Agência France-Presse
postado em 08/12/2010 19:23
Cancún (México) - Os países da ALBA (Aliança Bolivariana das Américas) chegaram à cúpula sobre o clima de Cancún dispostos a não permitir que as nações ricas façam e desfaçam a bel-prazer, depois de terem se negado a adotar, há um ano, o acordo não vinculante negociado por um punhado de chefes de Estado em Copenhague."Vamos à batalha para salvar a vida, fazendo respeitar o Protocolo de Kioto", anunciou o presidente boliviano, Evo Morales, cuja chegada a Cancún (México) é aguardada para quinta-feira.
"Não é verdade que os países da ALBA bloqueiam a reunião", disse, por sua vez, o presidente do Equador, Rafael Correa. "Quem está boicotando a cúpula são países desenvolvidos", acusou. "Copenhague não fracassou por causa da ALBA, fracassou pela prepotência e a posição hegemônica de alguns países", acrescentou.
A ministra de Meio Ambiente do Brasil, grande aliado do eixo bolivariano, reconheceu que as posições não são tão inflexíveis como alguns acreditam. "Querem negociar, querem se sentar à mesa e fazer o trabalho necessário para obter um resultado", afirmou a ministra Izabella Teixeira após uma reunião com eles, que qualificou de "muito positiva".
"É muito importante manter um diálogo aberto e o grupo da ALBA é parte deste processo", insistiu a ministra, reforçando ainda a necessidade de que a negociação se desenvolva de forma inclusiva.
Desde o início da conferência de Cancún, os participantes da Aliança Bolivariana das Américas, integrada por Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua, Venezuela e outras três ilhas do Caribe, reiteraram o temor de que os países ricos forjem um acordo em reuniões restritas e queiram depois impô-lo aos demais mediante incentivos financeiros.
O embaixador boliviano na ONU, Pablo Solón, denunciou que os Estados Unidos retiraram do Equador e da Bolívia US$ 3 milhões de financiamento climático em abril passado como resultado de sua negativa em assinar o Acordo de Copenhague.
"Isto confirma o que sempre dissemos (...) Esta não é uma negociação climática, é uma imposição. Não podem nos comprar", disse Solón. No entanto, apesar das dificuldades, os países da ALBA asseguraram que não deixariam as negociações. "Nunca nos fecharemos a nenhum tipo de negociação", afirmou Solón.
"As posições dos nossos países não se vendem, não há dinheiro no mundo que compre uma decisão por parte dos países da ALBA que pode significar a morte de nenhum humano sobre este planeta", coincidiu a delegada da Venezuela, Claudia Salerno.
Denunciando um "golpe de Estado à Carta das Nações Unidas", os representantes de Bolívia, Cuba e Venezuela foram protagonistas de uma tragédia diplomática na interminável última noite de Copenhague, que ameaçou terminar em desastre o acordo negociado por um grupo de chefes de Estado.
A negativa da ALBA em adotar esse documento incomodou alguns países europeus como Espanha e Grã-Bretanha, que expressaram publicamente a desaprovação.
Agora, alguns consideram que as nações do eixo bolivariano podem estar entrincheiradas em posições intransigentes que impedem o progresso da negociação.
"A Bolívia está mantendo posições muito distantantes das do resto dos atores, o que torna difícil construir um consenso", considerou a secretária de Estado espanhola de Mudanças Climáticas, Teresa Ribera.
"Seria muito triste que uma cúpula que se realiza na América Latina encontre em países da América Latina o obstáculo para seu sucesso", acrescentou.