postado em 03/12/2010 11:50
A deficiência de vitamina A, aquela encontrada, por exemplo, no brócolis, no caju e na cenoura, pode causar cegueira e infecções em crianças. De acordo com uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, em cada três recém-nascidos estudados, dois sofrem com a carência da substância. O levantamento leva em consideração os níveis estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que avalia o problema quando uma pessoa, independentemente da idade, apresenta um nível da vitamina no sangue de 0,70 micromol/litro ou menor.Para avaliar os resultados, os pesquisadores estudaram 61 pares de mães e filhos residentes na Vila Lobato, periferia de Ribeirão Preto. Na primeira etapa, 20 a 30 dias após o nascimento das crianças, um grupo de mulheres recebeu suplementação de vitamina A, via oral, e o outro grupo, um placebo. Em seguida, foram medidos os níveis de vitamina A no sangue e no leite de todas as mães. Três meses após o início da pesquisa, os pesquisadores dosaram a quantidade de vitamina A no leite e no sangue das mães e das crianças de ambos os grupos. No que recebeu o placebo, a deficiência era de 6,7% e, ao fim do estudo, de 16,7%. Já nas mulheres suplementadas, o percentual, que era de 6,5%, baixou para 3,2%.
Segundo o pediatra Ivan Ferraz, também orientador do estudo, a causa mais provável, uma vez que não foi realizada uma pesquisa dos hábitos alimentares, deve ser o fato de as mães não ingerirem as quantidades suficientes de vitamina A, ainda na gravidez, para suprir suas necessidades e as dos filhos. ;A ingestão insuficiente é a causa mais comum da deficiência de vitamina A em todo o mundo;, salienta Ferraz. O médico ressalta que a falta da substância, principalmente em crianças, pode levar à diminuição das defesas do organismo, ocasionando infecções respiratórias e diarreicas em estados graves. ;Em casos mais extremos, a deficiência de vitamina A pode levar à cegueira;, alerta.
O índice recomendado da concentração da vitamina não pode ser inferior a 0,70 micromol/litro no sangue e, no leite, a 1,05 micromol/litro. No começo da pesquisa, o índice era de 0,64 nos bebês e 1,04 nas mães. Após a intervenção, o número foi de 1,17 nas mães, com 1,56 no leite. O pediatra explica que, na literatura médica, várias autoridades defendem a quantidade mínima de 0,35 micromol/litro para crianças menores de 6 meses de idade, ao contrário do que recomenda a OMS. ;Crianças nessa faixa etária apresentam níveis menores de vitamina A. Entretanto, no nosso estudo, a maioria das crianças tinha níveis maiores que 0,35 micromol/litro;, afirma Ivan.
A nutricionista Thalia Manfrin, autora do estudo, que ganhou o primeiro lugar no prêmio Henri Nestlé de 2010 na categoria Nutrição em Saúde Pública, diz que bebês nascem com baixas reservas hepáticas de vitamina A, mesmo quando as mães ingerem a quantidade correta. ;A vitamina é transferida da mãe pela placenta, mas é muito limitada;, explica.
Para o pediatra, os resultados não podem ser extrapolados para outros estados, embora sirvam como alerta para que se busquem informações a respeito dessa carência em outras regiões do país. ;Só assim, com a identificação de grupos vulneráveis, poderemos aplicar políticas de tratamento e de prevenção da carência de vitamina A;, acredita.
Prevenção
Quando estabelecido o problema, a forma de suplementação pode variar de acordo com a gravidade da deficiência. Normalmente, são feitas suplementações vitamínicas, porém é preciso orientação médica. ;Assim como a carência, o excesso de vitamina A também pode trazer consequências à saúde, especialmente em mulheres grávidas;, alerta o pediatra.
Foi a recomendação seguida pela professora universitária Edineide Silva, com 33 semanas de gestação. Ela, que precisa visitar uma aldeia indígena para pesquisas do trabalho, procurou sua médica para solicitar a suplementação de vitaminas e prevenir a carência. ;Como lá a alimentação é restrita, fiquei com medo de voltar com problemas;, explica. Edineide recorda que iniciou a suplementação com um polivitamínico e que, no começo da gravidez, teve carência de ferro, por isso teve que fazer reposição para não agravar o quadro. ;Meu problema era pior, pois meu organismo não absorvia o mineral;, conta. Atualmente, ela diz que segue a recomendação da médica e se alimenta bem, mesmo torcendo o nariz para os legumes. ;Não gostava muito de carne vermelha, porém agora como. E as frutas já faziam parte dos meus hábitos;, diz.
Segundo Thalia, em algumas regiões brasileiras onde a deficiência da vitamina A é muito prevalente ; Nordeste e vales do Jequitinhonha e do Ribeira ; o Ministério da Saúde está implementando o Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A. Cápsulas com a vitamina são fornecidas às mães no pós-parto imediato e às crianças, para prevenir o aparecimento da deficiência. ;Quando a deficiência é diagnosticada, é feita a suplementação medicamentosa, para tratamento da mesma;, ressalta.
No estudo, foram pesquisados alguns fatores relacionados à carência de vitamina, como paridade, escolaridade, renda, uso de polivitamínico, febre e índice de massa corporal, sendo que somente a variável ;idade das mães; mostrou correlação positiva significativa com o retinol (vitamina A); ou seja, quanto maior a idade da mãe, maiores seus níveis de retinol no sangue. ;Uma possível explicação seria que mães mais jovens possuem necessidades nutricionais mais elevadas e nem sempre selecionam os alimentos mais adequados à sua nutrição, estando mais propensas às deficiências de micronutrientes, entre elas, a de vitamina A;, acredita a pesquisadora.
Para ela, é importante reforçar, expandir e aprimorar os programas e as políticas públicas para combate à deficiência de vitamina A e de outros micronutrientes. ;Educação nutricional e incentivo ao aleitamento materno são algumas das iniciativas a serem valorizadas na área da saúde pública;, aconselha. Ela acredita que o nutricionista, inserido em uma equipe multidisciplinar, deve ser o responsável pela orientação acerca da alimentação ideal para a prevenção da deficiência de vitamina A e de outros micronutrientes.
Palavra de especialista
Problema de saúde pública
;A vitamina A está presente em grandes quantidades nos vegetais de cor amarelo-alaranjado, como cenoura, abóbora, moranga e mamão; ou verde-escuro, como mostarda, couve, agrião, almeirão; e, em alimentos de origem animal, normalmente associada à gordura. Ela é a vitamina cuja função fisiológica mais conhecida está relacionada com a manutenção da visão. Também participa do processo de diferenciação celular, desenvolvimento embrionário, espermatogênese, modulação da resposta imune, paladar, audição, apetite e crescimento, iniciação dos impulsos nervosos e produção de muco. A deficiência dessa vitamina é um problema de saúde pública nos países em desenvolvimento. Entre os sinais e sintomas clínicos da deficiência, destaca-se o aparecimento da cegueira noturna, caracterizando as manchas de Bitot, que podem originar a xeroftalmia e queratinização da córnea e do epitélio uterino, a hiperqueratose (pele áspera), inibição do crescimento, anormalidades esqueléticas e redução da atividade de células do sistema imune. Já o consumo excessivo pode gerar náuseas agudas, vômitos e dor de cabeça. E, cronicamente, ataxia, anorexia, aumento do fígado, excesso de colesterol, dores nas articulações, escamação e rachaduras na pele. No primeiro mês de gestação, o excesso de vitamina A pode causar má-formação fetal. É muito importante uma dieta balanceada e equilibrada, com rotatividade de alimentos.;
Jackeline Queiroz, nutricionista
Dicas
Confira as principais fontes alimentares de vitamina A:
* Escarola
* Espinafre
* Mamão
* Manga
* Cenoura
* Pêssego
* Fígado de aves e outros animais
* Salsa
* Melão
* Abóbora
* Acelga
* Brócolis
* Broto de alfafa
* Caju
* Abacate
A carência de vitamina A pode acarretar os seguintes problemas
* Distúrbios na percepção das cores
* Secura nos olhos
* Fotofobia (sensibilidade à luz)
* Cegueira noturna
* Problemas nas células da pele
* Queda na resistência do sistema imunológico