postado em 04/01/2011 08:00
Quando James Lovell, capitão da nave Apollo 13, que em 13 de abril de 1970 fazia a terceira missão tripulada da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) com destino à Lua, anunciou pelo rádio ;Houston, nós temos um problema;, começava uma crise de vida ou morte, que viria a colocar o próprio programa espacial em risco. Uma explosão no módulo de serviço da nave levaria os três astronautas da Apollo 13 a uma verdadeira saga para salvarem suas vidas. O drama de Lovell e de seus dois colegas, Fred Haise e John Swigert, tornou-se um dos episódios mais emocionantes da aventura humana no cosmos e marcou o início de uma crise de identidade nos programas espaciais. Impunha-se uma reflexão: valia a pena ir tão longe?
Se dois anos antes da explosão na nave americana a humanidade já havia parado diante da tevê para comemorar a chegada de Neil Armstrong à Lua, agora o mundo voltava seus olhos novamente para uma nave Apollo. O drama da tripulação, que lutava pela vida em uma pequena espaçonave avariada, quase sem energia, água ou oxigênio, fez pessoas de todo o mundo mais uma vez prenderem a respiração e torcerem freneticamente pelos três astronautas (veja infografia).
Coube à equipe composta pelo experiente comandante Alan Shepard, primeiro norte-americano a ir ao espaço, em 1961, e pelos astronautas estreantes Edgar Mitchell e Stuart Roosa a missão de realizar o que o trio da Apollo 13 não conseguiu: pousar na região de Fra Mauro, na Lua, para a primeira missão científica no satélite natural da Terra. ;As missões anteriores foram para cuidar dos aspectos operacionais da exploração lunar, como aterrissagem e saída em segurança. Minha missão foi a primeira científica, para fazer coletas geológicas no satélite;, contou Edgar Mitchell ao Correio (leia entrevista).
Gastos estratosféricos
Apesar do sucesso da missão de que Mitchell participou, que pousou na Lua em 5 de fevereiro de 1971 e durante 32 horas realizou experimentos em ambiente lunar, a opinião pública americana já não concordava plenamente com as altas despesas ; estima-se que a Nasa gastou US$ 100 bilhões apenas no programa Apollo ; e com os enormes riscos das missões lunares.
No início dos anos 1970, as agências espaciais tiveram que começar a se restruturar. Aos poucos, a demonstração de poder, típica da Guerra Fria, foi dando lugar a explorações científicas e tecnológicas. Até que, em 1972, o então presidente americano Richard Nixon decretou o fim das missões lunares, iniciando um hiato da presença humana na Lua que já dura 38 anos.
Se, por um lado, a mudança de direcionamento das agências espaciais ; não só a Nasa ; impediu que o homem voltasse à Lua, por outro, o redirecionamento dos programas de exploração abriu espaço para a produção de um conhecimento aparentemente mais útil à população. Satélites meteorológicos e de telecomunicações que começaram a ser desenvolvidos naquele período resultaram na tecnologia utilizada até hoje. ;Atualmente, nosso programa espacial é baseado em projetos que incluem sistemas que servem para monitorar o transporte, a agricultura, a água e o manejo florestal;, explica Alexey Korosteliov, chefe de Cooperação Internacional da Roscosmos ; a Agência Espacial Russa. ;Assim, ao mesmo tempo, desenvolvemos instrumentos para a exploração espacial e fornecemos dados para outras áreas da economia;, completa.
Antes que o último passo em solo lunar fosse dado, em 14 de dezembro de 1972, o capitão da Apollo 17, Eugene A. Cernan deixou uma placa no solo lunar, com uma inscrição representando o desejo da humanidade: ;Aqui, os homens completaram sua primeira exploração da Lua. Possa o espírito de paz no qual viemos refletir-se na vida de toda a humanidade;.
Três perguntas para - Edgar Mitchell, Sexto homem a pisar na Lua
O sonho com Marte
Há 30 anos, o homem não volta à Lua. Em sua opinião, por que esse hiato esta sendo tão longo?
Há problemas de financiamento. Quando John Kennedy, presidente dos EUA na década de 1960, anunciou as missões para a Lua, ele não queria que os Estados Unidos ficassem atrás na corrida espacial. Depois da sexta missão Apollo, porém, a população e o Congresso não queriam mais financiar o programa, o que fez com que ele fosse cancelado. Mas acredito que nós voltaremos à Lua. Esse é o nosso destino. E vamos ter que aprender a fazer isso com fontes sustentáveis. Estamos usando excessivamente os recursos da Terra, então, se quisermos voltar lá, teremos que fazer isso de maneira mais equilibrada.
Valentina Tereshkova, a primeira mulher a ir para o espaço, disse recentemente que gostaria de visitar Marte, mesmo que não pudesse voltar de lá. Se tivesse oportunidade, o senhor gostaria de participar de outras missões?
Há conversas sobre desenvolver atividades para ir tanto para Marte quanto para a Lua, para estabelecer uma colônia ou uma estação científica. Isso pode ser feito, e uma das formas é por meio de uma viagem só de ida para Marte, para colonizar o planeta e começar a desenvolver uma civilização lá. Isso pode acontecer no futuro, mas não acredito que estejamos prontos para fazer isso ainda. Ainda não temos a habilidade, todas as coisas necessárias para fazer isso. Mas tenho certeza de que isso vai acontecer em um momento oportuno. As pessoas me faziam essa mesma pergunta e eu respondia: ;Com certeza, mas vou esperar até ter 100 anos;. Portanto, considerando a minha idade (hoje, 80 anos) talvez eu vá ao espaço em breve (risos).
Mas o senhor crê que, mesmo com os recentes cortes de verba, o programa espacial americano deve conseguir voltar à Lua e chegar a Marte?
Sim, ele está se desenvolvendo mais devagar no momento, por causa do colapso econômico global, que causou recessão em todo o mundo, mas está progredindo. Temos que recuperar o sistema econômico para voltar a desenvolver projetos espaciais. Mas, com certeza, teremos mais projetos espaciais funcionando e vamos para Marte em algum momento, embora eu ache que ainda temos que amadurecer como civilização antes de fazer isso. China e Índia expressaram interesse nas atividades espaciais. Espero que todos esses países trabalhem junto com os EUA, como uma civilização global indo para o espaço, em vez de fazer isso separadamente.
;Por meio de vocês, nos sentimos como gigantes. Mais uma vez;.
Ronald Reagan, presidente norte-americano em 1981, para a tripulação do ônibus espacial Columbia, após a primeira viagem ao cosmos com um veículo reutilizável.