postado em 14/12/2010 08:00
No Brasil morrem, por ano, 5,3 mil crianças, vítimas de acidentes. Outras 137 mil vão parar no hospital devido a quedas, arranhões e traumas, sendo que a maioria desses episódios ocorre dentro de casa. Os chamados acidentes domésticos são a principal causa evitável de morte de crianças com menos de 13 anos no país. Com a chegada das festas de fim de ano, os presentes e a decoração festiva merecem atenção extra dos pais, pois podem se tornar perigosos para os filhos. Um brinquedo com peças pequenas, um pisca-pisca com o fio exposto ou uma bicicleta usada sem equipamentos de segurança podem transformar o Natal em uma data triste.O pediatra Aramis Lopes Neto, diretor do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), alerta que o principal risco pode estar justamente na parte preferida das festividades de fim de ano para muitas crianças: os presentes. ;Em geral, as crianças acabam recebendo muitos presentes. Se eles não estiverem de acordo com as normas de segurança para cada idade, podem causar sérios problemas;, aponta.
O especialista explica que o perigo de acidentes é potencializado quando a origem do brinquedo não é conhecida. ;É importante que os pais evitem comprar brinquedos cuja origem não é conhecida, como em camelôs. Antes de deixar a criança brincar, é importante observar se o produto possui o selo do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Esse selo atesta que o brinquedo passou por testes e garante a segurança;, completa o pediatra. ;Mesmo que a criança ganhe o objeto de algum parente, é importante que os pais só a deixem brincar depois de observar esses aspectos;, ressalta.
Para a coordenadora de Mobilização da ONG Criança Segura, Jaqueline Magalhães, os riscos que envolvem as festas de fim de ano são diferentes de acordo com a idade. ;Para os mais pequenos, de até 3 anos, o perigo maior é de asfixia, já que nessa idade as crianças tendem a colocar tudo o que encontram na boca;, explica. Portanto, nesse período, bolinhas de Natal, pequenos enfeites e brinquedos com peças pequenas devem ser evitados, especialmente por quem tem criança nessa faixa etária.
A partir dos 4 anos, a criança já corre e brinca de maneira mais independente, e, portanto, está mais exposta a quedas. Dos 8 anos em diante, o risco está relacionado a brinquedos mais tecnológicos. ;Nessa idade, as crianças já ganham eletrônicos e outros aparelhos que são ligados na tomada. Por isso, cresce o risco de choques e queimaduras;, completa Jaqueline.
Skate
A segurança de João Pedro, 10 anos, é uma das principais preocupações da mãe do garoto, a farmacêutica Cláudia Melo, 39. A atenção não impediu, no entanto, que a família passasse por um susto alguns anos atrás. ;Quando ele tinha 3 anos, acabou engolindo um lacre desses que vêm em tampas de enlatados;, lembra a mãe. ;Foi uma confusão. A sorte é que, como sou profissional de saúde, consegui controlar o desespero de mãe para resolver a situação, e não precisamos ir ao hospital;, conta a farmacêutica, que depois do episódio redobrou os cuidados.
Hoje, como toda criança de sua idade, João Pedro não para quieto. Brinca, corre e pula o dia todo. Na lista de pedidos de Natal, brinquedos próprios da idade. ;Quando ele ganhou um par de patins, já fiquei preocupada. Agora ele está me pedindo um skate, mas eu estou reticente em dar, acho muito perigoso. Tenho medo de que ele se machuque;, afirma a mãe. ;Mas eu já sei andar;, argumenta o garoto, enquanto se equilibra com facilidade em cima dos patins.
A preocupação de Cláudia é justificada por especialistas. Segundo Aramis Lopes Neto, na idade em que o garoto se encontra, os casos mais comuns de acidente são por causa de quedas. ;Criança nessa idade adora presentes como patinetes, skates, patins e bicicletas, e muitos pais deixam essa época de Natal para presenteá-los;, afirma. ;Quando ganham, eles não esperam duas vezes. Mesmo sem saber se equilibrar muito bem, já vão logo subindo e começando a brincar;, completa o pediatra.
O resultado muitas vezes não é tão divertido quanto ganhar um presente de Natal. Nesta época do ano, segundo o pediatra, aumenta a frequência nos pronto-socorros de crianças com braços e pernas quebrados. ;Se a criança não tiver cuidado e os pais não ficarem atentos, um tombo mais feio pode resultar em algo mais grave, como um traumatismo craniano;, alerta o especialista.
Segurança
A solução nesses casos, além de manter a vigilância sobre os filhos, pode ser bastante simples. ;Quando der para uma criança esse tipo de presente, é importante dar também equipamentos de segurança;, ensina Jaqueline, da Criança Segura. ;Assim, você diminui muito a possibilidade de essas quedas, que são completamente normais e naturais, terem uma consequência grave.;
A atenção com o tipo de brincadeiras dos filhos sempre foi constante para Jorgina Martins, 36 anos, mãe de Artur, 9, e Ingrid, 12. ;Quando meus filhos eram pequenos, eu tinha que ficar sempre de olho. Criança é muito curiosa, então, um minuto que se desvia a atenção eles podem aprontar alguma;, afirma. Agora que os filhos estão mais velhos, a atenção mudou de foco, mas não diminuiu. ;Eles querem brincar na rua, onde o risco de acidente é grande;, conta a mãe. Sobre o risco nas festas de fim de ano, a mãe tem a sua fórmula: ;Só deixo eles brincarem com jogos feitos para a idade deles. Acho que isso, somado à constante atenção no que eles andam fazendo, já é suficiente para mantê-los protegidos;, conclui.
Teste
O pediatra Aramis Lopes Neto indica um teste simples para os pais saberem se os brinquedos dos filhos são pequenos demais: ;Basta utilizar como referência um daqueles rolinhos de papelão que vêm no papel higiênico;, ensina o médico. ;Ele é mais ou menos do diâmetro da garganta de uma criança. Por isso, se o brinquedo passar por ele, é sinal de que é pequeno demais e pode ser engolido;, afirma. ;Caso contrário, o tamanho é seguro. Se não houver nenhum risco de alguma peça se soltar, ele pode ser liberado para os menores;, completa.
Afogamentos
Para quem vai aproveitar o verão em praias e clubes, um alerta especial. ;Em janeiro, aumentam os casos de afogamentos. Portanto, além de ficar de olho, os pais devem manter os filhos sempre com coletes salva-vidas;, explica Jaqueline Magalhães, da ONG Criança Segura. ;Isso evita que, caso a criança escape dos olhos dos pais por um minuto, haja risco de um acidente mais grave, já que, com os pequenos, todo cuidado é pouco.;
CADA IDADE, UM PERIGO
Até 4 anos
; Principais riscos: Nesta fase, a criança tende a colocar na boca tudo o que encontra. Por isso peças pequenas podem causar asfixia. O desenvolvimento do equilíbrio e da força nos braços ainda está começando. Assim, afogamentos em banheiras e baldes também são frequentes
; Cuidados: A dica é evitar que a criança permaneça sozinha, especialmente durante os banhos, além de não deixar que ela brinque com objetos pequenos
4 a 8 anos
; Principais riscos: A curiosidade está cada vez mais intensa, por isso crianças nessa idade sofrem um risco maior de choques e queimaduras causadas por aparelhos eletrônicos. Na cozinha, panelas e materiais de limpeza também representam risco de queimaduras e envenenamentos
; Cuidados: Vale conversar e explicar sobre os perigos. Embalagens em lugares altos e cabos de panelas protegidos também garantem mais segurança
8 a 13 anos
; Principais riscos: Quedas são o perigo mais eminente. Skates, bicicletas e patins podem custar braços e pernas quebrados. Aparelhos de beleza, como chapinhas e secadores, também podem causar choques e queimaduras
; Cuidados: Se der biciletas, patins ou skate de presente, dê também protetores, como capacete e joelheiras. Acompanhe a criança quando ela for usar equipamentos que funcionam com eletricidade, e oriente-a para nunca utilizá-los com o corpo molhado ou descalça