Ciência e Saúde

Comum em gripes e resfriados, a obstrução nasal merece tratamento especial

postado em 24/12/2010 08:00

Wellington da Silva, que há dois anos teve o desvio de septo corrigido em cirurgia, é examinado pelo médico Jaime SiqueiraRespirar é tão natural para o ser humano que mal nos damos conta de que essa é uma atividade constante, praticamente ininterrupta. Isso, é claro, para aqueles que não têm qualquer obstrução nasal e estão livres de impedimentos que dificultam a entrada de ar pelo nariz. Para os indivíduos que sofrem bloqueios, causados pelos mais diversos problemas, no entanto, absorver o ar pelas vias nasais não é fácil, exige esforço extra. A boca acaba sendo a única alternativa para a entrada de oxigênio nos pulmões, o que, inevitavelmente, desencadeia outras disfunções no organismo.

O incômodo pode ser causado por alterações anatômicas naturais ou provocado por traumas, por processos alérgicos ou infecciosos, por malformações, por tumores e até por corpos estranhos. Doenças virais, como gripes e resfriados, também desencadeiam, ainda que de forma passageira, a dificuldade em respirar pelo nariz.
Especialistas explicam que o distúrbio pode acometer tanto as crianças quanto os adultos. Na infância, as causas mais frequentes são a rinite alérgica e a hipertrofia das adenoides. ;A rinite alérgica provoca a irritação nas conchas nasais. Essas estruturas servem para aquecer e umidificar o ar. Com a alergia, as conchas incham, ocupando toda a narina e impedindo a passagem do ar;, pontua o otorrinolaringologista Jaime Siqueira.

De acordo com o médico, a obstrução nasal é mais comum do que se imagina em crianças e acarreta, inclusive, dificuldades de aprendizagem. ;O problema impede o sono tranquilo e restaurador. A criança precisa empenhar muito mais energia para prover o organismo de oxigênio. Cansada, não consegue se concentrar na escola e nas atividades que são propostas a ela ao longo do dia;, lembra Jaime.

A garotada com obstrução nasal também corre o risco de desenvolver danos musculoarticulares da região bucal. Quando não tratada, a mazela compromete totalmente a qualidade de vida do paciente, já que os músculos da face tornam-se flácidos e a boca fica aberta constantemente. ;É um ciclo. A flacidez faz com que os pequenos respirem ainda mais pela boca, perdendo a força para mastigar alimentos mais sólidos. A respiração oral altera também a sucção, além de provocar modificações na arcada dentária, como queixo para trás, céu da boca estreito e profundo. A audição também pode ser comprometida;, observa a otorrinolaringologista Maria Cristina Teixeira.

Cirurgia

Nos adultos, as rinites crônicas e os desvios de septo são as causas mais frequentes de obstrução nasal. No entanto, todas as queixas devem ser investigadas porque, além do desvio, podem ocorrer fatores simultâneos que impedem a passagem do ar. Não é raro que os pacientes sofram também de rinite. ;Temos casos de pacientes que chegam absolutamente dependentes de descongestionantes nasais. A avaliação médica é sempre muito importante porque é por meio dela que propomos o tratamento adequado;, explica Jaime.

No caso da rinite alégica, é necessário identificar os fatores que detonam o processo da alergia. ;A terapia pode ser medicamentosa em momentos de crise, mas o tratamento com um alergista é imprescindível. Para o desvio, a indicação é cirúgica. Tem ótimos resultados e um pós-operatório tranquilo;, acrescenta o médico.

O auxiliar de administração Wellington Pereira da Silva, 29 anos, sofria com a obstrução nasal desde a infância. O desvio de septo foi diagnosticado quando ele tinha 7 anos, mas por diversas razões, inclusive o medo da cirurgia, o procedimento foi adiado até 2008. Wellington lembra que também é alérgico e que o nariz estava sempre obstruído. ;Eu só conseguia respirar pela boca. A obstrução me impedia de dormir, eu não fazia atividade física porque me faltava ar e vivia cansado. Também não conseguia me concentrar e estava sempre com dor de cabeça. O problema, é claro, me prejudicava na vida profissional;, lamenta.

Wellington considera que renasceu depois da cirurgia. ;Minha vida mudou. Até minha entonação de voz é outra. Lembro dos velhos tempos apenas quando pego uma gripe forte. Logo depois da cirurgia, acordava no meio da noite e inspirava o ar com toda energia. A sensação de respirar bem é indescritível. Hoje, consigo até jogar futebol, atividade que nunca consegui fazer quando menino;, comemora.

O professor e filósofo Vitélio Pasa vinha acompanhando com preocupação a dificuldade de sua filha em respirar. A pequena, hoje com 8 anos, tinha hipertrofia na adenoide e desvio de septo. ;Consultamos quatro especialistas e a cirurgia foi indicada por todos eles. Um dos médicos nos alertou que possivelmente a operação necessitará ser refeita quando ela tiver 18 anos. Mas colocamos os prós e contras na balança e optamos por livrar nossa menina do sofrimento. Não queríamos que Mikaela sofresse por mais 10 anos respirando pela boca;, explica. ;O pós-operatório foi muito tranquilo e ela está muito bem;, diz.

Os pais devem ficar atentos aos sinais da obstrução. ;Preste atenção se a criança dorme com a boca aberta, ronca ou baba durante o sono. Outros indícios estão ligados ao sono agitado, olheiras, diminuição de olfato e paladar, sonolência ou agitação durante o dia;, alerta a otorrinolaringologista Maria Cristina Teixeira. A médica acrescenta que é comum as crianças introduzirem objetos no nariz. ;Caroços de arroz e feijão, pecinhas de brinquedos, massa de modelar são comuns. Com os pequenos, todo cuidado é pouco;, lembra.

Tecido linfático

A adenoide é um tecido linfático localizado no segmento superior da faringe. Com as amígdalas palatinas, ela faz parte do sistema de defesa do organismo. Nas crianças, o crescimento exagerado da adenoide pode obstruir as vias nasais e impedir a respiração normal.

SAIBA MAIS

Radiografia dos danos provocados pela obstrução nasal

Mandíbula ; Quando a criança deixa de respirar normalmente, a pouca pressão do ar no nariz faz com que o céu da boca fique alto. Por isso, os dentes ficam projetados para a frente, provocando a má-formação da mandíbula.

Raquitismo ; As dificuldades para mastigar e respirar ao mesmo tempo pela boca provocam falta de apetite. Sem sentir o cheiro dos alimentos, a criança não tem motivação para comer.

Sinusite ; Inflamação dos seios paranasais. Com a obstrução nasal, a secreção produzida nas fossas nasais fica acumulada formando um foco para bactérias. Por isso, há sempre o risco de infeccionar a região paranasal.

Audição ; O ar que entra pelo nariz equilibra o tímpano ; membrana que divide o ouvido interno do externo. Sem esse equilíbrio, a criança pode ter permanentemente dor, otites de repetição, dificuldade auditiva, etc.

Fonte: Hospital Santa Lúcia

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