Os mosquitos Aedes já são velhos conhecidos dos brasileiros por serem transmissores de doenças como a dengue ; que afeta 300 mil pessoas por ano no país ; e a febre amarela. Este ano, no entanto, os cuidados contra os insetos devem ser redobrados, já que uma nova enfermidade ameaça circular pelo Brasil: a chikungunya. Em 2010, três casos do mal, comum em países da África e da Ásia, foram registrados em território nacional. Segundo o Ministério da Saúde, que prepara uma série de medidas para impedir a circulação do vírus causador da doença, o momento não é para pânico, e sim para cuidado. O melhor método de prevenção é o combate aos focos do mosquito, aplicando a velha receita de não deixar água parada onde ele possa deixar seus ovos.
Os três casos registrados neste ano, todos no segundo semestre, foram ;importados;, ou seja, afetaram pessoas que se infectaram durante viagens ao exterior, mas só apresentaram os primeiros sintomas depois de voltarem ao Brasil. Por isso, pode-se dizer que a doença ainda não circula pelo país. ;No entanto, medidas de prevenção devem ser tomadas, já que, se ela conseguir entrar no Brasil, a circulação não será difícil;, explica o pesquisador do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade de Brasília Pedro Tauil.
Apesar de ter o mesmo transmissor, a doença apresenta algumas diferenças em relação à dengue. A principal é que ela não costuma provocar náuseas e enjoos. ;O principal sintoma da chikungunya são dores muito fortes nas articulações;, conta Tauil. Segundo o especialista, outros sintomas são semelhantes, como febre alta e repentina, dores no corpo e dificuldades de dormir.
Na opinião de Tauil, o fato de as doenças serem comuns em países pouco visitados pelos brasileiros deve ajudar seu controle ; os três pacientes brasileiros que manifestaram a doença haviam viajado para a Índia e a Indonésia. ;Não temos uma entrada muito grande de pessoas vindas desses países, por isso não é preciso alarde;, opina. Além disso, as casas dos três pacientes, em São Paulo e no Rio de Janeiro, foram visitadas assim que foi detectada a doença, e todos os possíveis focos do mosquito vetor foram destruídos.
Calor
O risco, no entanto, é potencializado no período do verão. Nesta época, as chuvas mais frequentes facilitam a proliferação do Aedes aegypti e de seu primo, o Aedes albopictus, menos comum no país, mas com a mesma capacidade de transmitir a dengue, a febre amarela e a chikungunya. Ao mesmo tempo, no período de férias, o número de pessoas que viajam para o exterior cresce, assim como aumenta o número de turistas estrangeiros. Portanto, até março, a atenção para a prevenção deve ser redobrada.
Atualmente, apenas um laboratório brasileiro tem capacidade de confirmar os casos de chikungunya: o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. As técnicas de detecção são semelhantes às utilizadas para o vírus da dengue. Para enfrentar uma possível epidemia no país, o Ministério da Saúde pretende descentralizar esse diagnóstico, capacitando laboratórios em outros estados para realizarem exames e produzirem soros contra a doença.
O problema é que o país não possui amostras suficientes do vírus para botar em prática esse tipo de projeto. A solução encontrada foi a importação de amostras dos Estados Unidos. ;O governo americano já autorizou o envio das amostras;, explica Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, pesquisador do IEC, parceiro do Ministério da Saúde na capacitação dos laboratórios para a detecção da doença.
O ministério prepara cartilhas para fornecer à rede do Sistema Único de Saúde (SUS) para ajudar os profissionais de saúde a identificarem possíveis casos da doença. ;Mais do que se preocupar, o importante é que a população adote medidas de prevenção contra o Aedes aegypti;, explica Giovanini Coelho, coordenador do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde.
Os especialistas lembram ainda que pessoas que viajarem para regiões do sudeste asiático ou para a África e que até uma semana após o retorno apresentem os sintomas da chikungunya devem procurar atendimento com urgência. ;A chikungunia é uma doença de letalidade praticamente zero, com pouquíssimos casos de óbitos associados a ela, mas o tratamento deve ser o mais cedo possível, assim que detectada a doença;, ressalta Pedro Tauil, da UnB.