Ciência e Saúde

Cientistas dizem que é grande a probabilidade de Marte ter abrigado vida

postado em 05/12/2010 14:43

Segundo cientistas, é grande a probabilidade de Marte ter abrigado vidaDo ponto de vista da química e da astrobiologia, vida pode ser entendida como uma condição provocada por uma sopa orgânica formada por carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre. Essa formulação teórica foi colocada à prova na última quinta-feira, quando a Nasa ; a agência espacial dos Estados Unidos ; anunciou a descoberta, em um lago da Califórnia, de uma bactéria que se alimenta de arsênio e é praticamente desprovida de fósforo, considerado crucial para haver vida. O achado causou um estrondo na ciência espacial e até mesmo na filosofia. E suscitou questões sobre a possibilidade da existência de uma forma de vida até então inconcebível pelo conhecimento humano.
Nos últimos anos, a Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA) fizeram uma série de progressos na exploração de planetas e satélites e detectaram a presença de substâncias comuns na Terra. As sondas Viking realizaram medições em Marte e ajudaram os cientistas a perceberem que a superfície do planeta vermelho tem interagido com a água desde tempos remotos. Em Enceladus, uma das 53 luas de Saturno, a sonda Cassini detectou um vasto oceano no subsolo. Em outra lua de Saturno, Titã, há hidrogênio, mas não acetileno ; a melhor fonte de energia para uma vida baseada em metano. Os especialistas creem que micro-organismos possam estar consumindo a substância.

O cientista argentino Jorge Vago trabalha no ganancioso projeto ExoMars, que envolve a colocação de dois robôs sobre a superfície de Marte a partir de 2016. Os chamados rovers terão a finalidade de buscar uma possível bioassinatura da vida no planeta e fazer um mapeamento geológico no planeta. ;Eu acredito que há uma chance muito alta de que vidas bacterianas estejam presentes em outros locais do universo;, afirma ao Correio, por e-mail. No entanto, isso necessariamente não implica dizer que a vida seja algo comum. ;Sistemas vivos, mesmo os mais simples micróbios, são organismos complexos;, lembra.

De acordo com Vago, Marte é um potencial candidato para ter abrigado vida em algum momento no passado. O argentino sustenta que, durante o primeiro meio bilhão de sua história, as condições na superfície marciana eram provavelmente similares às da Terra, quase na mesma época do surgimento da vida em nosso planeta. ;Se os micróbios puderam evoluir na Terra em seus primórdios, há a chance de que eles tenham feito o mesmo em Marte;, afirma.

Em tese, a vida pressupõe uma complexa química de polímeros baseada no carbono. Ao se combinar com a água e com um solvente, o átomo de carbono propicia transformações moleculares estáveis e flexíveis, capazes de ocorrer sob amplo espectro de temperaturas. Vago crê que, em superfícies planetárias mais frias, solventes como a amônia ocupem o lugar da água. Limitações similares podem se aplicar a planetas muito quentes. ;Podemos dizer que a melhor esperança para se detectar a química da vida se baseia em carbono e água. Mas é possível que essa química orgânica seja expressada em planetas de modo sutilmente diferente da conhecida na Terra;, acrescenta.

Inteligência
O norte-americano Seth Shostak passou boa parte de seus 67 anos vasculhando o Universo, por meio de radiotelescópios nos Estados Unidos e na Holanda. Astrônomo sênior do Instituto Seti, uma organização sem fins lucrativos que busca pistas de vida inteligente fora da Terra, ele considerou surpreendente a descoberta de organismos unicelulares que podem usar o arsênio ; um veneno letal ; como parte de sua bioquímica. No entanto, admite que os micróbios são especialmente talentosos na adaptação a circunstâncias muito adversas (ou mortíferas) para os humanos. ;Enquanto o número de planetas ou luas com condições bastante similares às do nosso planeta deve ser limitado, há certamente bilhões de mundos, somente em nossa Via Láctea, onde haja o hábitat propício para a vida microbiana;, afirma à reportagem, ao explicar que os micro-organismos têm uma plasticidade excepcional, o que os torna capazes de sobreviver mesmo em duas circunstâncias. ;A vida pode ser extremamente comum no universo, e não um tipo de milagre confinado à Terra;, conclui.

Para Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, um dos mais renomados astrônomos do Brasil e fundador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), o escopo de condições para o aparecimento da vida no Universo foi ampliado com a recente descoberta da bactéria que substitui o fósforo pelo arsênio. ;Apesar de alguns cientistas, biólogos e escritores de ficção científica terem sugerido a possibilidade de substituição desses elementos fundamentais por outros, não havia uma comprovação;, afirma, por e-mail. ;O achado da Nasa torna mais complexa a procura de vida inteligente no cosmo, apesar de ela exigir uma evolução biológica mais complicada, como a que ocorre na Terra.;

Eu acho...

;Descobrir vida inteligente em qualquer lugar no Universo será difícil. Primeiro, porque a vida inteligente provavelmente não será muito comum. Segundo, porque há grandes distâncias entre as estrelas e existe uma dificuldade para se estabelecer comunicação. Por último, se eles já nos descobriram e se são realmente inteligentes, esses seres provavelmente perceberam que precisamos de tempo para resolver nossos temas de adolescência;

Jorge Vago, cientista do projeto ExoMars, da Agência Espacial Europeia

Em busca de outras Terras
{ Entrevista } CARL B. PILCHER

Desde setembro de 2006, o norte-americano Carl B. Pilcher dirige o Instituto de Astrobiologia da Nasa. Suas principais metas são estudar a origem, a evolução, a distribuição e o futuro da vida na Terra e no Universo. Antes de ocupar o posto, ele exerceu na agência espacial cargos de direção, como o de diretor do Programa Científico para Exploração do Sistema Solar e o de chefe de Estudos Avançados da Divisão de Exploração do Sistema Solar. Também foi ele quem descobriu água congelada nos anéis de Saturno, identificou três dos satélites de Júpiter e desvendou o clima de Netuno. Em entrevista exclusiva ao Correio, por e-mail, Pilcher não descartou a possibilidade de existirem seres extraterrestres inteligentes e disparou: ;Parece-me altamente improvável que a Terra seja o único planeta com vida;.

Com base nas últimas descobertas da ciência espacial, o senhor acredita ser real a possibilidade de o Universo abrigar vida?

Parece-me altamente improvável que a Terra seja o único planeta com vida. Nesta galáxia (a Via Láctea), há cerca de 200 bilhões de estrelas, e uma fração enorme delas podem ter planetas. Os ingredientes básicos para a vida estão em todos os lugares (muitos dos compostos são feitos em densas nuvens moleculares interestelares). Planetas habitáveis são provavelmente comuns, e me parece bastante provável que a vida surgirá em qualquer lugar, assim como na Terra.

O senhor imagina que possa existir uma forma de vida totalmente diferente da conhecida por nossa ciência?
Definitivamente. Em qualquer lugar a vida não precisa ser como na Terra. É provável que ela use muitos dos mesmos elementos químicos que existem em qualquer lugar no Universo, mas pode usá-la de um modo muito diferente.

Quão distante estamos de detectar vida fora da Terra?
Isso depende tanto do Universo como de nossa habilidade em explorá-lo. Por exemplo: se há vida em Marte hoje, acho que a encontraríamos dentro de algumas décadas. Se não há vida lá, poderemos ter a certeza disso muito depois de descobrirmos outros seres vivos além da Terra.

Qual é a possibilidade de encontrarmos seres inteligentes? É uma utopia ou algo plausível?

A vida inteligente além da Terra é, definitivamente, uma possibilidade. Mas não há forma de se prever quando ou se a descobriremos. O desconhecido nesse caso envolve não apenas a biologia extraterrestre, mas também a sociologia extraterrestre. Até que ponto outra civilização inteligente escolheria se comunicar conosco ou seria capaz disso? Poderíamos detectar seus sinais? Isso torna a questão de como ou quando descobriremos vida extraterrestre inteligente impossível de responder. Mas uma coisa sabemos: se não procurarmos, não saberemos. (RC)

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