumas ilhas, registrou índices recordes. Em Camarões, a precipitação ficou 41,2% mais alta, sendo que abril foi o mês mais úmido, com 1.700mm de chuva em 23 dias. Em Seychelles, onde tempestades são raras, choveu 150mm em apenas 12 horas.

Oeste e centro da Europa (Irlanda, Inglaterra, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, França, Alemanha, Suíça, Áustria, Polônia, República Checa, Eslováquia e Hungria): Na maioria das regiões, a temperatura no centro europeu foi até 2;C mais alto, comparando-se à década de 1990. O verão foi o mais quente da Inglaterra desde 1996. Já na França, o inverno foi o terceiro mais frio em duas décadas. Ondas de frio também castigaram a Alemanha e a Polônia, onde os termômetros ficaram chegaram a -25;C. No leste da Alemanha, o termômetro mediu -29,1;C. Em contraste, o inverno foi mais quente na Polônia, na República Checa, na Eslováquia, na Áustria e na Hungria, principalmente em abril, o segundo mês mais quente da história da Holanda. No geral, a precipitação anual foi normal, embora algumas regiões do sul da França tenham ficado 20% mais secas. Uma forte tempestade de ventos, a 174km por hora, afetou a Inglaterra e a Irlanda em Janeiro. O nível de neve também ficou acima do normal.

Países nórdicos e bálticos (Islândia, Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Estônia, Lituânia e Letônia): A temperatura média nos países nórdicos ficou 1,5;C acima do normal, sendo que no Ártico o aumento foi ainda maior (3;C). Na Noruega e na Dinamarca, 2009 foi o ano mais quente desde o século 19. As temperaturas mais altas, contudo, foram registradas na Finlândia (4;C acima do esperado). Essa parte do continente também ficou mais seca, com 125% de precipitação menor do que o observado na década de 1990. Fortes tempestades de vento atingiram os países nórdicos e bálticos. Em novembro, os ventos chegaram a alcançar a força de um furacão na Dinamarca, com 132,5km por hora.

Península ibérica (Portugal e Espanha): Os países ibéricos vivenciaram um clima atípico em 2009. O ano começou com uma temperatura anormal, de -0,7;C, seguido por uma primavera mais quente que o usual (1,57;C a mais que a média). Foi o terceiro ano mais quente na Espanha desde 1961. Em 24 de janeiro, o norte da Espanha foi atingido por um forte tornado a 190km por hora. Foi o pior na região nos últimos dez anos. Em setembro, fortes chuvas quebraram recordes no sudeste da península. Em Alicante, o nível de água chegou a 309mm.

Penínulas italiana, mediterrânea e dos Bálcãs (Itália, Malta, Eslovênia, Croácia, Montenegro, Bósnia e Herzegovina, Albânia, Macedônia, Grécia, Bulgária e Turquia): Em média, essa região da Europa ficou 2;C mais quente. Na Turquia, na Sérvia e na Croácia, uma onda de calor em julho elevou os termômetros para 45;C. Na Itália, choveu 125% a mais do que o esperado, sendo que, entre 15 e 17 de julho, a cidade de Palermo ficou debaixo d;água. Em 24 de fevereiro, uma inesperada tempestade cancelou, em Malta, a festa de carnaval. Uma forte chuva varreu o oeste do Mediterrâneo, com rajadas com a mesma força de um furacão.

Leste europeu (Rússia ocidental, Bieolorússia, Ucrânia, Moldóvia e Romênia): No geral, a temperatura ficou 3;C acima do esperado, sendo que, entre junho e julho, a Ucrânia passou pelos dias mais quentes da história do país, com os termômetros marcando mais de 40;C. Em algumas áreas, choveu 200% mais do que o normal. Em dezembro, uma forte tempestade de neve caiu sob Moscou, e em 24 horas a camada de gelo chegou a 19cm.

Meio leste (Israel, Chipre, Jordânia, Líbano, Síria, Cazaquistão, Armênia, Geórgia e Azerbaijão

Israel: No geral, não houve mudanças significativas na temperatura. As maiores anomalias foram verificadas em Israel, em Chipre e em partes da Síria, com variações de 1;C e 2;C. Severas tempestades, porém, atingiram Israel em 27 de fevereiro, quando choveu por 48 horas, com precipitação de 180mm, o que provocou alagamentos. Já Síria, milhares de famílias tiveram de migrar do campo para a cidade por causa da seca, que destruiu as plantações. Em setembro, uma temporada de chuvas pôs fim à seca que já durava dois anos. No Chipre, uma série de tornados provocou danos em 18 de setembro.

Rússia asiática: Em algumas regiões, a temperatura ficou 5;C mais quente, sendo que, em outras, 20;C mais frio do que o esperado. Em fevereiro, as províncias de Taimyr e Evenkia registraram temperaturas de -50;C e -58;C. Em outubro, a região passou pelo período mais quente e seco da história. As ilhas do ártico registraram a anormal temperatura de mais de 10;C.

Leste asiático (China, Coreia, Japão, e Mongólia): No geral, a temperatura ficou próxima do normal, mas a China teve o quarto verão mais quente desde 1951. Também foi o ano mais seco desde a década de 1950, como uma precipitação 38mm menor do que o esperado. A República da Coreia foi afetada por 10 tempestades de areia, sendo que a mais forte ocorreu em dezembro e durou dois dias.

Sul asiático (Bangladesh, Índia, Paquistão, Sri Lanka): Ondas de calor prevaleceram na Índia em Maarço, Abril e Maio. Cento e cinquenta pessoas morreram, principalmente em Andhra e Pradesh. Em maio, o ciclone tropical Aila atingiu Bangladesh, deixando um rastro de destruição. A temperatura ficou até 5;C acima do esperado. Com 40% menos de chuvas, o sul da Ásia experimentou a pior seca da história, desde 1875.

Sudeste asiático (Iraque e Irã): No Iraque, a temperatura ficou 2;C mais alta do que o observado entre 1960-1990. Choveu 60% menos do que o normal, sendo que Bagdá registrou apenas 8% da quantidade de chuvas esperadas. No Irã, a temperatura aumentou mais de 4;C. No inverno e na primavera, houve tempestades de areia no sudeste e na região central do país. Choveu mais do que o esperado, com até 300mm de precipitação.

Oceania (Austrália e Nova Zelândia): Foi o ano mais quente da história da Austrália, com uma série de ondas de calor. Em Melbourne, as altas temperaturas e a seca provocaram incêndios que mataram 173 pessoas entre janeiro e fevereiro. Na cidade, o termômetro chegou a marcar quase 50;C. Embora, no geral, tenha chovido 3% menos do que o esperado, em algumas regiões houve tempestades inesperadas. Em Ingham, a precipitação foi de 949mm em apenas seis dias. No nordeste de Queensland, a população sofreu com enchentes, que duraram diversas semanas. Na Nova Zelândia, a temperatura ficou estável, mas houve 15 enchentes.

Sudeste do Pacífico (Samoa, Ilhas Cook, Fiji, Polinésia francesa, Kiribati, Nauru, Nova Caledônia, Niue, Papua, Nova Guiné, Saoma Americana, Ilhas Salomão, Tokelau, Tonga, Tuvalu e Vanuatu): As chuvas foram 120% mais fortes do que a média de 1979-1995, mas em Tuvalu e Tokelau, a população sofreu com a seca nos primeiros seis meses do ano. De janeiro a março, sob a influência da La Niña, ventos mais fortes do que o normal prevaleceram no arquipélago de Kiribati. O nível do mar ficou 0,5m acima do usual. Em dezembro, um ciclone tropical da categoria 2 atingiu as Ilhas Fiji. O vento chegou a alcançar a velocidade de 107,2km por hora. Cinco pessoas morreram.

Nordeste do Pacífico (Ilhas Mariana, Estados Federados da Micronésia, Ilhas Marshall e Palau): A temperatura ficou dentro do esperado, sob influência dos fenômenos El Niño e La Niña. Choveu 108% a mais do que o normal. De janeiro a março, o nível do mar ficou entre 15cm e 25cm acima do normal e, durante as mudanças das fases da lua, chegou a ficar 110cm acima do esperado. O aumento inundou a costa de algumas ilhas, contaminou a água e destruiu plantações.

Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration

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